Marina de La Riva


Créditos: Divulgação/Cristhian Gaul

A carioca Marina de La Riva é sem dúvidas a mais cubana da nova geração de cantoras da nossa MPB. Filha de pai cubano e mãe mineira, Marina possui repertório dividido em canções tradicionais e inéditas, tanto em espanhol como em português.

Para o ouvinte casual, uma mistura assim chega até a confundir. Afinal de contas, quem é Marina de La Riva? Uma brasileira com sotaque latino, ou uma latino-americana com um excelente português? Na verdade, nem uma nem outra, e as duas ao mesmo tempo.

No último dia de fevereiro, Marina lançou Idílio, seu segundo disco. Com catorze faixas que vão da melancolia nostálgica de Ausência – de Vinícius de Moraes e Marília Medalha – ao animado mambo na versão de Estúpido Cupido, o álbum aprofunda todos os elementos apresentados em Marina de La Riva, o disco de estreia da cantora, lançado em 2007.

Em conversa por telefone com o Virgula Música na última sexta-feira (02), Marina explicou a pluralidade de sentimentos expostos em Idílio, negou o desejo de ter nascido em outra época, e deixou claro que, com o pandeiro em uma mão e um par de maracas na outra, está plenamente satisfeita com a mescla que é.

Virgula Música: Como você conseguiu manter a unidade sonora de Idílio, mesmo trabalhando com tantos músicos, arranjadores e compositores?

Marina de La Riva: Acho que é porque a alma é minha. Não sou uma artista que simplesmente vai lá e coloca a voz. Sempre tive que tomar conta do meu trabalho; abri meu próprio selo e hoje, apesar de ter uma equipe maior, ainda escolho o repertório, os arranjadores, acompanho as gravações desde o início… Não faço isso por capricho, mas porque a música é minha. Se eu não cuidar dela, quem vai cuidar? Se a “Dona Música” me ama, eu tenho que amá-la de volta (risos). Eu sou a trama do meu trabalho.

Virgula Música: O disco foi gravado quase todo de uma vez, mas demorou quase cinco anos para ser produzido. Como foi esse processo?

Marina de La Riva: A gravação em si foi muito rápida, porque eu vinha fazendo uma pré-produção mental muito longa; a espinha dorsal do disco foi feita em uma semana. Gravei uma música em Cuba, em 2009 [Canción de Las Simples Cosas], mas as outras gravei aqui em São Paulo, no ano passado. Várias músicas foram gravadas ao vivo no estúdio, o que além de dar vida para a música, deixá-la mais orgânica, acelerou tudo.

Virgula Música: Em seu primeiro disco você cantava canções lentas, românticas, mas em Idílio elas aparecem ainda mais fortes, com uma sensação de tristeza e melancolia em algumas faixas. O que motivou essa opção por faixas mais “deprê”?

Marina de La Riva: Não acho que Idílio seja um disco “deprê” (risos). É um disco denso. Sou uma intéprete especialmente de canções, então é natural pender para as mais emotivas, densas, porque está na minha natureza, nas minhas referências. Mas no mesmo disco temos [canções mais animadas como] Juracy, Estúpido Cupido, outras músicas de outras cores.

Virgula Música: A edição especial do álbum, à venda apenas pela internet, tem Propriedade Particular, de Lulu Santos. Por que você escolheu essa música?

Marina de La Riva: Eu acho essa música uma gracinha, simples assim (risos). A minha história com o Lulu é muito legal. Quando eu montei o repertório do meu DVD [Ao Vivo em São Paulo, de 2010], escolhi cantar Adivinha O Quê e, meses depois, sem saber que eu havia gravado a música, ele me convidou para cantá-la com ele no acústico que iria gravar, uma grande coincidência. E foi muito legal ter [o violonista] Luizinho Sete Cordas, um cara que tocava com o Cartola, tocando uma música pop do Lulu no disco. São quase dois opostos.

Virgula Música: Você interpreta várias canções de autores antigos, alguns do início do século passado. Às vezes você tem a sensação de que gostaria ter nascido em outra época, ou até em outro lugar – em Havana, talvez?

Marina de La Riva: Você sabe que não? Eu vou lá só para beber da fonte, não tenho esse saudosismo, não. Talvez meu único desejo é ter conhecido a Cuba que não existe mais, um país que não precisava ser dividido, com gerações que não precisavam ter sido apartadas por uma ideologia vaidosa. Mas eu não seria brasileira, talvez nem cantasse, não estaria aqui dando entrevista… A vida seria outra, então deixa pra lá (risos).

Virgula Música: Ao decidir regravar composições tão antigas existe um desejo explícito de reapresentar essas músicas para a nova geração, que te ouve em 2012?

Marina de La Riva: Nunca pensei sobre isso, mas acho que sim. Não é a minha primeira bandeira, mas acho que está implícito. Penso que a música boa é atemporal, tanto é que eu vou lá e gravo algo de 1920, e em seguida gravo Lulu Santos e uma inédita de um compositor cubano. O tempo é outro, e essa é uma bela forma de eternizar o trabalho desses artistas, valorizá-los.

Virgula Música: O Brasil não tem a tradição de valorizar outros artistas da América Latina. Você acha que cantar em espanhol limita o seu alcance de público no Brasil?

Marina de La Riva: Claro que sim, não tenho dúvida. Mas o meu repertório é o mais transparente possível. Parafraseando o Tom Zé no documentário dele [Fabricando Tom Zé, de 2007]: Eu fiz assim porque eu não sabia fazer diferente. Eu canto em espanhol e em português porque eu sou assim, em momento algum fui medir meus passos e pensar em como fazer mais sucesso. É música que eu quero cantar, não importa se é em espanhol ou em português.

Marina de La Riva – Idílio
Produzido por Pupilo e Pepe Cisneros. Mixado por Sebastian Krys em Los Angeles e masterizado por Andrés Mayo.
Gravadora: Universal
Preço: Em CD, a partir de R$ 24,90. Deluxe Edition disponível na iTunes Store por US$ 9.99.


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Em 'Idílio', Marina de La Riva aprofunda e refina a mistura musical entre Brasil e Cuba