Post de Criolo com a hastag #ALataVaiRevidar, referência ao projeto “Cidade Linda” de São Paulo que está apagando grafites. Crédito: Caroline Bittencourt/reprodução Facebook

“Bom dia, Alexandre. Bora falar de música e Lolla?”. Assim Criolo começou o papo exclusivo e descontraído com o Virgula, sem nenhum traço da já folclórica tensão do compositor em entrevistas. Talvez, sinal do amadurecimento que a estrada e os encontros dão, tema recorrente na conversa.

Experiência não falta para o artista que é um dos maiores destaques brasileiros no festival Lollapalooza Brasil que rola em São Paulo nos dias 25 e 26 de março. Rapper desde os 14 anos, Kleber Cavalcante Gomes, o Criolo, lançou o primeiro álbum  “Ainda Há Tempo” apenas em 2006. Na mesma época, Criolo organizava “rinhas” de MCs em São Paulo, mas não tinha ideia que sua música chegaria em grandes festivais do mundo misturando reggae, afrobeat, samba e brega.

Depois vieram os aclamados “Nó na Orelha” (2011), “Convoque Seu Buda” (2014), “Viva Tim Maia!” ao lado de Ivete Sangalo (2015) e o relançamento de “Ainda Há Tempo” (2016).

Medalhões da MPB, Ney Matogrosso, Milton Nascimento, Caetano Veloso e muitos outros elegeram o paulistano de fala “mansa e filosófica” como um dos grandes compositores de sua geração. Mesmo assim, Criolo faz questão de dizer que apesar de já ter escrito canções com 14, 20, 30 e agora 41 anos, ele continua aberto a absorver informações e melhorar, assim como fez quando alterou um verso transfóbico da música “Vasilhame” ano passado.

Na entrevista abaixo, Criolo fala sobre voltar a tocar no Lollapalooza em uma fase mais consolidada da carreira, o impacto que o amadurecimento pessoal tem em sua música e gratidão que sente pelo público e companheiros de estrada como o DJ DanDan.

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No Lollapalooza de 2013 você atraiu uma multidão para o palco alternativo, celebrou a união da família rap e MPB, brincou sobre o Corinthians e pediu um “fora Feliciano”. Neste Lollapalooza, no atual contexto brasileiro, você também vai falar sobre união?

A gente tenta canalizar o que as pessoas querem expressar, mas de forma positiva. Não podemos esquecer que as pessoas também querem participar e a imensa maioria quer construir um caminho melhor.  Não podemos perder a esperança no bom senso. O nosso show tenta absorver isso tudo e trazer de forma positiva com música. Em 2017, a gente quer contribuir trazendo afago para as pessoas que estão precisando muito de carinho no meio desse turbilhão de coisas ruins.

Racionais MC’s, Karol Conka e Emicida já se apresentaram no Lollapalooza. O rap se mostra presente e forte não só nos festivais temáticos, mas nestes grandes festivais de rock e eletrônico. Como você percebe essa presença do rap nos festivais?

Essa troca é ótima. As pessoas se conectam bem melhor por conta da revolução da internet. Os horizontes vão além de escola, trabalho e família, nosso tecido social natural. Ainda bem, né? Nessa interatividade, a gente troca muito mais vivências e culturas. Faz todo sentido se abrir para novas experiências.

O que você está ouvindo atualmente que influencia na sua música e composições?

Cara, o último do Artur Verocai é espetacular! É tão bom que me fez ouvir novamente o disco de 72 dele e todos aqueles arranjos maravilhosos. Aí é fogo, viu cara? (risos). Eu estou ouvindo loucamente.

Falando em rever músicas, em “Vasilhame”, canção do seu primeiro disco que foi relançada ano passado, você trocou o verso “os traveco tão aí, alguém vai se iludir” por “o universo tá aí, oh! Alguém vai se iludir”. Na época você disse que percebeu que o termo é ofensivo à identidade da pessoa trans. A atitude foi bastante elogiada pelo público LGBT. Há outras letras que você mudaria hoje?

