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O Mudhoney fez apenas um show na noite desta sexta-feira (21) no Clash Club. Mas a plateia fez questão de se separar em dois blocos distintos – o dos contemplativos, que olhavam com atenção e respeito a apresentação intensa de uma banda com mais de 20 anos de estrada, e a turma do mosh, que fez questão de se jogar de cabeça no grunge do Mudhoney e sentir na pele ao menos um átomo da rebeldia explosiva e criativa que movimentou as ruas de Seattle em 1983.

Essa separação, claríssima desde o início do show, caracterizou muito bem a longevidade do som feito pelo Mudhoney, que consegue aliar com harmonia a violência de um gênero musical que reune toda a agressividade do punk e do hardcore com uma face mais reflexiva, refletida com força em diversas composições. Tinha um pouco para todo mundo – para a galera que queria se jogar na pauleira, fazer mosh como se não houvesse amanhã e gritar as letras a plenos pulmões, e também para o público que queria ficar na boa no seu canto apenas ouvindo a performance afiada do Mudhoney.

O repertório do show foi baseado no lançamento mais recente da banda, The Lucky Ones, de 2008, que traz músicas como I’m Now, Next Time e Inside Out. Além disso, o grupo não deixou de lado clássicos como When Tomorrow Hits, Suck You Dry e Touch Me I’m Sick.

Pouca coisa mudou desde a apresentação do grupo no mesmo Clash Club em outubro de 2008 – tanto que ambos os shows começaram com a música The Money Will Roll Right Now, cover da banda californiana Fang. Por sorte, a energia do grupo também não mudou nada nos últimos anos, e a performance de Mark Arm, Steve Turner, Dan Peters e Guy Maddison continua furiosa e com uma pauleira atrás da outra.

Muitos dos fãs ali, mais do que presenciar uma banda competente no palco, procuravam por algo a mais. Algo que é mais do que rock ‘n roll, mais do que grunge, mais do que música pura e simples. Com mais de vinte anos de estrada nas costas, o Mudhoney consegue trazer para os palcos um pouco da essência (inocente, quem sabe) de um ideal difícil de ver fora dos livros que contam exaustivamente a história do surgimento do grunge em Seatlle: uma música que harmonize a agressividade, o ódio e a contestação com a reflexão, a compreensão e o equilíbrio. Por um momento, tudo faz sentido – que se dissolve sem nostalgia quando o show termina e, opa, cadê o táxi que ainda não chegou?

É a volta do grunge?

Recentemente, o mundo da música testemunhou diversos retornos de grandes bandas, como Faith No More, Pixies, Pavement e Blur. Mas nada ganhou tanta atenção ultimamente quanto o chamado “retorno do grunge”, com o lançamento de novos álbuns de bandas como Hole, Alice in Chains, Stone Temple Pilots, Pearl Jam e até mesmo a volta do Soundgarden aos palcos.

Se isso significa ou não que o gênero está de volta com força total é difícil determinar, mas uma coisa é certa – o Mudhoney mostrou em seu show em São Paulo esta noite que música boa envelhece, obviamente. O tempo passa para todo mundo. Mas poucas bandas conseguem recriar a própria história sem desvirtuar sua essência, e o Mudhoney tem o talento de fazer com que seu repertório pareça relevante independentemente da época.

Setlist

The Money Will Roll right in
I`m Now
The Lucky Ones
Next Time
Inside Out
You Got It
Suck You Dry
Oblivion
Blinding Sun
Inside Job
Sweet Young Thing Ain’t Sweet Anymore
Let it Slide
Judgement, Rage, Retribution & Thyme
Good Enough
Touch Me I’m Sick
This Gift
FDK
Hard on For War
When Tomorrow Hits
‘N’Out of Grace
Hate The Police


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Mudhoney faz show pauleira em SP e traz de volta o brilho do grunge para os palcos