Primeiro álbum dos Gilsons chega nas plataformas digitais.  Da esquerda para direita: José Gil, Francisco Gil e João Gil

Um novo amanhã, é isso que os Gilsons visualizam em “Pra Gente Acordar”, primeiro álbum do trio que chega nesta quarta-feira (02) nas plataformas de streaming. Esse novo amanhã, ansiado pelos artistas, é um lugar guiado pela liberdade de ser quem se é, um ambiente livre de julgamentos e essas atitudes são impulsionadas, principalmente, pelo amor e pelos encontros, de pele, de alma e de coração.

José Gil, João Gil e Francisco Gil apresentam o álbum “Pra Gente Acordar”, com 9 faixas, após o lançamento do EP “Várias Queixas” (2019). Guiados por sons do violão de nylon, a influência de ritmos africanos, como o Ijexá, e com a presença de elementos eletrônicos, o trio versa sobre as diversas facetas e possibilidades do amor e como esse ato pode servir de incentivo para transformação. Seja o amor romântico, familiar, a saudade lugares e momentos ou o sentimento carnal. As diferentes formas de expressão desse sentimento são desenvolvidas ao longo das faixas e seguem como fio condutor do álbum.

“Esse amanhã, que soa como utópico, diz sobre a capacidade da gente ser sem medo. Ela acaba tocando em todas as esferas das minorias. Porque em uma sociedade brasileira onde se mata homossexuais, transexuais, têm uma mortalidade negra muito alta e o próprio vírus deixou a gente sem ter essa possibilidade do encontro. Então essa canção [Pra Gente Acordar] acaba conversando com um pouco de tudo isso, esse novo amanhã é esse lugar onde todo mundo possa ser, onde todo mundo possa ser respeitado, possa ser amado”, explica Francisco Gil sobre a faixa-título do álbum.

“Pra Gente Acordar” conta com a produção musical de José Gil e traz a participação de Júlia Mestre como co-autora das faixas “Pra Gente Acordar” e “Duas Cidades”. Enquanto “Proposta” foi iniciada pelo percussionista Léo Mucuri e desenvolvida por José Gil e Mariá Pinkusfeld. Já em “Des”, a música de João ganha a letra de Carlos Rennó e “Voltar à Bahia”, que encerra o álbum e as parcerias, foi composta por Francisco Gil com Clara Buarque e conta com arranjos de Jaques Morelenbaum.

Em entrevista, João Gil, José Gil e Francisco Gil contaram mais detalhes sobre a produção do disco. Confira abaixo:

A família de vocês é bem musical, e acredito que seguir o caminho da música sempre foi uma coisa natural. Mas quando vocês decidiram levar a parceria da família para os palcos e juntar os Gilsons?

João Gil: Foi uma coisa que aconteceu. O José foi fazer administração na faculdade e o Fran foi trabalhar com cinema, chegou a fazer faculdade também, e eu fui fazer faculdade de design. Em um primeiro momento nós nos juntamos para formar uma banda, a Sinara. E foi nesse momento que começamos a enxergar a música como um lugar para se profissionalizar, onde queríamos botar nosso esforço e trabalho. Eu acho que a banda foi bem importante pra gente entender essa história toda. Mas o Gilsons mesmo rolou quando o José foi chamado pra fazer um show voz e violão na Gávea. Ele chamou o Francisco e nessa que eles estavam montando repertório me chamaram para completar esse time, mas foi um show super despretensioso. Fizemos para o José mostrar as músicas dele e sair um pouco dessa fórmula, porque na banda a gente tinha as coisas super definidas, no show foi uma chance da gente mostrar esse outro lado também. A partir desse show que os Gilsons formou e assim seguimos.

Em 2019 vocês lançaram o EP “Várias Queixas” e agora chega o álbum “Pra Gente Acordar”. Como foi esse caminho percorrido até o lançamento do álbum, porque nesse período teve alguns singles e também coincidiu com o crescimento da popularidade do trio.

José Gil: É, eu acho que essas músicas assim por si só já dizem bastante do caminho. Com o lançamento do EP ficamos muito com desejo de fazer um álbum. A gente tinha esse pensamento, mas logo depois chegou a pandemia e mudamos um pouco o foco e acabamos encontrando parcerias super bacanas, Francisco fez conexões pela internet. Por exemplo, com a Jovem Dionísio que foi uma música que partiu 100% dessa temática do isolamento e é uma composição feita pela internet com o simbolismo da pandemia muito forte. Foi muito importante para gente o resultado desses trabalhos da pandemia, foi surpreendente na verdade. As pessoas estavam em casa e calhou das pessoas estarem nos escutando em casa, compartilhando com os amigos, um movimento da internet muito forte com as nossas músicas, e aí a gente chegou nesse lugar de uma audiência maior.

Depois encerramos esse ciclo de parcerias e entendemos que era o momento de focar no disco. Esse disco vem para fechar esse ciclo que começamos lá atrás. Mantendo ainda a mesma banda, um trompete muito presente, violão de nylon no primeiro plano, teclados e nossas composições. Então marca o fechamento de um ciclo, mas ainda com a mesma roupagem. Querendo entregar a mesma linguagem com os elementos eletrônicos muito presentes nas batidas dando suporte para essa coisa mais tradicional do violão.

Era até uma coisa que eu ia perguntar sobre o instrumental das faixas, porque no EP fica um gosto de quero mais e acho que esse quero mais vem no disco. Como foi construir esse lado do álbum? Porque tem a influência da MPB e de elementos percussivos, mas também tem a presença de alguns beats, principalmente no início da faixa “Um Só”, como foi esse processo?

