Confira exemplos de bandas brasileiras que já tocaram no exterior


Créditos: divulgacao

Toda banda sonha em viver de música, estendendo turnês para fora do país e girar o mundo, sendo guiadas pelas próprias guitarras. Anteriormente, esse era um objetivo quase utópico que poucas bandas brasileiras conquistaram – os exemplos mais conhecidos são Sepultura, Angra, Ratos do Porão, e mais recentemente, o CSS e o Bonde do Rolê. Porém, com a popularização da internet e o estreitamento das relações da cena independente, marcar shows em outro país não é mais um bicho de sete cabeças.

Por ser um festival interativo, o South by Southwest (SXSW), que acontece em Austin, no Texas, simboliza uma grande oportunidade para as bandas brasileiras nos Estados Unidos. O evento é um dos maiores festivais de música dos EUA. Em quatro dias de concertos, cerca de 2 mil shows acontecem em mais de 90 locais ao redor do centro da cidade.

“Surgiu a oportunidade para tocar lá pela primeira vez em 2009 pois teria um showcase de bandas brasileiras e fomos chamados”, conta Marcelo Pata, vocalista e multi-instrumentista da banda paulista Holger. “Nunca achávamos que isso era possível, mas não existe muito segredo para tocar fora do Brasil”.

Marcando shows por conta própria e contando com o apoio de contatos feitos com outras bandas, o grupo tocou em duas edições do SXSW (2009 e 2011), dois Pop Montreal International Festival, no Canadá (2009 e 2010) e um Canadian Music Week em Toronto (em 2011). “Estamos indo no segundo semestre para nossa terceira e maior turnê, com duração de um mês. Tocaremos no Pop Montreal de novo e no CMJ [College Music Journal, em Nova York] pela primeira vez”, comemora o músico.



Outra banda que se encaixou no SXSW foi o Some Community. “Sempre quisemos participar do festival e nos inscrevemos sem pretensão de conseguir. Felizmente rolou o convite, daí nos reunimos e pensamos em investir em uma turnê lá fora”, conta Fernando Fernandes, guitarrista do grupo. O Some Community saiu do Brasil para fazer sua primeira turnê com 12 datas no exterior em março, passando por Estados Unidos e Canadá. “Tocamos em Nova York, Washington, Filadelfia, Boston, Toronto, Detroit, Chicago e em Austin, no SXSW”.

Logicamente, apresentar trabalho autoral em inglês facilita a identificação por parte do público estrangeiro. “Tivemos a idéia de fazer um excursão para o exterior há um bom tempo, e o fato de cantar em inglês ajuda nas decisões de turnês e divulgações fora do Brasil”, opina o baixista Molinari, do The Name. EM 2009, a banda sorocabana também recebeu convite para tocar no SXSW e alinhou uma apresentação no Canadian Music Week e no V.O.V. Festival, no Arkansas. O grupo pôde arcar com os custos da empreitada por meio da extinta Lei de Intercâmbio Cultural, do Ministério da Cultura brasileiro.

Representante do metal, a Shadowside já perdeu a conta do número de shows que realizou fora do Brasil. “Tenho a conta do número de países: foram 20 até hoje, sendo Estados Unidos e 19 na Europa”, contabiliza a vocalista Dani Nolden, que apesar do número expressivo de apresentações, garante que a banda não teve pressa para trilhar o caminho internacional. “Não queríamos fazer shows fora do País sem que estivéssemos preparados para isso, então tocamos bastante no Brasil antes de aceitar os convites”.

Nesse processo de preparação, a Shadowside abriu shows para grandes expoentes do segmento metal em apresentações no Brasil, como Nightwish, Primal Fear e Shaman, até vencer o concurso de bandas do Indianapolis Metal Fest, em 2007. “Na segunda vez que participamos do festival, éramos uma das bandas principais, não mais a abertura”, conta Dani. Com isso, a Shadowside despertou as atenções também da Europa, tocando na Espanha, Romênia e Bósnia-Herzegovina.



E a língua pátria? Tem chance?

Mas para tocar fora do Brasil é obrigatório cantar em inglês? Não necessariamente: o sexteto paulista Garotas Suecas garantiu em setembro de 2010 uma turnê com 28 datas por cidades americanas como Nova York, Los Angeles, São Francisco e Chicago tocando um repertório exclusivamente em português, com a sonoridade calcada em influências de jovem guarda, rock psicodélico, funk e soul. “O contato com o público estrangeiro fez reafirmar nossa ‘brasilidade’, afirma o guitarrista Tomaz Paoliello. “Todos adoram o português e ouvir música brasileira. Os brasileiros que ficam sabendo das nossas turnês no exterior cobram muito mais que cantemos em inglês do que os americanos”, aponta.

