No século 17, navios sobrecarregados de pessoas trazidas da África começaram a chegar ao nosso país. Era o início de um capítulo vergonhoso para a a história do Brasil: a escravidão dos negros. Só que estes estrangeiros trouxeram para a gente um de nossos componentes mais importantes: muito de nossa riqueza e diversidade cultural. Sem esta contribuição, não seríamos nem metade do que somos.

Valorizar a cultura negra é valorizar a nossa própria cultura popular. Dialetos africanos são falados todos os dias nos terreiros e viraram até gírias usadas por grupos historicamente marginalizados pela sociedade em geral, como os travestis, gays e pessoal da noite. De tão rica e dinâmica, a cultura afro transcende e atinge todas as camadas da sociedade. Está presente em todos os lugares e faz parte do nosso DNA.

Neste dia 20 de novembro, quando é lembrada a morte de Zumbi dos Palmares, mártir pela libertação do povo africano no Brasil, a programação, só na cidade de São Paulo, é farta. Vai de Lady Zu a Paulinho Nogueira, de Zulumbi à banda jamaicana Inner Circle. Tudo de graça!

Mas, saiba, que há muito mais para se ver por aqui nos outros 364 dias do ano. Vem com a gente neste roteiro e saiba que é possível aprender de tudo, de iorubá à capoeira, de samba à culinária dos orixás. É um universo tão vasto e incrível que você vai se surpreender.

Roteiro mágico para se jogar na cultura afro

1. Casa Mestre Ananias é vida!

O mestre Ananias ensina capoeira para várias gerações bem no coração do Bixiga, na rua onde ficava a casa punk Madame Satã. Há uma gama de atividades oferecidas, muitas delas gratuitas para crianças e jovens estudantes da rede pública. Para os demais, os preços são populares. Lá se aprende um pouco de tudo: capoeira, dança, samba de roda, artes em cerâmica, teatro, criação literária e até culinária. Às terças, a roda de capoeira é aberta. É só colar, das 20h às 22h.

Vai ter festão no dia 7 de dezembro, um domingão! Mestre Ananias faz 90 anos e todos estão convidados. Haverá atividades para as crianças, samba de roda, capoeira e almoço. Grátis. A partir das 14h.

Rua Conselheiro Ramalho, 939 – Bixiga – São Paulo (SP) – Tel.: 11 3926-0676

Dora de São Brás na Casa Mestre Ananias

Dora de São Brás na Casa Mestre Ananias

2. Mergulhe de cabeça no circuito quilombola

É possível reservar, com dez dias de antecedência, lugar em roteiros que passam por várias comunidades quilombolas do Vale do Ribeira.

Mais informações: www.quilombosdoribeira.org.br/

Circuito Quilombola

 3. Jacira, mãe do Emicida, conta histórias da mitologia afro!

A Associação Cultural Cachuera vai receber neste sábado, dia 22 de novembro, às 16h (ingresso a R$ 5), a Dona Jacira para uma contação de histórias da vida e de tradições afrobrasileiras. Mãe do rapper Emicida, Dona Jacira também fará exposição de seus bordados e tecelagens com temática afro do dia 1º a 17 de dezembro, com entrada franca.

Dona Jacira conta histórias

4. Espaço Cachuera  mostra cultura viva, mais que viva, vivíssima! 

O próprio espaço Cachuera, onde Dona Jacira se apresentará, é uma atração à parte. De acordo com Renata Celani, coordenadora de comunicação, no universo cultural-social, as culturas populares tradicionais são consideradas como subculturas, algo que está restrito a um evento folclórico. “Nossa intenção é mostrar que essa cultura popular permanece viva e tem uma extrema importância para a identidade nacional”, reforça.

A associação cultural nasceu de um projeto de pesquisas e tem um acervo com mais de 11 mil fotografias e 3 mil horas de gravações com ênfase na cultura afrobrasileira da região Sudeste do país. Toda esta documentação é aberta ao público para visitação e ainda, na forma de CDs, livros e documentários, pode ser adquirida no site.

Rua Monte Alegre, 1094 – Perdizes – São Paulo (SP) – Tel.: 11 3872.8113 – www.cachuera.org.br

Cachuera

5. Samba da vela é bom demais!

A Casa da Cultura de Santo Amaro tem samba da vela toda segunda, às 20h30. O babado rola solto até a vela se apagar. Às quintas, no mesmo horário, o que rola é um samba rock. É só colar, é tudo de graça!