José Gil: Você deu o exemplo de uma música que é até a mais peculiar do disco. Porque o Pep [Starling], que é um super parceiro nosso, produz as coisas com a gente e ele é um cara beatmaker de trap, hip hop e eu sou um produtor de coisas bem brasileiras. Eu gosto muito de mexer com os elementos eletrônicos, mas muito na linguagem da música brasileira. Nessa canção a gente tinha um pouco de dificuldade, porque queríamos uma coisa mais pop, o lado mais “Love Love” do Gilsons e ele foi o cara que pediu para assumir mais essa faixa. Então ele deu uma primeira cara para essa batida e depois nós fomos só lapidando, trazendo ritmo e botando mais uma coisas brasileiras dentro desse hip hop.

Agora na música “Pra Gente Acordar” vocês narram um novo amanhã, em uma realidade mais harmônica e tranquila. Eu sinto que todo mundo está precisando desse novo amanhã, com todos esses acontecimentos políticos, sociais e sanitários que aconteceram nos últimos anos. Como vocês acham que a gente pode se aproximar desse novo amanhã narrado na faixa?

Francisco Gil: Essa é uma canção pré-pandêmica com um recado lá de trás e que foi se ressignificando com o passar do tempo. Esse amanhã, que soa como utópico, diz sobre a capacidade da gente ser sem medo. Ela acaba tocando em todas as esferas das minorias. Porque em uma sociedade brasileira onde se mata homossexuais, transexuais, têm uma mortalidade negra muito alta e o próprio vírus deixou a gente sem ter essa possibilidade do encontro. Então essa canção acaba conversando com um pouco de tudo isso, esse novo amanhã é esse lugar onde todo mundo possa ser, onde todo mundo possa ser respeitado, possa ser amado. E é o que a gente traz um pouco em todo nosso universo das canções. “Pra Gente Acordar” deixa bem marcado isso. Acreditamos muito nisso, estamos cada vez procurando nos tornar seres ainda mais conscientes. Então é uma coisa que parte da gente, da nossa caminhada e do nosso processo de evolução.

Puxando esse papo de respeito e amor, recentemente perdemos a escritora bell hooks que tinha como um dos principais pensamentos o ato de amor como um ato de ação, revolução e modificação. E eu sinto que vocês falam bastante disso nas letras, quando vocês perceberam esse foco nas letras do trio e como vocês acham que as músicas podem impactar nas pessoas?

Francisco Gil: Foi uma coisa muito genuína, as nossas composições em geral sempre vão para esse lugar e partem de lugares diferentes. Temos canções de amor, como por exemplo, a que o João fez pra vó dele, tem canção de amor à Bahia e tem canção de amor no sentido sexual, do orgasmo. Nisso, “Pra Gente Acordar” acaba abrindo o disco colocando o amor nesse lugar de revolução, colocando o amor nesse lugar de transformação. E é colocar o amor nesse pedestal mesmo, eu acho que a transformação vem da capacidade da gente amar sem forma. É justamente daí que eu acho que vem a revolução onde todo mundo vai poder ser sem medo, onde todo mundo não vai ter medo de se machucar através do amor.

João, sobre a faixa “Bela”, como foi produzir essa faixa para sua avó e quais são as lembranças mais marcantes que você tem dela?

João Gil: “Bela” é uma música que eu fiz para minha vó, minha vó Belina, e o apelido dela era Bela. Foi uma música que eu fiz para o aniversário de 80 anos dela. E só lembranças boas, minha avó era uma das pessoas que eu era mais próximo. Ela foi uma super entusiasta quando o Gilsons começou a rolar, ela adorava o projeto e sempre deu força. Como o Francisco falou, é uma música que fala de amor só que num lugar que não é necessariamente um amor romântico. Talvez seja um sentimento até mais “puro”, porque não tem essas outras camadas que existem quando é um amor de outras pessoas. É de um amor muito mais pelo amor mesmo. Além disso, é uma música muito especial para mim porque é uma música que eu fiz sozinho, não é uma parceria, então tem esse lugar. E eu fiquei superfeliz dos meninos pirarem e deixar ela no no disco.

Sobre “Voltar à Bahia”, nela vocês falam da Bahia como um lugar para se encontrar, com um sentimento de pertencimento. Além de destacar como um lugar ancestral. Como é essa relação de vocês com a Bahia e vocês se consideram mais baianos do que cariocas?

Francisco Gil: Eu acho que a nossa musicalidade é muito mais baiana do que carioca, mas somos bem cariocas quando eu vou em São Paulo e falo “Várias Queixas” o pessoal já dá risada (risos). Mas, a nossa musicalidade vem muito de lá, e o disco ele fecha com esse tributo, esse agradecimento e esse reconhecimento da importância da Bahia. De Salvador, das pessoas, dos cheiros, dos gostos e de tudo que a gente viveu ali. Tem muito do universo nostálgico para gente da Bahia e também muito no lugar de um voltar à Bahia, de um voltar às nossas raízes, as nossas influências a tudo que a Bahia trouxe para gente. Nos sentidos mais profundos, tanto a nível pessoal quanto a nível cultural e histórico. Eu acho que voltar à Bahia é voltar à origem do Brasil, voltar à origem de tudo.


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Gilsons celebram os encontros no álbum “Pra Gente Acordar”

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