Em menos de dois meses, a estudante universitária Nádia Lapa, de 29 anos, presenciou um assalto e foi vítima da ação dos bandidos numa segunda oportunidade. Em ambos os casos, Nádia estava na região da Avenida Paulista, no centro de São Paulo. Apesar de contar com um dos maiores efetivos policiais, a região da Paulista reflete o aumento dos números da violência na capital.

Nos três primeiros meses de 2009 foram registradas 31.249 ocorrências de roubo na cidade, 13,1% a mais que no mesmo período do ano passado, quando foram contabilizados 27.624 casos.

Desde 1996, quando a Secretaria de Segurança Pública passou a divulgar as estatísticas da violência na internet, o primeiro trimestre deste ano representou o segundo maior índice de roubos da série, atrás apenas dos três primeiros meses de 2003 (31.328), época em que o país ainda sofria com a estagnação econômica.

De olho no celular

Em 23 de abril, Nádia estava com uma amiga numa cafeteria localizada na esquina da avenida com a alameda Joaquim Eugênio de Lima. Quando recebeu a conta, ela abriu a carteira e retirou R$ 50 reais. Mas ao notar a aproximação de uma pessoa suspeita, recuou.

“Eu vi um cara de bicicleta se aproximando e, como ex-moradora do Rio de Janeiro, recolhi o dinheiro. Pensei que estava sendo paranóica. Só que minha amiga não percebeu e o cara pegou o celular dela que estava em cima da mesa. Ele não desceu da bicicleta. Catou o celular e saiu pedalando”, explica. Segundo ela, os próprios garçons do estabelecimento já estão acostumados às ações dos bandidos.

Na segunda vez, Nádia foi abordada em um semáforo na região. “Eu estava com o vidro meio aberto e um garoto
se aproximou e disse ‘tia, me dá o celular em três segundos’. E começou
a contar”, disse. Desta vez, o assalto ocorreu por volta das 5h da
tarde do dia 16 de junho.

“A Polícia não vai achar nada mesmo”

João Pedro Rocha, de 31 anos, trabalha como analista de sistemas. Em janeiro, após sair de uma entrevista de emprego em um edifício na alameda Santos, foi surpreendido por um assaltante. “Liguei para minha esposa para avisar que tinha terminado a entrevista e, de repente, passou um rapaz de bicicleta e levou meu telefone”.

Problema semelhante aconteceu com Sandra Ancic há cerca de três meses. Estagiária em um escritório de advocacia, Sandra tinha acabado de sair do trabalho e voltava para casa em seu carro. No semáforo do cruzamento da Consolação com a rua Antônio Carlos, um motoqueiro emparelhou do lado do passeiro e sacou uma pistola. “Não consegui ouvir o que ele queria. Já fui entregando o GPS, uns 200 reais em dinheiro e o celular. O semáforo abriu e ele acelerou. Por sorte ele não levou meu laptop [que estava em uma mochila no banco traseiro]”.

Assim como Nádia, João Pedro e Sandra também não registraram as ocorrências. “Eu estava com passagem comprada e precisei embarcar no dia seguinte. Não tinha tempo e nem motivo. A Polícia não vai achar nada mesmo”, disse Sandra.

Polícia

O quadrilátero formado pela Avenidas Paulista, Higienópolis, Angélica e Nove de Julho, além das ruas Augusta e Consolação, foi responsável por 804 ocorrências de roubos entre janeiro e maio de 2009. Bolsas, celulares, carteiras, laptops, câmeras fotográficas são alguns dos principais itens visados pelos ladrões.

Dados da Polícia Civil publicados no jornal Destak apontam a Consolação, com 146 casos, como a via com maior número de roubos registrados na região. Em seguida aparece a rua Augusta, com outras 78 ocorrências.

Apesar das estatísticas, o comandante Gilson Luiz da Costa, do 11º Batalhão da Polícia Militar, responsável pela policiamento da Avenida Paulista e de outras vias do centro da capital, garante que os índices de violência estão sob controle.

“Quem caminha pela Paulista se sente seguro. Cerca de 56 policiais fazem integralmente a segurança na via. É um efetivo maior do que muitos batalhões. Isso sem contar as viaturas da Rocam e da Força Tática”, explica.

Costa diz que o número de ocorrências registradas é baixo. “Entre os dias 1º e 19 de julho, apenas cinco ocorrências foram registradas nas delegacias mais próximas da Paulista [5º e 36º Distrito Policial]. Foram quatro ocorrências de roubo e uma única ocorrência de furto. Isso é muito pouco se você levar em conta o número de pessoas que caminha diariamente na via”.

Questionado sobre a chamada “gangue da bicicleta” [bandidos que praticam roubos com bicicletas ou patins], Costa garante que a Polícia tem trabalhado para prevenir a ação desses ladrões. “Fizemos a apreensão de oito bicicletas nos últimos dias”.

Insegurança

Apesar do elevado número de policiais, Nádia não se sente segura quando anda na região central. Ela deixou de estacionar o carro na rua e passou a pagar um estacionamento, além de evitar caminhar por ruas e locais suspeitos.

A jornalista Tatiana Izquierdo, de 24 anos, foi assaltada há dois anos na Paulista. Na ocasião, ela foi atender o telefone quando o bandido apareceu. “Um molequinho de rua me deu um tapa no rosto e tomou o meu celular. Ele devia ter uns 11 ou 12 anos. Eu não pensei duas vezes: corri e agarrei o garoto. Depois de rolar com o bandido na rua, ele conseguiu sair correndo com o celular em mãos. E ninguém fez nada. Todo mundo ficou olhando, com medo”, explica.

Desde então, Tatiana tomou providências para não chamar a atenção dos bandidos. “Hoje tomo mais cuidados. Evito mostrar celular e objetos de valor. Também não carrego bolsa grande e só levo o necessário para a rua”.

“A Avenida Paulista é perigosa. Não é porque tem movimento que os bandidos ficam inibidos”, finalizou.


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Violência: Polícia diz que é seguro andar na Av. Paulista, mas roubos são comuns