Milhares de meninas e mulheres das regiões mais pobres das Filipinas são vendidas como escravas domésticas e sexuais em outros países, isso após caírem nas garras das engenhosas redes de tráfico de pessoas.

“As vítimas são geralmente enganadas para ir à Malásia em busca de um bom salário. Dizem que vão trabalhar de garçonetes ou empregadas domésticas, porém, terminam sendo forçadas a se prostituir ou a trabalhar como escravas e sem receber salário”, explica Darlene Pajarito, uma conhecida juíza da cidade de Zamboanga.

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Darlene, condecorada pelos Estados Unidos este ano por seu trabalho neste campo, lembra muito bem a primeira condenação que conseguiu nos tribunais, que, por sinal, estreou a lei contra o tráfico humano aplicada nas Filipinas em 2003.

“Era uma estudante que foi convencida a estudar na Malásia. Ela só ficou sabendo que ia trabalhar de prostituta quando já tinha entrado ilegalmente no país. Na primeira noite, ela se negou a deitar com cliente, que a agrediu até que aceitasse”, relata a juíza.

Somente depois de um mês, a menina conseguiu ligar e avisar sua irmã sobre a situação. Como ela morava na Malásia e já estava casada, pediu para que o marido procurasse sua irmã no clube, onde a menina era conhecida como “número 60”.

O cunhado chegou ao local se passando por um cliente e, após parecer interessado na menina, pagou a quantia exigida para tirá-la do local por uma noite. A menina foi levada para casa e escondida por duas semanas, tempo suficiente para preparar sua viagem de volta às Filipinas, novamente de maneira ilegal.

Novamente em Zamboanga, a estudante entrou em contato com a Polícia e ajudou as autoridades locais a localizar as pessoas que estavam envolvidas nessa espécie de golpe, o que resultou na primeira condenação por este tipo de delito nas Filipinas.

O principal problema enfrentado pelas autoridades é a falta de credibilidade por parte das vítimas, que não confiam nas punições que são adotadas pelas autoridades contra este tipo de crime.

“As vítimas cooperam com os tratantes. Se voltam contra as autoridades quando não permitimos suas viagens e, por mais que explicamos a realidade, preferem se agarrar as fantasias que são oferecidas”, explica a agente Gema Luna, integrante de uma equipe especial antitráfico de pessoas de Zamboanga.

Nos dez primeiros meses do ano, a Polícia de Zamboanga conseguiu resgatar 544 vítimas, um número baixo em comparação com a estimativa deste tipo de tráfico, que varia entre 20 mil e 100 mil vítimas, incluindo as que são exploradas dentro do país, segundo o site “humantrafficking.org“.

A luta da juíza Darlene Pajarito, da agente Gema, e de outras muitas pessoas, permitiu que as Filipinas deixassem a lista negra de países permissivos, que foi elaborada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.

Motivados com o resultado, o Governo intensificou a luta contra esta forma de escravidão moderna com um investimento de US$ 1,73 milhão. Apesar de terem conseguido 50 condenações desde 2005, essa luta ainda acaba parando na dificuldade de localizar todos esses tratantes, que variam desde empresários estrangeiros até policiais e políticos corruptos, além dos navios clandestinos que vão até a Malásia.

“Normalmente só achamos os intermediários, pois os chefes destas organizações são cuidadosos e sempre costumam escapar. É difícil lidar com eles”, reconhece a juíza.

Apesar das inúmeras ameaças de morte que estão recebendo por conta de seu trabalho, Darlene e a agente Gema não sentem medo e consideram o fato como “ossos do ofício”.

“Para todas as pessoas essa hora chega. É melhor morrer por uma causa que na cama. As ameaças fazem parte do meu trabalho. Sonho com o dia em que esse problema desaparecerá. Sei que é difícil, mas este objetivo me permite seguir trabalhando”, conclui Darlene.


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Mulheres filipinas são vendidas como escravas domésticas e sexuais