Nesta terça, Brasília completa 49 anos. Projetada por Oscar Niemeyer, e ainda hoje admirada por sua arquitetura inovadora, foi a realização de um sonho do então presidente Juscelino Kubitschek. Logo depois de sua inauguração, a nova capital passou a atrair gente de todo o Brasil, que via ali a chance de começar uma vida nova e crescer junto com a cidade.

Com isso, a população, especialmente a parcela mais velha, ainda guarda uma mistura de sotaques e tradições. Também por abrigar o Congresso e o Senado, que recebem políticos do país inteiro, há quem diga que Brasília não encontrou até hoje sua própria identidade.

Mas, para o bancário Luciano Branco, de 31 anos, a mistura é justamente o que ajuda a tornar tão interessante a cidade onde nasceu. “Não temos quase nada típico, mas encontramos em cada lugar traços de todas as cidades brasileiras”, resume.

“Tudo bem que sofremos com dias onde temos todas as estações do ano, temos uma rede hospitalar precária, caos no trânsito, seqüestros relâmpagos e outros problemas que não deveriam mas são comuns em qualquer capital. Fora que, sabia que temos uns dos metrôs cujas obras foram umas das mais caras do mundo, mas que só atende uma parcela mínima da população?

Quanto ao lazer, até que temos uma noite bem agitada, as casas noturnas cumprem bem seu papel, vários espetáculos teatrais acontecem na cidade, mas uma pena que os preços ainda sejam um absurdo principalmente nas apresentações no Teatro Nacional.

Agora, em relação ao que dizem, uma verdade precisa ser esclarecida: Brasília não é a “Capital do Rock”. Teve alguns períodos de importância, mas, ao contrário do que muitos pensam, a cidade não respira rock. Ninguém soube fomentar uma cena. O público não comparece aos shows, a menos que os artistas/bandas sejam figurões.

De evento importante mesmo só temos o Porão do Rock e os poucos festivais pequenos não conseguem se manter (de exceção até onde lembro só mesmo o projeto Moveis Convida e o pouco bajulado, mas guerreiro, Ferrock) o que faz a cidade um alvo fácil para shows de segundo escalão ou revivals. A rota internacional de shows costuma passar longe e qualquer turnê “caça-níquel” vira grande evento. A dignidade das rádios da cidade é salva apenas pela Cultura FM e o programa Cult22.
 
No mais, convivemos com as constantes acusações de que tudo o que é ruim está em Brasília, sem que as pessoas se lembrem que os políticos que aqui estão são eleitos por elas, em suas respectivas cidades”, conclui.

A estudante de mestrado da UnB, Izadora Xavier, de 22 anos, consegue deixar mais de lado as críticas e se revela uma total apaixonada pela cidade. Mesmo tendo vindo de Fortaleza, ela já parece – e se sente – mais brasiliense do que muita gente que nasceu por lá.

“Eu moro em Brasília faz cinco anos. Vim por causa da UnB, sempre quis ser diplomata e um professor do cursinho me recomendou o vestibular em Relações Internacionais, que diziam ser ótimo como preparação para quem quer fazer concurso do Rio Branco. Antes de morar aqui, tinha visitado duas vezes, tudo muito rápido.

Assim que eu cheguei andava muito com o pessoal do curso que, em geral, também não é de Brasília (o curso daqui reúne muita gente de fora porque é tradicional). Então a gente meio que vai tendo os espantos com a cidade ao mesmo tempo – lembro que, assim que cheguei, lembrava o tempo todo do conto Brasília: 1962, da Clarice Lispector, que Brasília é um espanto, uma cidade feita só de horizontes.

O esquema com o pessoal todo que vem de fora é que as opiniões se dividem logo, entre os que curtem e os que odeiam Brasília. Mesmo entre os que nasceram aqui, mas tem família de outro lugar, as opiniões também se dividem assim. Pra mim, o espanto de Brasília já se dissolveu mais. Sinto saudade da praia e de outras coisinhas, mas estou muito acostumada com a cidade.

Como a organização da cidade é muito cartesiana, para quem vem das cidades onde as ruas têm nomes a lógica muita clara de Brasília parece incompreensível no começo. Depois de um tempo você entende, começa fazendo uns cálculos pra poder se encontrar no plano da cidade. Depois de mais um tempo você esquece que teve que aprender aquela lógica, porque parece tudo auto-evidente, é cartesiano, uai, gente, qual a difculdade?

Foi aí que eu comecei a me sentir em casa, quando percebi que eu não pensava mais nos endereços como um amontoado de números e letras, mas como consequência óbvia de saber raciocinar. Não entendia como demorou tanto tempo pra alguém ter idéia de organizar uma cidade assim.

Isso foi mais ou menos na mesma época que eu larguei um pouco de andar com o pessoal da faculdade e conheci uma galera daqui mesmo. Na real, a cidade é pequena, você começa a conhecer uma galera e de repente conhece todo mundo. Isso apesar de fingirem que é cidade grande. Isso eu estou falando pela perspectiva de quem vive no plano – a cidade é muito maior se for considerar as satélites, mas o esquema é bem dividido, plano é plano e daí pra frente só morando lá pra saber como funciona.

No final das contas, o que eu posso dizer é que Brasília não é uma cidade como as outras, tem umas coisas que entregam que a cidade não foi uma coisa que surgiu naturalmente, mas foi criada – tipo, no final da asa sul, parece que a rua acaba  em um lugar onde você pode cair do mundo, como aquelas pessoas antigas que achavam que se você saísse navegando por aí ia cair pra fora do planeta.

Eu gosto bastante daqui, acho o Niemeyer fodástico e simplesmente não tem como se acostumar com a esplanada, e com o congresso. Sempre que eu passo pelo eixo monumental do lado do Congresso eu tenho que olhar pra ele e achar incrível por um momento. Na verdade, tenho duas vistas preferidas de Brasília: uma é o Congresso à noite, visto da passagem do eixinho sul pro eixinho norte (é meio que uma passarela onde embaixo fica a rodoviária). À noite, você consegue ver toda a esplanada iluminada, é demais. A outra coisa preferida é o QG do Exército, no setor militar, que é mais escondido e por isso pouca gente conhece, mas é estupendo.”

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No aniversário de Brasília, jovens falam de sua relação com a cidade