Eu não esperava esse abraço e compreensão das pessoas na mudança em “Vasilhame”. Fico feliz. A gente aprende e cai em si do real valor das palavras, né? Por exemplo, um belo dia o DJ DanDan  falou que eu estava usando a palavra denegrir, mas sem pensar no sentido. O lance da palavra negro ser usado como ofensa, sabe? Meu pai é negro e falava assim, mas nunca tinha pensado sobre isso. Eu ouvi o que o DanDan me passou e aprendi. Ofender alguém não tem a ver comigo nem antes, nem hoje e nem nunca. A gente vai aprendendo e vamos lá, podemos mudar a letra, sim. Já fiz isso outras vezes. Em “Subirusdoistiozin” tem uma hora que eu dizia: “As vadias quer, mas nunca vão subir”. Aí eu mudei para “as pessoas vadias que usam pessoas como trampolim social”. Em outra música eu falava “se o demônio usa saia, valorize sua mina”. Olha que armadilha! Eu queria fazer um texto sobre valorização da companheira e usei um jargão que mais uma vez demoniza a imagem da mulher. Eu mudei para algo como se o demônio te visitou, valorize a sua companheira. Eu escrevi canções com 14 anos de idade, 20, 30. Agora com 41 continuo aberto a absorver informações e melhorar.  Isso reflete na arte. Amadurecer atrai uma corrente positiva além do rap.

Criolo nos bastidores

Criolo e Dj DanDan em êxtase com o público de Maraú, Bahia
Criolo e Dj DanDan em êxtase com o público de Maraú, Bahia
Créditos: Reprodução Facebook

DJ DanDan é um bom exemplo de parceiro que acompanha este amadurecimento artístico e pessoal

Sim. DanDan é irmão, pai, filho, tudo ao mesmo tempo e faz muitos anos. Um cara que tem o dom de movimentar a galera e pode ter certeza que vai sacudir muito o Lolla. Além dele, sempre reforço que meus pais são incríveis e vitais. Minha mãe, Maria Vilani, acredita sempre no ser humano e usa sua força para trabalhar na base, na escola pública, todos os dias, pra gente ter cultura e educação, mesmo nas maiores adversidades. Eu atuei como educador e sou artista, quer um exemplo mais bonito do que minha mãe?

Como foi esse período como professor?

Eu fui aluno de projeto social e isso mudou minha vida. Desde de você ter o que comer no dia até entender um pouco sobre o universo das artes. Eu sonhava um dia ser professor para retribuir para as pessoas tudo o que eu aprendi. Aí eu fui professor por um período e hoje como cantor e compositor eu continuo nessa construção.

O que esperar do show no Lollapalooza?

Vai ser uma apresentação com o coração e vamos caminhar por um pouco de cada um dos álbuns. Vem junto, família.

 

Criolo também toca na edição argentina do festival. Abaixo, você relembra o show do Lollapalloza 2013 na íntegra

SERVIÇO

Lollapalooza Brasil 2017
Datas: 25 e 26 de março
Local: Autódromo de Interlagos – Avenida Senador Teotônio Vilela, 261 – Interlagos, São Paulo (SP).
Classificação etária
Crianças com menos de 05 anos: não será permitida a entrada.
De 05 a 14 anos: Permitida a entrada acompanhado por pais ou responsáveis.
A partir de 15 anos: Permitida a entrada desacompanhados.
Acesso para deficientes
Vendas: https://www.lollapaloozabr.com/tickets/
Site oficial: www.lollapaloozabr.com

Line-up Lollapalooza 2017

Confira dia, palco e horário de apresentação das atrações do Lollapalooza 2017
Confira dia, palco e horário de apresentação das atrações do Lollapalooza 2017
Créditos: Divulgação

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'As pessoas precisam de carinho no meio desse turbilhão de coisas ruins', diz Criolo