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Durante a tarde e a noite de ontem (5), o Sesc Santo André reuniu um público que veio de muito longe para assistir aos cinco shows que comemoram os dez anos do Festival Dulôco.

Caravanas do Rio de Janeiro e de Curitiba agitavam os braços e esperavam ansiosamente não só pelas ótimas atrações nacionais – Pizzol, Pentágono, Inumanos + Max B.O e Contra Fluxo + Espião – como pela cereja do bolo: o show do rapper Mos Def, que chega ao Brasil para dois shows com a turnê de seu álbum mais recente, The Ecstatic.

Mesmo o festival não sendo na capital paulista, chegar até Santo André não se mostrou um impedimento para o público sedento de hip hop que esgotou em pouco tempo os ingressos para os dois dias de festival. Por volta das 16h30 da tarde, diversas pessoas esperavam na frente da porta do Sesc por alguém que pudesse ter ingressos sobrando ou à venda.

A expectativa era grande – a edição especial de dez anos do festival prometia uma comemoração em estilo, após conseguir trazer para o Brasil nomes como Talib Kweli, Pharoahe Monch, De La Soul, Jurassic 5, Hieroglyphics e Blackalicious.

Marcado para às 16h, o Indie Hip Hop só começou por volta das 19h, com a apresentação do rapper Pizzol. Com apenas 16 anos, lançou seu primeiro álbum, Pizzol 16 anos, pelo selo 360 graus, apadrinhado pelos veteranos DJ Caíque e Doncesão. A força de suas letras de protesto e a boa sincronia entre a performance de Pizzol, Doncesão, Ogi e Dj Caíque garantiram à apresentação uma força que conquistou a platéia, embora o show tenha sido muito curto.

O festival emendou logo em seguida a apresentação dos veteranos do Pentágono, que apresentam o repertório de seu segundo álbum, Natural, lançado no começo de 2009. O show do grupo é sempre conhecido por sua energia, mas a apresentação no Indie Hip Hop pareceu ser ainda mais intensa pela brevidade – o grupo não teve mais de meia hora no palco para soltar seu rap nervoso com influências do reggae e do drum ‘n bass.

O público respondeu com força ao rap do Pentágono, que deixou o palco com muitos agradecimentos para dar lugar à apresentação da parceria Inumanos + Max B.O, na primeira vez em que a dupla carioca e o MC se apresentam juntos ao vivo. Embora o show tenha trazido um pouco do melhor de cada um dos rappers, ficou faltando presença de palco e uma maior interação durante a apresentação – em alguns momentos, Max B.O praticamente fazia figuração no palco (por sorte, quando assumia o microfone, Max conseguia comandar a apresentação com carisma e competência).

A segunda parceria da noite trouxe Contra Fluxo e Espião, em uma apresentação que conseguiu fazer a platéia se animar devido à sincronia e força vocal do show. Deja Vu, Mascote, Munhoz, Ogi, DJ Big Edy e DJ Willian se uniram com precisão ao rapper Espião, em uma colaboração que começou com força no segundo álbum do grupo, na gravação de Alameda da Memória. O show foi uma excelente maneira de terminar o bloco de apresentações nacionais da noite, quando o público já gritava pela entrada do rapper Mos Def.

Um show de clássicos e muito amor pelo público brasileiro

Mos Def não se fez de rogado – assim que entrou no palco, já deixou claro que queria conquistar o coração dos manos e minas que se acotovelavam para vê-lo mais de perto no Sesc Santo André. O rapper iniciou seu show na bateria, e quando os primeiros acordes de Supermagic, de seu álbum mais recente, The Ecstatic, ecoaram pela casa, foi impossível continuar parado – Mos Def realmente sabe o que faz na hora de comandar a platéia.

The Ecstatic foi extremamente elogiado pela crítica por suas letras consistentes e sua sonoridade rica em influências do Oriente Médio, em um álbum tão repleto de elementos que é difícil imaginá-lo ao vivo. Entretanto, o rapper conseguiu provar que a sonoridade cheia de camadas de seu último trabalho consegue se adaptar muito bem ao palco, já que sua voz potente faz um trabalho brilhante na hora de suprir as bases sonoras que precisam ser refeitas com playback.

Auditorium, Embassy e Life In Marvellous Times foram algumas das faixas do novo álbum que provaram que a nova turnê de Mos Def só tende a melhorar, já que The Ecstatic é um álbum que conseguiu levar ao delírio um público que esperava muito mais pelos clássicos do rapper do que pelas músicas novas.

Mesmo apresentando ao Sesc Santo André suas músicas mais recentes, o rapper veio preparado para uma pancada: sem muita demora, começou a emender clássico atrás de clássico, com arranjos tão incríveis e uma energia hip hop tão genuína que, depois desse show, vai ficar difícil ouvir qualquer álbum do gênero sem compará-lo à apresentação de Mos Def.

Hits como Umi Says, do álbum Black On Both Sides, conseguiram mostrar que Mos Def pode ter diversificado sua carreira – já que o rapper deu uma pausa entre Black On Both Sides, de 1999, e The New Danger, de 2004, para se dedicar ao ofício de ator -, mas não perdeu a essência que o trouxe para o topo: a capacidade de fazer rap de qualidade.

O Brasil veio a tona na apresentação do rapper com a presença inusitada – e emocionante – da banda Black Rio, grupo do suingue carioca que retomou suas atividades em 2000. Na faixa Casa Bey, do álbum The Ecstatic, Mos Def utiliza samples de músicas brasileiras, como Casa Forte, escolhendo exatamente a versão do Black Rio para a faixa. Mos Def provou que se sentia a vontade com a banda no palco, dividindo não só o espaço como enriquecendo sua sonoridade com o groove divertido da banda.

Em meio a clássicos de álbuns como Mos Def and talib Kweli are Black Stars, Black On Both Sides, The New Danger e True Magic, Mos Def ainda teve tempo para fazer graça: fez uma versão surpreeendente e extremamente divertida de Billie Jean, com direito até a moonwalk. Poucos artistas conseguem fazer versões dignas de nota dos clássicos do rei do pop, e o rapper provou estar a altura do desafio.

Após quase duas horas de show, o rapper, visivelmente emocionado com a resposta do público brasileiro, não queria parar de tocar – mas o horário do Sesc Santo André obrigou o hip hop a descansar até o dia seguinte, quando Mos Def faz mais uma apresentação após os shows de Thaíde, Nel Sentimentum, A Filial, Kamau + Parteum e Mamelo Sound System + Elo Da Corrente. O primeiro dia do festival foi uma excelente prova de que a força criativa do rap nacional está em seu auge, e só tende a melhorar com a valorização de grandes eventos que tragam novos talentos para perto do público brasileiro.


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Indie Hip Hop comemora dez anos com show explosivo de Mos Def e boas atrações nacionais