A escalada da banda nos EUA começou com o guitarrista Sérgio Sayeg, que estava estudando em Nova York e conseguiu marcar quatro shows e a gravação de um programa de TV. Nessa primeira viagem, o grupo conheceu uma booking agent, que marcou as turnês seguintes. “Tocamos também na Austrália, na Espanha e em Portugal. No total já devemos ter feito mais de 60 shows fora do País”, estima Paoliello.

A dinâmica de passar tanto tempo viajando requer seriedade e dedicação de todos os membros envolvidos. “Para as bandas que estão afim de fazer o mesmo, o lance é saber que vai ser uma ralação. Quando viajamos fazemos shows em sequência, toda a noite. Na última viagem aos EUA passamos cinco semanas e trinta shows quase todos em cidades diferentes. Viagem durante o dia e show à noite. Não tem vida fácil”, avisa.



A grande procura por turnês fora do Brasil não expressa somente a realização de um sonho adolescente das bandas de atingir nível internacional; também revela certas deficiências no circuito nacional. Andy, guitarrista e vocalista do The Name, acredita que a cena tem crescido bastante, mas ainda carece de um pouco mais de profissionalismo, tanto na execução do trabalho musical quanto na contratação de artistas. “Os profissionais se sentem fazendo algum tipo de favor por tocar em uma determinada casa ou contratar um determinado artista. Acho que pouca gente entendeu que o mercado musical é ‘business’ e não apenas um monte de gente circulando atrás de esmola para tocar”.

Apesar dos problemas, o circuito brasileiro de shows parece estar se estabilizando. “Enxergamos como um circuito que ainda é pequeno mas está crescendo a grandes passos”, opina Pata. “Há ainda muito a se aprender. Tem muita gente sacando o quão ingênuo é nosso mercado e se aproveitando disso. É preciso saber usar as próprias pernas e cabeças para andar”, conclui o vocalista.

Para Tomaz, o comprometimento dos envolvidos na cena independente é essencial. “Acho que o amadurecimento da cena independente passa pelas bandas, pelo público e pelos profissionais envolvidos. O ‘ativismo’ do público ao ir aos shows e comprar o disco, frequentar blogs de música, e correr atrás da música que quer ouvir é essencial para a cena rolar”, opina.

Roubadas

OK, é muito legal mostrar seu trabalho lá fora para uma plateia diferente, mas… tocar em um país estranho também é sujeito a roubadas, como aconteceu com o Some Community. “Tivemos um show que não aconteceu na Filadélfia”, conta Fernando. A banda marcou a data ainda no Brasil, mas ao chegar no local, constataram que o bar não tinha estrutura para fazer o show. “Poderíamos ter feito em um esquema improvisado, mas era arriscado. No final, foi bom porque aproveitamos para descansar em casa de amigos.”

“As roubadas acontecem no Brasil e fora. É totalmente normal”, afirma Tomaz. “Tem shows nos quais o som não está bom, acontece alguma coisa com equipamento. Nosso primeiro caso de quebra de van foi agora na Espanha, por exemplo. No Brasil, isso ocorreu apenas essa semana, quando íamos para um show em Bauru. Acontece lá e aqui”.

Bruno, baterista do The Name alerta: “Dentre diversas coisas, tome primeiro cuidado ao alugar carros, que em geral têm diversas taxas adicionais nos valores de aluguel que a maioria de nós não sabe. Levamos um susto imenso quando fomos pagar o carro que alugamos e foi aquela correria para poder angariar mais limite nos cartões.”



No caso da Shadowside, a situação foi tão complicada que quase pôs em risco a popularidade da banda com seus fãs em West Virginia, nos EUA. “Tínhamos um show marcado, porém fomos recebidos cedo na casa de show por um suposto técnico de som, dizendo que o dono não estava lá e que não haveria show, que não havia equipamento e mais várias outras desculpas”, conta Dani. “Ele se recusou a pagar e acomodar a banda. Depois de muita discussão, simplesmente fomos embora para a próxima cidade e deixamos que nosso empresário na época cuidasse de tomar as medidas legais. Depois descobrimos que nossos fãs estavam furiosos, porque o show aconteceu apenas com as atrações de abertura e que ele nos acusou de não aparecer para tocar!”.

Segundo a vocalista, as bandas sempre devem tomar cuidado com as pessoas com as quais elas se associam, sejam empresários, agentes e principalmente organizadores de eventos. “Se alguém te prometeu alguma coisa, faça com que eles cumpram antes de você sair de casa para tocar. Teríamos tocado aquele show mesmo sem que o promotor honrasse seu compromisso, apenas em respeito aos fãs, mas esse tipo de coisa não pode acontecer; pode acabar com a carreira de uma banda e causar prejuízos morais e materiais”, conclui.


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