Um mercado pequeno, mas duradouro. É assim que o produtor João Augusto, proprietário da gravadora Deckdisc, define o futuro dos discos de vinil.

Hoje, sua paixão pelas bolachas extrapola os limites de seu paladar de audiófilo exigente. Vinil, pra ele, virou um negócio, desde que adquiriu, no início de maio, a fábrica Polysom, em Belford Roxo (na Baixada Fluminense).

Rápido parêntese pra explicar a situação em que se encontrava a Polysom. Funcionando em condições precárias desde 1999, a única fábrica de vinis da América do Sul foi forçada a fechar as portas em outubro de 2007, atolada em dívidas causadas pela má administração inerente a um negócio que nunca chegou a ser encarado como um business de verdade.
 
Produzido em situações precárias, o vinil que saia dali também era tido no mercado como um produto de qualidade questionável. “A maioria dos discos fabricados na Polysom eram de má qualidade, corriam na vitrola”, diz João Augusto em entrevista ao Virgula.

Entre outras novidades, ele adiantou que a nova fábrica, que talvez precise mudar de nome para Nova Polysom, por conta de problemas de registro, começa a soltar fornadas de bolachas ainda neste semestre, por cerca de R$ 60 a unidade. E que a qualidade será prezada acima de tudo. “Nosso compromisso é fazer um produto com a mesma qualidade dos vinis fabricados no exterior”, garante. Leia, a seguir, a entrevista completa.

Virgula – Visitei a fábrica em 2002 e vi que ela só se sustentava pela paixão dos funcionários. Você vai mexer na equipe?
   
João Augusto – Os cabeças da Polysom vão continuar lá. Mas agora com o auxílio de profissionais qualificados. Chegou uma época em que eles tinham tanta produção que podiam se dar o luxo de administrar mal. E ficaram totalmente inviabilizados. Nós compramos os débitos deles, e os mantivemos lá. Chamei um grande amigo, o Osvaldo Vidal, pra conduzir o projeto. Ele montou uma equipe de gente  muito apaixonada por vinil.

Virgula – Em que pé está a reforma?
   
João Augusto – A obra já começou e dá pra acompanhar todas as novidades no nosso Twitter. Quereremos soltar os primeiros vinis logo mais neste semestre.

Virgula – Você acha que o mercado de vinil é viável hoje?
   
João Augusto – O mercado é perene na pequenez dele. Estou lutando pra que algumas empresas comecem a importar toca-discos. Eu não vou fabricar toca-discos, mas é preciso que alguém se mexa pra agitar o mercado, nem que seja pra importar. O problema maior deste mercado, como de tantos outros, é a alta carga tributária, que chega a quase 40%. Nossa tentativa é conseguir vender vinis a R$ 60. Mas, se não tivesse imposto, sairia por R$ 30, imagina…

Virgula – Qual será a relação da Polysom com a Deckdisc?
   
João Augusto – A Deck vai ser tão cliente da Polysom quanto as outras empresas. Vamos entrar na fila assim como os outros vão. A Polysom será a única fábrica de vinis da América Latina. Então a gente nunca poderia exercer esse tipo de individualismo. Já tem uma fila grande de pedidos, inclusive de gravadoras como a EMI e a Sony.

Virgula – Como vocês vão garantir a qualidade do vinil?
   
João Augusto – Trouxemos profissionais que atuaram à frente das grandes fábricas brasileiras para formar a equipe. Funcionários antigos, como o William, responsável pelo corte que nunca teve um treino formal, terá como “coach” o Osvaldo Vidal, um profissional que foi durante 30 e poucos anos diretor de fábrica. Outra questão é que tudo vai funcionar meticulosamente. A ideia é que o ambiente da fábrica se pareça com um box de Fórmula 1 no que diz respeito a normas a serem seguidas. Esse é o nosso compromisso. 

Virgula – É inegável que uma fábrica de vinis tem um potencial altamente poluente. Vocês estão preocupados com essa questão?
   
João Augusto – Hoje no Rio de Janeiro temos uma Secretaria de Meio Ambiente que é muito atuante. Eu vou cumprir todas as normas exigidas, a fábrica vai ser ecologicamente correta. Tudo vai funcionar dentro das normas, caso contrário nem me meteria a abri-la.

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Fábrica de vinis promete discos com alto padrão de qualidade