Se o acaso traz sorte, para a trajetória de Fernando Andrade fez mais que isso: originou um filme. Sem planejamento meticuloso, o diretor paulista de 28 anos gravou Coração Vagabundo, documentário que está nos cinemas há uma semana e acompanha Caetano Veloso durante uma turnê nos Estados Unidos e Japão.

Quando tinha 24 anos, Fernando terminou seu primeiro curta-metragem profissional (chamado De Morango) e mandou para trinta produtores de cinema. “Apenas Paula Lavigne me respondeu e me chamou para dirigir o clipe Você Não me Ensinou a te Esquecer“, recorda-se. Depois disso, foi chamado para fazer making of do show que Caetano Veloso fazia para o disco A Foreing Sound, de 2004. Então, viajou para registrar a etapa internacional da apresentação e terminou com tantas horas de material que tinha o suficiente para um documentário.

Coração Vagabundo é feito de Caetano Veloso respondendo a perguntas de Fernando Andrade numa edição concisa, entrecortada com poéticas imagens dos lugares onde o cantor passou. Em entrevista ao Virgula, Fernando respondeu que registra Caetano Veloso como sempre lhe pareceu, “bem humorado, divertido e totalmente de bem com a vida”. Nesse aspecto, a doce narrativa do documentário é reflexo perfeito das intenções do diretor. Retrato de como Caetano Veloso define suas pretensões: “Sou do Sol, quero ser lúcido e feliz”.

Já estavam planejadas as cenas que retratam as cidades? Como as gravações nos trens, nos metrôs… Eram “planos” que você já imaginava?

Nada foi planejado, as coisas foram acontecendo. Fui me guiando pela emoção, em especial pela fala em que Caetano diz: “É que eu sou de Santo de Amaro, cresci em Santo Amaro até os 18 anos, não sou um cara de São Paulo”.  Achei interessante o fato de um grande músico brasileiro estar fazendo sucesso no exterior cantando em inglês e ao mesmo tempo não se sentir totalmente à vontade com isso, por vir de uma cidade pequena.

Qual foi a intenção de começar o filme com a vaia que o Caetano tomou com Proibido Proibir, em 1968?

A idéia foi pontuar o fato que 35 anos atrás Caetano estava sendo vaiado em São Paulo por – segundo ele diz no filme – incorporar influências do rock. Trinta e cinco anos depois, ele está lançando um disco totalmente em inglês com uma música do Nirvana, no bar Baretto do Hotel Fasano – um dos lugares mais balados de São Paulo. Essa ironia é super interessante e é o ponto de partida da viagem cultural do filme.

Em certo momento Caetano Veloso se diz triste com a vida íntima. Você entrou nesse assunto e escolheu deixar de fora do documentário?

Quando você faz um filme, escolhe para que lado quer apontar sua lente. A minha foi apontada para intimidade profissional e artística. Ainda sim, tem momentos em que é impossível que outras questões relevantes a ele não apareçam.

Não teve vontade de expor mais o traço “bom de briga” da personalidade de Caetano Veloso?

Ao contrário. Todo mundo já sabe o quanto Caetano é articulado e defende com vigor e precisão os seus pontos de vista. Mas a ideia do Coração Vagabundo é uma viagem com um amigo, em que Caetano esteja como ele me pareceu sempre ser. Bem humorado, divertido e totalmente de bem com a vida.

Há pretensão de lançar um DVD com cenas cortadas do filme?

Sim, ele vai ser lançado em dezembro, com muitas novidades. Entre elas, o show do Baretto na íntegra, sendo o único registro filmado do álbum A Foreing Sound.

Visite o blog de Coração Vagabundo e confira o trailer abaixo:


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Fernando Andrade, diretor de Coração Vagabundo, fala ao Virgula do seu documentário sobre Caetano Veloso