O mundo pop adora monarquias, rainha disto, rainha daquilo, mas Beyoncé, a maior artista pop da atualidade, é republicana – ops, democrata – declarada. Mesmo que seus shows no Brasil – que encerram nesta terça-feira (17) e fazem parte da turnê Mrs Carter -, tenham coroas e índices de realezas, sua atitude é totalmente dentro dos valores da República. Ela precisa da ação direta, em suas apresentações, com o público (em busca do voto, leia-se apoio) e do corpo a corpo, muitas vezes evitado por muitas divas do pop (com exceção de Lady Gaga). Mesmo que essa aproximação física possa incorrer em perigos do acaso, como o que aconteceu em sua apresentação no estádio do Morumbi, em São Paulo, neste domingo (15), quando um fã mais afoito agarrou a cantora.

Mas Beyoncé tem rebolado, como os bons políticos, para sair de situações constrangedoras. Não só continuou cantando como teve a presença mesmo de costas de avisar a todos que estava tudo bem. Ao perceber que os outros fãs começaram a repudiar o ato do rapaz, fez questão de dizer que “ele estava só muito excitado” e foi até o rapaz dar-lhe a mão. “Divônica”, gritou uma pessoa ao meu lado quando viu o gesto da cantora. Se fosse candidata a qualquer coisa estaria eleita.

Beyoncé surge no momento que o chamado “poder negro” – não só no sentido do termo usado pelo escritor Robert F. Williams, mas como também para se referir às conquistas amplas de igualdade racial em todas as áreas – começa realmente a ser assentado e cultivado.

Não existe nenhum acaso no fato dela, o seu marido e músico Jay-Z e o atual presidente dos Estados Unidos Barack Obama terem relações de amizade. Eles são a afirmação dos negros tendo a mesma igualdade que os brancos no poder. É uma mensagem muito forte e muito nova, pois foi uma etnia por muito tempo rejeitada e considerada como algo inferior, em um discurso de inferioridade tão forte que muitos negros acreditaram neste ideário – como toda forma de opressão faz para melhor convencer o oprimido de sua incapacidade para liderar e ter ideias. Contra a opressão negativa o ato afirmativo de Beyoncé, Jay-Z , Obama e outras é fundamental. 

O orgulho negro de Beyoncé começa em seu próprio corpo. Ela tem volumetria, tem um corpo diferente do ditado pelos padrões atuais: o da supermagra. Ela traz em seu corpo o orgulho das curvas negras. A cantora tem em sua música a história da música negra. Por isto, por mais surpreendente que seja ela ter tocado Ah Lelek Lek Lek Lek (Passinho do Volante), de MC Federado e Os Leleks, no Rock in Rio, o fato não desafina a organicidade musical de Beyoncé, basta escutar o “bass” da nova versão de Crazy in Love que foi feita para esta nova turnê para entender a afinação entre o funk carioca e sua música.

Estão também lá o rebolado das tribos africanas, sensualidade negra como auto-afirmação de uma outra beleza. E sem falar do senso histórico das conquistas dos direitos dos negros sem ser nada expliícto: citações a Donna Summer e Whitney Houston mixadas (o hip hop!) às suas músicas dão um entendimento de seu orgulho racial.

Mas o que é mais incrível é que assim como Obama (goste ou não dele, estamos aqui falando do terreno simbólico que ele representa como o primeiro negro presidente do país mais poderoso do mundo), a questão racial em Beyoncé apesar de forte, passa sem causar alarde nem criar antagonistas. As questões raciais (e também das mulheres) podem passar despercebidas para quem assiste um show de Beyoncé, mas elas latejam como os brilhos do macacão azul da cantora. Enfim, ela é o Obama do pop!


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Beyoncé é o Obama do mundo pop!