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A música começa bem normalzinha, daquelas sertanejas que todos conhecemos, com uma historia de que o jagunço é um lobo solitário, que manda no sertão, matou mais de mil pessoas e tal. Até descobrirmos que o que ele quer mesmo é sair do armário, quando entra o inesperado refrão: “Ando meio triste e angustiado/ Segurando o rebolado/ Com vontade de desabafar…Deixa eu sentar, morder a fronha/ Ser uma biba sem vergonha/ Dê-me a mão, vamos passear/ Venha pro meu mundo encantado/ Aqui tem pouco veado/ Hoje a purpurina vai rolar“. Estamos falando da música de temática gay O Lobo e o Frango, da dupla Zé Barrero e Catuaba.

Na verdade, os músicos, que também são humoristas, fazem o sertanejo comedy, rótulo musical que criaram e que trata de temas polêmicos recheados de humor. Ok, não é a primeira vez que a gente vê músicos tratando sobre o mundo gay em canções engraçadinhas (tivemos os Mamonas Assassinas, lembram?), Mas no meio sertanejo, o lance é inédito.

O trabalho dos dois é super recente, tem apenas três meses, quase um bebezinho, e o primeiro disco, Os Venenu do Sertão, será lançado ainda no primeiro semestre. Para saber mais sobre a dupla e principalmente como eles lidam com o gênero de sertanejo gay (por causa da música), trocamos uma ideia com Zé Barrero. O cantor, se mostrou bem a vontade com a aceitação toda que estão tendo, mas deixou claro que o mundo colorido de O Lobo e o Frango é apenas um dos temas que costumam abordar. Se liga no que eles têm pra mostrar. Ui!

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Virgula Música: Como é esse lance de sertanejo comedy?

Zé Barrero: O projeto nasceu através de uma brincadeira em 2006, quando eu postava uns vídeos descontraídos e de zoeira no YouTube. Daí eu e o Catuaba retomamos esse trabalho em 2014, mas de uma forma mais profissional.

Mas vocês são músicos ou comediantes?

Os dois. A gente sempre trabalhou com música. Nós tivemos duplas na infância, cada um tinha a sua. E os dois também passaram por bandas de baile tocando outros gêneros. Depois nos encontramos e formamos o Zé Barrero e Catuaba e criamos o sertanejo comedy, que foi o que gostamos mesmo de fazer.

Sobre O Lobo e o Frango, como surgiu essa ideia de fazer uma canção gay?

Assim como todas as nossas músicas, parte da ideia é fazer o público se divertir. Na O Lobo e o Frango queríamos falar das pessoas terem o direito de se expressarem, de ser o que elas são e acabar de vez com o esse preconceito. Usamos o humor para pode falar desse assunto polêmico.

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Um dos links do vídeo no YouTube está com o título de sertanejo gay. Esse gênero é ok pra vocês?

Totalmente! A repercussão foi enorme e o impacto foi muito positivo com o público gay. As pessoas nos mandam mensagens dizendo que adoraram a música. Essa galera acolheu a gente com muito carinho, então pra gente é motivo de orgulho em ser classificado como sertanejo gay.

Não rolou um medo de serem mal interpretados?

As pessoas entendem que é um trabalho de comédia. Tanto que não focamos apenas em músicas gays, tratamos de outros temas. Gostamos de entreter a galera tratando de temas polêmicos com naturalidade.

Como o público do sertanejo reagiu à música?

Bom, no início a música parece ser séria, né! O cara machão que vai revelando seu lado gay. O público se espanta no começo, mas logo já entra na brincadeira e vai no embalo. Isso acaba aproximando as pessoas da realidade. O que pra muita gente ainda é um tabu, pra gente é normal. Claro que, algumas pessoas do sertanejo até acham ruim e sempre rola uns comentários do tipo ‘Então quer dizer que peão é viado?’, mas é a minoria e a gente sabia que isso ia rolar.

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Acontece das pessoas acharem que vocês são uma dupla sertaneja que defende o movimento gay?

Como O Lobo e o Frango foi o nosso primeiro single, algumas pessoas ainda acham que somos cantores sertanejos gays. Mas a maioria entendeu que é só um dos temas.

Vocês tem alguma outra música de temática gay?

Sim, temos a Janaína, que conta a história de dois caras que estão disputando uma mulher, mas ela gosta de outra. Tem os versos: “A Janaína não quer nenhum de nós dois/ Prefere tá com a Flávia e ignora nossa dor/ Eu não sabia que ela gostava de menina/ ‘Vão vê se eu tô na esquina’/ E jogou fora nossa flor”

A aceitação da música está sendo ótima e o disco completo sai em breve. Qual a expectativa agora?  

Ah, nossa agenda de shows está cada vez mais lotada, com apresentações todo fim de semana. Também queremos lançar mais videoclipes engraçados. Usamos a internet como ferramenta e o trabalho está se destacando cada vez mais. Está tudo ótimo!

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Assista aqui ao vídeo de O Lobo e o Frango, e para saber mais sobre Zé Barrero e Catuaba, acesse o site oficial da dupla.

 


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Dando pinta: sertanejo gay promete ser a nova fronteira do gênero