A rede de espionagem dos Estados Unidos, denunciada pelo ex-analista da CIA Edward Snowden, se expandiu por toda a América Latina e focou especialmente Brasil, México e Colômbia, publicou nesta terça-feira (9) o jornal “O Globo”.

A reportagem do jornal publica hoje novos documentos que diz ter obtido em meio ao escândalo suscitado pelas denúncias de Edward Snowden e afirma que “um dos aspectos” da espionagem é que os “Estados Unidos não se interessavam apenas por assuntos militares”, mas também em “segredos comerciais”.

Nesse contexto, afirma que a espionagem se dirigiu, por exemplo, às áreas de “petróleo” na Venezuela e de “energia” no México.

Também sustenta que, junto com o Brasil e o México, outro “alvo prioritário” foi a Colômbia, onde foram vigiados “os movimentos das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc)”.

Também “foram espionados constantemente, embora em menor intensidade, Venezuela, Argentina, Equador, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, Honduras, Paraguai, Chile, Peru e El Salvador“, diz o periódico.

“O Globo” publica mapas que marcam em vermelho os países mais espionados pela CIA e a Agência Nacional de Segurança (NSA, na sigla em inglês) e equiparam Brasil, Colômbia e México a países de grande interesse geopolítico para os Estados Unidos, como o Iraque.

Além disso, a reportagem revela que, assim como houve uma “base de espionagem” que operou em Brasília, também funcionaram outras similares em Caracas, Bogotá, Cidade do Panamá e Cidade do México.

As cinco bases teriam funcionado até 2002 e não há provas de que tenham voltado a operar desde então, segundo “O Globo”.

No caso da Colômbia, indica que é um país que “mantém uma aliança militar com os Estados Unidos sem paralelo com outros países da América do Sul”, o que “a torna área privilegiada para as agências americanas, como a NSA” em toda a região.

A possibilidade de as atividades de espionagem realizadas no Brasil terem incluído o rastreamento de ligações telefônicas e da atividade dos cidadãos na internet gerou um escândalo no país e a presidente Dilma Rousseff anunciou nesta segunda (8) que seu governo se propõe a denunciar o caso perante as Nações Unidas.

“Vamos apresentar proposta à Comissão de Direitos Humanos da ONU, uma vez que um dos preceitos fundamentais é a garantia da liberdade de expressão, mas também de direitos individuais, principalmente o da privacidade, aliás garantido na nossa Constituição”, declarou Dilma.

“Se houver participação de outros países e outras empresas que não as brasileiras, seguramente há violação de soberania, sem dúvida” e “uma violação dos direitos humanos”, disse Dilma a outra reportagem do jornal carioca.

A governante, no entanto, pediu prudência para investigar “sem precipitação, sem prejulgamento” e enfatizou que a posição do Brasil é “muito clara e muito firme. Não concordamos de maneira alguma com interferência desta ordem não só no Brasil como em qualquer outro país”.

A Comissão de Relações Exteriores do Senado anunciou que convocará o embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, para explicar as supostas atividades de espionagem no país.

O governo recebeu as informações com “uma grave preocupação” e o ministro das Relações Exteriores, Antônio Patriota, informou neste domingo que pediu “explicações” aos Estados Unidos.

Shannon, que está prestes a ser substituído pela atual secretária assistente adjunta para Cuba, América Central e Caribe do Departamento de Estado, Liliana Ayalde, se reuniu com autoridades brasileiras e negou a suposta espionagem.

No entanto, segundo o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o diplomata admitiu que são “estudadas” a origem e o destino de ligações telefônicas, “embora sem entrar em conteúdos”.

O assunto veio à tona às vésperas da primeira visita de Dilma Rousseff ao Estado a Washington, prevista para 23 de outubro, quando deverá ser recebida por seu colega Barack Obama na Casa Branca.


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Rede de espionagem dos EUA se estenderia por toda a América Latina