Se nos anos 80 o Ultraje a Rigor fazia os fãs disputarem a tapa as cópias do hoje clássico LP Nós Vamos Invadir Sua Praia, hoje o cenário é outro. Com a crise da indústria fonográfica, a livre troca de arquivos MP3 e a força das redes sociais, a internet adquiriu um papel fundamental na propagação da música dos artistas para os fãs.

Já que a coisa funciona assim na década atual, o vocalista Roger Moreira, o baterista Bacalhau e o baixista Mingau, que formam o núcleo duro da banda paulista, não perderam tempo: deixaram de lado o formato CD e bolaram o projeto Música Esquisita a Troco de Nada!, que disponibiliza as novas faixas do grupo gratuitamente e permite que os fãs remixem e criem suas próprias versões para cada uma das músicas.

Roger Moreira, líder do grupo e que vive conectado à Web – além de ser tuiteiro frenético, tem contas no Facebook, Orkut, Flickr, Youtube, MySpace e em outros sites –, falou sobre a postura do Ultraje a Rigor diante das novas tecnologias, o futuro da indústria fonográfica e sua inusitada parceria com a cantora mirim e apresentadora Maísa. Confira:

De onde veio a ideia do projeto Música Esquisita a Troco de Nada!? Por que disponibilizar as faixas de graça na Web?
Fiz isso porque queria ser ouvido. Um projeto gratuito, do ponto de vista do artista, não muda nada. Se eu estivesse lançando música sob uma gravadora, com lucros de R$ 50 cada, 10% chegaria em mim, no máximo. Então, não faz diferença. A questão de um projeto como esse é que eu não tenho obrigações nem agenda para cumprir. Nesse ponto da minha carreira, posso me dar ao luxo de fazer o que quiser, que é fazer minha música ser ouvida pelo maior número de pessoas possíveis.

Para ser ouvido, é preciso sair do eixo da indústria fonográfica?
Há muito tempo a indústria musical precisa mudar. Hoje em dia, não existem motivos para que as gravadoras não lancem CDs em formato MP3. Combateria a pirataria e faria com que a música chegasse a mais lugares. Para lançar um álbum pelos processos tradicionais, é necessário pagar pela exposição no rádio, na TV… Sai muito caro. O caminho é a Internet mesmo, que é uma grande unificadora de todos esses serviços.

Você baixa música na Internet?
Baixo. Bastante. Gosto de conhecer novidades. Se eu gostar, passo a baixar mais coisas para conhecer e acabo comprando os CDs também. Mas eu faço downloads e escuto mais bandas das antigas, porque hoje a coisa está feia… (risos).

Então não te incomoda que as pessoas baixem os álbuns do Ultraje A Rigor de graça na Web e não comprem mais CDs?
Nem um pouco. Porque, como todo mundo já está cansado de saber, nenhuma banda vive da venda de discos, mas sim da renda dos shows. Essa molecada nova baixa nossas músicas na Web, daí leva uma galera nos nossos shows e até vêm falar com a gente e elogiar. E sabe o que mais? Se alguém quiser comprar um álbum antigo do Ultraje, como o LP Nós Vamos Invadir Sua Praia, não tem mais em loja nenhuma, está fora de catálogo! Então, vai fazer o quê?

Você acha que, por meio da Internet, o Ultraje a Rigor está atingindo um público mais jovem e renovando sua base de fãs?
Sem dúvida, temos acesso a novos públicos hoje. As pessoas se acostumaram com a ideia de que as coisas mais importantes não estão só na TV, estão na Internet também. Antes, rádio e TV eram toda a divulgação. Hoje, existe a Web e alguns artistas já entenderam que é legal usar as novas ferramentas não só para divulgar o trabalho como para se divertir e trocar ideias com os fãs. O problema é músico que acha que o Twitter, por exemplo, funciona como propaganda de revista. Ele não entende que é uma rede social, para se relacionar com as pessoas.

Recentemente, você se envolveu no álbum de estreia da apresentadora mirim Maísa, Tudo Que Me Vem Na Cabeça. Como foi a composição da música em que você participa, Ô Tio?
Na verdade, foi bem simples. O produtor dela me ligou e perguntou se eu não queria compor uma música para o álbum. Pedi um tema e ele sugeriu algo relacionado a computador. Nada mais fácil para mim, que vivo conectado. Foi interessante esse trabalho porque eu fiz uma faixa da qual me orgulho. E não subestimei a música só porque é para crianças. Pena que não tive a oportunidade de conhecer a Maísa, já que gravei minha participação na música sozinho em estúdio.

E os próximos lançamentos do Ultraje? Pretende continuar a lançar música gratuitamente pela Web?
Com certeza. O Ultraje a Rigor vai continuar esse esquema de soltar músicas na Web, que está dando extremamente certo e é muito confortável para nós, já que é só gravar e colocar lá para todo mundo ouvir. Esse é o caminho!


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Roger Moreira (Ultraje a Rigor) fala sobre os novos caminhos da banda na música digital