Praça Francisco Ferreira Lopes, 434 – Santo Amaro – São Paulo (SP) –  Tel.: (11) 5522-8897

Samba da Vela na Casa de Cultura de Santo Amaro

6. Centro Cultural do Candomblé terá festa para Xangô

Criado com o objetivo de promover a doutrina do candomblé e seus rituais para pessoas de todas as religiões, o centro é liderado por Pai Toninho de Xangô. Todo mês tem festa aberta ao público, com entrada franca. A próxima é no dia 14 de dezembro, às 18h, em homenagem ao orixá do pai-de-santo. Na ocasião, será servido um dos pratos preferidos de Xangô: a rabada. A única recomendação para o dia da festa é evitar usar roupas nas cores preta e vermelha.

Na casa também é possível, a preços populares, ter acesso a cursos de atabaque, de iorubá e de culinária típica do candomblé. Pratos como acarajé, amalá, feijão fradinho, abará, cajuru e vatapá estão entre os mais pedidos.

Rua do Bosque, 246 -Barra Funda – São Paulo (SP) – Tel.: (11) 3392-5572 – www.paitoninhodexango.com.br/

Festa de XangôFesta de Xangô

7. Samba é patrimônio imaterial da cidade de São Paulo; o barracão da Vai-Vai é coração de mãe

Lá na Vai-Vai só não aprende a sambar quem não quiser. É só colar! Apesar de ser conhecida como o túmulo do samba, a capital paulista tem muitas escolas e blocos carnavalescos. E o samba aqui é coisa séria: é um dos dois únicos patrimônios imateriais da cidade!

Barracão da Vai-Vai – Rua São Vicente, 276 – Bela Vista – São Paulo (SP) – Tel. (11) 3858-3473 – www.vaivai.com.br

Vai-Vai

8. Jongo na veia

O Jongo ou Caxambu é uma forma de expressão que integra percussão de tambores, canto e dança coletiva. Característico da região Sudeste do país, era praticado pelos trabalhadores escravizados de origem bantu, nas lavouras de café e de cana-de-açúcar, como forma de lazer e resistência à dominação colonial. Foram eles e seus descendentes que, em suas comunidades, mantiveram e transmitiram às novas gerações os saberes, práticas e valores contidos nesta manifestação.

Considerado o avô do samba, o jongo é praticado nos quintais das periferias urbanas e em algumas comunidades rurais do sudeste brasileiro. Em Campinas, a Comunidade Jongo Dito Ribeiro é a detentora do Jongo, que é registrado como Patrimônio Cultural Imaterial brasileiro pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) desde 2005 e como patrimônio cultural imaterial em Campinas desde 2013.

Jongo Dito Ribeiro – Rua Domingos Haddad, 01, Residencial Parque da Fazenda – Campinas (SP) – Tel.: (19) 99134-3922 – http://jongocaxambu.org.br/

Jongo

9. Teatro Solano Trindade é marco em Embu das Artes

Francisco Solano Trindade nasceu no Recife, Pernambuco, em 1908. Chegou a Embu em 1961 e se apaixonou pela cidade, sendo um dos precursores do movimento que a transformaria em Embu das Artes. Poeta e ator, foi também teatrólogo, folclorista e pintor. Um poema de Solano, intitulado Tem Gente com Fome, foi musicado em 1975 pelo Secos & Molhados. Só que proibida pela censura, a música só foi incluída em disco em 1980 por Ney Matogrosso, já em carreira solo. Falecido em 1974, a casa de Solano virou um polo de difusão de conhecimento e da cultura negra. Em 2010, um teatro popular foi inaugurado na área adjacente à casa.

Avenida São Paulo, 176 – Embu das Artes (SP) – Tel.: 11 4781-3865/99833-4255

Teatro Popular Solano Trindade

10. Por fim, uma breve playlist na língua dos orixás!

Para mergulhar na cultura afro, que tal algumas músicas brasileiríssimas com trechos em línguas africanas?


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Todo dia é dia de conhecer e valorizar a cultura negra; venha mergulhar neste universo incrível