Muita gente se chocou com a falsa notícia que nossa editoria postou dizendo que Pedro Bial tinha sofrido um acidente fatal quando seu carro bateu num paredão. Não acharam apropriada a brincadeira mesmo sendo 1º de abril, o famoso dia internacional da mentira. Entendemos que a morte é um tabu, principalmente para nós brasileiros, dissimulados de nossos preconceitos, também fingimos que a morte não existe. Anunciá-la é um erro grave, algo de mau gosto. Mas como um grande amigo inglês uma vez nos alertou, tamanha repressão discorre em explosões que até o próprio black humour se assusta, como as piadas que surgiram sobre Ayrton Senna imediatamente após o acidente do piloto na curva de Tamburello ou o sarro em cima de Cazuza quando o cantor estava com a Aids já evidente em seu corpo.

Esse não é nosso caso, pois em nenhum momento tripudiamos com a imagem do apresentador e muito menos era um fato verídico, tanto que no final da nota tinha um display que dizia que era 1º de abril. Tínhamos consciência da brincadeira, como também que ela não apresentava nenhuma novidade, apenas um texto engraçado com referências ao BBB. Tínhamos referências como essas: Em fevereiro de 1708, um astrólogo londrino desconhecido, Isaac Bickerstaff (pseudônimo do escritor satírico Jonathan Swift), publicou que um rival, também astrólogo, John Partridge, morreria no dia 29 de março. No dia 30, Bickerstaff distribuiu um panfleto dizendo que ele tinha acertado e que Partridge estava morto. A notícia se espalhou e no dia 1º de abril, Partridge foi até a janela da sua casa e viu uma multidão que tinha vindo para o seu enterro. Mas não precisamos ir tão longe. Nem era 1º de abril quando espalhou-se e até o canal financeiro Bloomberg anunciou que Steve Jobs estava morto e também não era verdade. A reação do CEO da Apple foi comentar bem humorado que “as pessos estavam exagerando um pouco na notícia”.

Sim, sabemos, a morte é um tabu, e é por isso que uma obra-prima dos anos 1970 como Di de Glauber Rocha está “censurada’ até hoje. No curta, o cineasta baiano filma o enterro do pintor Di Cavalcanti com uma displicência extremamente bem humorada. “1,2,3[…],12, corta, dá uma close na cara dele”, diz Glauber em off enquanto a câmera mostra um Di no caixão cheio de algodões nas orelhas e no nariz.

 

Na época, muitos artistas e formadores de opinião saíram em defesa de Glauber em nome da liberdade. O que mais estranhamos foi que alguns formadores de opinião e artistas de hoje tomaram uma postura de madame indignada diante a nudez da mulata quando leram a nossa falsa notícia. Tudo bem, não somos o Glauber, nem Bial é Di Cavalcanti, mas está clara nessa correlação os sinais dos tempos politicamente corretos que vivemos pronto para tudo vigiar e punir por um estranho e falso moralismo.

Sim sabemos que a morte é um tabu, mas o humor está acima dela. Como um bobo da corte para o seu rei, o humor tira sarro da morte, a expõe. O politicamente correto tacanho quer nos tirar a alegria e a anarquia da felicidade do riso solto. Aliás, o humor é livre, incorreto, e nem sempre de bom gosto, apesar de que gosto se discute e se aperfeiçoa. Sua função é desmacarar hipocrisias, questionar verdade prontas.

Nos divertimos muito com a notícia e muitas pessoas também. Agora quem não, quem sabe no próximo dia 1º a gente ressuscita o Bial, pois a alegria é a prova dos 9, viu psit! E viva o Pânico!


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Relaxem, o 1º de abril é uma grande brincadeira