O fenômeno não é totalmente novo, mas, desde o fim do ano passado, algumas casas paulistanas tradicionalmente voltadas para estilos muito diferentes do rock estão recebendo atrações nacionais e internacionais do gênero – é o caso de algumas casas de samba (Carioca Club e Santana Hall), de blues (Bourbon Street) e de flashback (Metropolis) .

De onde vem essa tendência de produção de eventos? Quais os maiores entraves que as equipes de produtores enfrentam para trazer bandas de rock para São Paulo? O Virgula Música falou com alguns desses produtores para encontrar as respostas dessas e de outras perguntas.

O ABC da produção de shows

Depois que uma produtora contrata um artista e consegue firmar datas para o show, deve partir para uma segunda etapa: optar por  uma casa com qualidades compatíveis com o evento, ou seja, boa acústica e espaço suficiente para a aparelhagem e para o público da atração.

No caso de uma grande casa de shows, como o Via Funchal, o Credicard Hall e o HSBC Brasil, é preciso firmar um contrato de execução, repartir as porcentagens de bilheteria, contar com os ingressos de estudante (meia-entrada), pagar o aluguel do espaço e desembolsar uma série de taxas.

Cabeça pensante por trás de vários shows de heavy metal realizados no Brasil (incluindo o Brasil Metal Union, maior festival da história dedicado apenas a grupos brasileiros do estilo), o produtor Richard Navarro explica um dos motivos por que casas de show com perfis bem distantes do rock pesado – em sua maioria, lugares pequenos, mas em boas condições – viraram uma excelente opção para shows do gênero.

“Quando você faz um show grande, é preciso pagar ISS, a Ordem dos Músicos do Brasil (OMB), contratos individuais, os direitos autorais junto ao ECAD (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) e as taxas da SATED (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão). São impostos que pesam no bolso das produtoras de menor expressão”, comenta Richard. “Por isso, ao optar por fazer o evento em um espaço menor, ou de menor expressão, muitos desses encargos caem por terra. Assim, os produtores e os artistas conseguem uma fatia maior dos lucros conseguidos com cada espetáculo”, completou.

Outro produtor que enexerga vantagens em levar shows internacionais de heavy metal aos palcos destinados a outros estilos é Marcos Paulo, da Dark Dimension, que trouxe no último dia 9 a banda alemã Primal Fear para o Carioca Club. “A recepção dos fãs e dos músicos foi a melhor possível. Lá, existe uma ótima estrutura pra receber shows de rock”, explicou Marcos. “São Paulo está fraco de espaços viáveis para shows e, felizmente, conseguimos encontrar estrutura num local como o Carioca.”

O público vai aonde o artista está

Você consegue imaginar um headbanger convicto falando bem de um evento que acontece em um palco tradicional do pagode? Os produtores não só conseguem como ainda veem outros benefícios na realização dos shows neste tipo de espaço.

“Os fã de heavy metal, ainda mais os que gostam dos gêneros mais extremos, não querem nem saber onde vai ser o show. Eles estão mesmo é preocupados em ver a banda e ver o pau quebrar”, brinca o sempre bem-humorado Richard. “Anos atrás, já levamos bandas para o antigo KVA, onde tocava forró, e até o (grupo dinamarquês) Mercyful Fate para tocar no finado Sandália de Prata, casa de samba”

Marcos Paulo concorda e vai alé: preconceitos à parte, tanto para o público quanto para os fãs, fica muito mais cômodo e barato ter um show em um lugar desses do que nas grandes casas. “Esses espaços nos permitem organizar os shows do nosso jeito e possibilita ingressos mais baratos, sem dever nada em qualidade para as casas grandes”, conclui.

Questão de viabilidade
 
Não há como medir exatamente o quanto as produtoras estão lucrando com esses eventos em palcos “não-especializados”, por assim dizer. Fato é que os realizadores estão abrindo cada vez mais os seus olhos para as casas de outros estilos, especialmente com a melhora na qualidade dos equipamentos que elas apresentam nos últimos tempos.

A Dark Dimension, por exemplo, ficou tão satisfeita com o Carioca Club que já confirmou um show do Dragonforce no mesmo palco para o dia 8 de novembro. “Temos a total convicção que o espaço pode comportar o evento”, explica Marcos Paulo. “Para as bandas é bom, porque os shows ficam realmente lotados e eles não estão pensando nessa rivalidade do rock com outros estilos, que sempre existiu por aqui.”

“Acho que isso acontece mesmo por opção das produtoras. Nenhuma casa vai lá e se oferece pra receber shows de heavy metal”, reflete Navarro. “Mas acho que, se a execução for viável, os profissionais da área só têm a ganhar. Afinal, os fãs tem a chance de poder conseguir ingressos mais baratos”.

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Shows de rock pesado rolam em casas de samba, blues e outros estilos em SP