Voltando com a programação original, voltamos com mais um Sete Perguntas aqui no Virgula Música. Relembrando, toda sexta-feira trazemos um blogueiro para falar de música e de assuntos que abordam sua área de atuação. Nosso entrevistado da vez é o jornalista Alexandre Inagaki.

Envolvido com múltiplos projetos, Inagaki mantém seu blog Pensar Enloquece, Pense Nisso, é editor do Pop Cabeça no site da MTV, e também é colunista do portal Yahoo. Mesmo com a agenda cheia, o moço ainda usa o seu Twitter pessoal (@inagaki) para dar dicas bacanas e se comunicar com os seus seguidores.

Gente boníssima, Alexandre Inagaki resolveu dar um tempinho em sua atarefada agenda e respondeu nossas sete perguntas. Veja abaixo:

1. Quem era o Alexandre Inagaki antes, e depois da internet?
Antes da internet eu certamente deveria ser um cara mais focado. Vida online faz a gente se dispersar, navegar abrindo várias abas no Firefox ou Chrome e pulverizar conteúdos por tudo por redes sociais que se multiplicam mais rapidamente que Gremlins molhados. :)
Agora falando sério: antes de trabalhar full time com internet, eu fui bancário por seis anos. Em paralelo, fazia free-lancers como jornalista, minha profissão de formação (e que, convenhamos, nunca se destacou por pagar salários nababescos). Saí dessa vida pregressa em 2006, quando me tornei gerente de conteúdo de uma agência de marketing online. Atualmente trabalho em home-office, sou consultor de mídias sociais para sete agências de publicidade, escrevo colunas sobre tecnologia e comportamento online para alguns veículos e escrevo nos blogs Pensar Enlouquece, Pense Nisso e Pop Cabeça.
 
2. O que é melhor em um blog: ganhar muitos comentários ou gerar lucro?
Para mim, blogs são o Bom Bril da Web: têm mil e uma utilidades. Podem ser divã virtual, laboratório literário, relicário de agruras sentimentais, um meio bacana de se fazer novos amigos por meio de afinidades que vão desde o amor por uma banda obscura de power pop de Boston até o gosto por seriados de ficção científica dos anos 50. Por isso, digo que essa história de se ganhar dinheiro através de blogs deve ser consequência natural, jamais a causa. Se eu escrevo em blogs desde 2000, época na qual imaginar que um dia seria possível descolar alguns trocados publicando posts era visto como algo tão improvável quanto ver Johnny Cash regravando uma música do Nine Inch Nails, é porque manter um blog por tanto tempo só é possível por ser algo que me dá prazer, em especial pela interação com os leitores e os muitos amigos que fiz ao longo destes anos.
 
3. Se um dia rolasse um Inagaki Festival, quais bandas você chamaria pra tocar?
De bate-pronto? Buffalo Tom, Black Rebel Motorcycle Club, Teenage Fanclub, Zoé, Babasónicos, Nada Surf, The xx, Metric, Built to Spill, Grant-Lee Phillips, The B-52s, Ben Folds, Grizzly Bear e Charlotte Gainsbourg.

4. Você acha que os blogs que distribuem filmes e MP3s gratuitamente, destroem ou estimulam a indústria cultural?
Taí a questão do nosso tempo. :) Essa pergunta me fez lembrar de uma entrevista que fiz com o Beto Cupertino , vocalista de uma das melhores bandas brasileiras da atualidade, o Violins, na qual ele dizia que banda independente no Brasil dificilmente tem renda estável para sustentar seus integrantes, por não haver um circuito intenso de shows com cachês significativos para todos os grupos. A grana que eles ganham com shows acaba sendo reinvestida na gravação dos próximos CDs. Mas, por outro lado, é graças à internet que mais pessoas passaram a conhecer as músicas do Violins, viabilizando o agendamento de uma quantidade maior de shows.

Pra mim, internet não destrói nada. As informações circulam com cada vez mais facilidade, e graças a isso tenho acesso a obras de bandas finlandesas, cineastas filipinos e escritores acreanos que eu dificilmente conheceria há duas décadas. Internet, na real, abre portas e cria novas possibilidades profissionais. Artistas têm toda razão ao lamentarem que suas obras estejam circulando livremente sem que eles sejam justamente remunerados por isso, mas lamentar por esse leite derramado é tão inútil quanto procurar por vida inteligente numa letra do Restart. O negócio é reaprender a jogar de acordo com as novas regras 2.0. O tecnobrega no Pará, o “pague quanto você quiser” do In Rainbows (disco da banda Radiohead), a geração 00 de escritores como Daniel Galera, Clarah Averbuck e Cardoso Czarnobai que foi revelada a partir de textos publicados em um fanzine por email, cineastas como o Esmir Filho que ganhou projeção com um vídeo no YouTube… Os exemplos de como é possível viabilizar uma nova indústria cultural aproveitando os recursos da internet e as novas tecnologias de produção e distribuição de obras são muitos.
 
5. Qual é o blogueiro mais rockstar e polêmico atualmente?
Não vejo muitos rockstars na blogosfera, ao menos aquela que é de várzea, e não a de políticos, celebridades e jornalistas renomados que criaram blogs porque hoje em dia todo mundo tem um. Até porque creio que blogs têm mais a ver com bandas punk, aquela história de “do it yourself” e de fazer algo na base do impulso e com o que estiver à mão, usando instrumentos baratos e dois ou três acordes. Mas polêmicos têm vários por aí: Reinaldo Azevedo, Carlos Cardoso, Gravatai Merengue, John Chow, Perez Hilton, yada yada yada…

6. Qual foi o grupo mais legal que você descobriu através de blog e internet?
Descobri e redescobri muitos sons bacanas. Mas destaco em especial bandas latino-americanas, que até hoje não entendo porque sofrem uma espécie de segregação sonoro-racial aqui no Brasil: Aterciopelados, Babasónicos, Molotov, Zoé e Soda Stereo, a maior banda argentina de todos os tempos, que em 2007 reuniu-se novamente fazendo uma turnê que passou por 9 países, inclusive Estados Unidos e vendeu mais de 1 milhão de ingressos. Mas, aqui no Brasil, o Soda Stereo continua sendo solenemente ignorado, como praticamente toda banda de rock que canta em espanhol.

7. Qual foi o maior #fail e o melhor #win que você já viu na internet?
Putz. Pergunta difícil, já que o ser humano está sempre se superando na produção de epic fails. Do #ForaSarney ao #PutaFaltadeSacanagem, a competição é árdua, desde os tempos dos CDs gratuitos da AOL Brasil. No Brasil, talvez seja a ordem judicial que bloqueou o YouTube no Brasil, a pedido dos advogados da Daniela Cicarelli, em janeiro de 2007, por causa daquele famoso vídeo numa praia espanhola. Quanto ao maior win, creio que é de toda essa geração de produtores de conteúdos, que graças à internet acostumou-se bem a não se satisfazer mais em simplesmente consumir passivamente o pouco que a indústria cultural lhes oferecia, em meio a tantas coisas bacanas surgindo o tempo todo mundo afora.


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Sete Perguntas: Alexandre Inagaki é o blogueiro da semana do Virgula Música