Sem uma longa demora, Mick Hucknall é quem chega. O vocalista, muito vermelho por causa do calor infernal que fazia em São Paulo, ficou um pouco surpreso com a recepção calorosa que recebeu dos jornalistas. Mas a entrevista não foi tão simpática como parecia ser.

Mick fez questão de dizer que não sabia nada sobre a música brasileira, ainda que tenha feito vários shows por aqui. Como alguns repórteres insistiram em questioná-lo sobre a MPB, ele foi direto: “Eu sou inglês, quero tocar a minha música. Não vejo necessidade em tocar a música brasileira, apesar de gostar”.

Talvez tenha ficado algum rancor em relação a Heitor TP, músico que fez parte do Simply Red durante algum tempo. Mick foi bem enfático sobre sua relação com o guitarrista: “Eu não tocava a música do Heitor, o Heitor é que tocava a minha música”.

Ainda sobre o Brasil, o músico revelou que a única coisa que sabia sobre Brasília era aquilo que havia lido quando era jovem, nas enciclopédias: que era uma cidade construída no meio do mato. Poderia ter sido mais simpático, heim?

Por que aceitou o contite de tocar aqui então? “Adoro estar no Brasil. Sempre passei bons momentos aqui. Gosto da atitude, da comida e das meninas brasileiras”. Ah tá…

Outro assunto que o irritou bastante foi a constante relação feita entre o Simply Red e os anos 80. “Não acho que nosso último álbum [“Home”] tenha um gostinho de anos 80. Fazer uma referência ao Simply Red como uma banda dos anos 80 é um grande erro. Somos a banda que mais vendeu álbuns no Reino Unido nos anos 90. (…) Mas eu até entendo essas perguntas. Quando o Pretenders e o Simple Mind vieram para o Brasil, as perguntas foram nesse tom”.

Mick Hucknall acaba de lançar um novo selo musical, mas garante que a única banda a utilizá-lo será o próprio Simply Red: “Não quero revelar a música britânica. Quero dar um exemplo às gravadoras e aos artistas. A partir de agora, nenhum outro artista vai querer assinar um contrato sem deter os direitos de propriedade sobre a cópia master”. O músico está irritado com as gravadoras, que, segundo ele, têm roubado o produto intelectual dos artistas. Por isso, ele acha bastante irônico o fato de essas mesmas empresas levarem aos tribunais os jovens que compartilham músicas na internet.

Para finalizar a entrevista, o inglês pediu para fazer uma reclamação em público (a redatora admite que pensou: “Xi, lá vem ele pedir para nunca mais associá-los à música dos anos 80”. Ou então “Não queremos gravar música brasileira e pronto”). O recado era direto para dois oficiais da alfândega que o fizeram passar por maus bocados na chegada ao Brasil.

No avião, todos os passageiros tiveram de preencher um documento que seria, mais tarde, apresentado no posto da Polícia Federal, no aeroporto. Pois bem, quando lá chegaram, os oficiais pediram que um novo documento fosse preenchido. Devido ao tamanho do papel, os músicos alertaram aos policiais que mais de 200 pessoas teriam de fazer a mesma coisa e que aquilo se tornaria um caos. Nesse momento, os artistas foram levados para outra sala, onde foram, segundo Hucknall, mal tratados e agredidos verbalmente. “Foram muito ríspidos conosco, sendo que a única coisa que queríamos era ajudá-los”.

O vocalista disse que estava fazendo a reclamação porque sabia que os brasileiros mereciam um serviço melhor. “Apesar desse problema, é um prazer estar aqui”.

Confira a entrevista de Chrissie Hynde, vocalista do Pretenders

Confira a entrevista de Alanis Morissette

Confira fotos da coletiva


int(1)

Entrevista coletiva do Simply Red