Repórter brasileiro tem dia de argentino

Com a cara pintada e com a camisa da Argentina, lá fui eu torcer pelos hermanos
Com a cara pintada e com a camisa da Argentina, lá fui eu torcer pelos hermanos
Créditos: Luiz Teixeira

Esse humilde repórter viveu a experiência única de ser argentino por um dia. Poderia até ser algo comum, se eu não tivesse escolhido virar argentino no dia 1º de julho, dia de jogo entre Argentina e Suíça, na Arena Corinthians.

Armado com um celular, procurei registrar esse momento curioso de minha vida.

Saí da minha casa, no Sacomã, de manhã com minha camisa da Argentina e fui até Itaquera com mais um amigo que estava descaracterizado. Ambos sem ingresso.

Já no metrô entramos no clima. Encontramos um grupo de cinco argentinos que me viram e começaram a conversar comigo. Dessa vez meu portunhol falhou e fui descoberto, mas os argentinos seguiram sendo simpáticos – um deles tentou comprar “simpaticamente” minha camisa oficial por 10 reais.

Chegando ao entorno do estádio fui bem recebido com muitos elogios dos brasileiros, todos impublicáveis. Cada argentino que passava ouvia o grito de “Maradona é menor que Pelé”… e sobrou pra mim. Fui até lá conversar, como argentino, com meus hermanos brazukas. Eles foram hostis até eu gritar um “vai Corinthians!” com leve sotaque argentino. A partir daí fui cumprimentado, saudado com gritos de “Carlitos Tevez” e até tirei essa foto com eles:

 

Depois disso, encontramos um figura chamado Dinamita. Um tanto alterado, ele pediu para tirar foto comigo e disse que na verdade torcia para o Brasil. Ele e seu filho Ezequiel também não tinham ingressos e só estavam curtindo a bagunça. Depois de tirar a foto, ele foi conversar com um mexicano e só fui encontrá-lo mais tarde (voltarei em breve para essa história).

Durante o tempo em que fiquei no entorno do estádio, eu dei entrevistas para emissoras brasileiras e uma para a emissora argentina oficial da Copa do Mundo. Todas como torcedor argentino. Duvida?

 Brasileiro se passa por argentino e dá entrevistas

 

Faltando 15 minutos para o início da partida, nos dirigimos para um boteco pois os policiais não nos deixaram permanecer naquela “zona mista” antes da triagem para checar quem tinha ou não ingresso. O boteco Itaquerão Bar era bem pequeno. Logo ao entrarmos, com quem nos encontramos? Ele, o mito Dinamita de novo! Jurando que não iria beber, ele puxava gritos e mais gritos, pulava feito louco e conversava comigo, já sabendo que eu era brasileiro. Dizia que não tem porque um brasileiro brigar com um argentino e vice-versa. “Una sola felicidad” (“uma só felicidade”), ele repetia. Nos cantos que diziam “yo soy argentino” ele sempre adicionava “y soy brasileño”. Em poucos minutos eu já sabia quase todos os gritos e estava lá torcendo com os cerca de 15 argentinos que lotavam o pequeno boteco. E sim, tive que gritar que “soy argentino”… mas naquele momento eu era argentino e tinha que entrar no personagem.

Alguns brasileiros, a maioria corinthianos, acompanhavam o jogo no mesmo boteco e tentavam silenciar os argentinos com gritos da torcida corinthiana. Mas os argentinos, principalmente Dinamita, não paravam de cantar (e por isso estou rouco até agora). Além disso tudo, o argentino se esforçava para acompanhar os gritos corinthianos e até ensaiou um “Corinthians! Corinthians!”, provando que ele era o argentino mais brasileiro do mundo.

 Brasileiro torce pela Argentina em boteco de Itaquera

Conheci também Miguel Angel, um colombiano que trabalha na Eletropaulo e jurou cortar minha energia durante o jogo do Brasil – espero que tenha sido brincadeira.

Já na prorrogação, Angel Di Maria finalmente deu a alegria que nós argentinos queríamos: o gol. Com a classificação garantida, me despedi das amizades feitas naquele pequeno boteco e voltei de metrô para casa, ainda ouvindo provocações brasileiras.

Entre entrevistas, xingamentos, gritos e amizades, cheguei em casa com a certeza de que terei muito mais história para contar do que se eu tivesse entrado no estádio. Quer saber o que é Copa do Mundo? Assista ao próximo jogo em um boteco de Itaquera.


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Repórter brasileiro se passa por argentino e engana até a imprensa hermana