José Vergílio, padre brasileiro que, no sábado, esteve em Albina, cidade surinamesa palco de uma verdadeira guerra entre os “marrons” (quilombolas surinameses) e brasileiros, revelou que a violência contra os imigrantes foi ainda pior do que davam conta as primeiras versões, sendo que ao menos sete pessoas teriam morrido. Uma lista oficial de vítimas deve ser divulgada neste domingo.

Ele confirmou que a violência começou na véspera de Natal, após um brasileiro ter assassinado um habitante local, possivelmente por conta de uma dívida durante uma festa que reunia mais de mil pessoas, sendo que, posteriormente, os estrangeiros foram atacados com paus e facões e ao menos 20 mulheres teriam sido violentadas.

Vergílio, que é o responsável pela mídia católica no Suriname, informou que mesmo os habitantes locais brancos corriam perigo. Já Liliane Rocha Sá, brasileira que vive no país, revelou que um grupo de 80 pessoas foi perseguido pelos moradores locais, armados com revólveres, paus, pedras e o que mais encontrassem pela frente.

Vergílio relatou que a situação “já estava minada há muito tempo, e um conflito pequeno” gerou a tragédia, com o ataque agregando mais de mil pessoas. O surinamês morto seria informante de grupo criminoso, informou ele, que disse ter estado em Albina para atender os brasileiros que estavam refugiados, seja em casa, seja no mato, antes de salientar que há um grupo grande de brasileiros que foi removido dos locais de confronto para Panamaribo.

Vergílio revelou ainda que os imigrantes estão contando com todo o apoio do governo, tanto do ministro da Defesa como do ministro da Justiça e da polícia, que trabalha neste momento para retirar todos os estrangeiros do local. Dentro das limitações de acesso e de informação, o Itamaraty está monitorando a situação e poderá interferir, explicou Vergílio.

Mais de 100 brasileiros, 30 chineses e alguns colombianos, peruanos e dominicanos estão feridos, alguns deles em estado grave. Os brasileiros (a grande maioria de Belém e de Marabá, além de outras cidades do sul do Pará) estavam muito bem integrados à economia local, uma vez que 90% dos trabalhadores viviam do garimpo e o restante trabalhava no comércio ao redor das áreas de exploração, ainda que algumas mulheres trabalhassem com a prostituição, aumentando ainda mais a concentração de pessoas na fronteira entre o Suriname e a Guiana Francesa.

A possibilidade de que o número de mortos seja maior é grande, tendo sido levantada pelos próprios moradores locais, e brasileiras que estão no hospital de Saint-Laurent du Maroni, cidade da Guiana Francesa que faz fronteira com Albina, garantiram que é grande a quantidade de compatriotas que ficaram queimados ou gravemente feridos no ataque.

Uma barreira feita pelos locais impede que muitas pessoas cheguem ao hospital, e diversos brasileiros podem estar escondidos nos matagais da região, e testemunhas contaram que os policiais pouco fizeram para impedir o ataque, que teria atingido ainda um grupo de chineses, que também trabalharia nos garimpos da região.

O embaixador José Luiz Machado e Costa revelou que a lista de vítimas será divulgada assim que as autoridades locais repassarem todos os dados, antes de informar que 180 brasileiros dormiam em um único galpão, exatamente aqueles que trabalham no garimpo, sendo que o número é apenas uma estimativa, pois grande parte da população da região é nômade, mudando de local de acordo com a produção do garimpo.


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"Guerra" no Suriname deixou 7 brasileiros mortos