João Gordo, do Ratos de Porão


Créditos: Reprodução/Facebook

Pioneiro do punk na América Latina, com sua primeira formação em 81, o Ratos de Porão talvez seja o único grupo brasileiro capaz de fazer poloneses e finlandeses cantarem em português. Algo que João Gordovocalista e remanescente da formação clássica da banda ao lado do guitarrista Jão, se orgulha. Nem por isso, no entanto, ele está mais manso.

“A raiva, a indignação é a mesma. Aliás, antigamente eu não me importava com muita coisa. Hoje em dia eu tenho família, é pior ainda”, afirma ao Virgula Música, após a entrevista coletiva para divulgar o novo álbum do Ratos, Século Sinistro. Entrevista esta que reuniu mais jornalistas que a da Ivete Sangalo, em abril, cem para os Ratos contra 80 da baiana. 

O que te motiva a fazer uma música hoje em dia?

Acontecimentos ao meu redor que me revoltam, cara, sempre foi assim.

Mudou alguma coisa do começo?

Não muda nada. A raiva, a indignação é a mesma. Aliás, antigamente eu não me importava com muita coisa. Hoje em dia eu tenho família, é pior ainda. Eu fico preocupado com família, com filho, você que seu dinheiro não rende, que você está sendo roubado. Tem um dos maiores impostos no mundo e o benefício que você tem é do Senegal. Roubalheira, aí você fica revoltado mais do que eu era. Eu sou pai de família, você fica mais puto ainda.

Você ouve seu próprio som?

Escuto, esse disco eu escutei até enjoar. Até enjoei, já não consigo escutar mais. Até enjoei, cara.

Como você criar as músicas?

Eu faço as bases. Eu chamo o Jão que é meu parceiro, eu vou na bateria, ele vai na guitarra, eu fico lá cantando e gritando assim. Aí a gente vai fazendo a música, mandando a música.

Você tem ideia de voltar pra TV, alguma coisa assim?

Tenho, é uma grana fácil. Preciso voltar logo.

Tem alguma coisa que você sente falta da TV?

Caro, eu só assisto TV a cabo. TV aberta eu não assisto, só tem merda.

Mas dá época que você trabalhava lá, você sente falta de alguma coisa?

Da grana.

Você estava falando na coletiva que ganhava R$ 40 mil na Record durante três anos, você sentia que transmitia alguma mensagem?

Ali eu estava infeliz, não transmiti mensagem alguma. Estava cumprindo contrato, que eu assinei por livre e espostânea vontade. Mas o bagulho era triste. Record, velho, o que você espera da Record. É aquilo lá mesmo, é mau gosto pra classe Y. Não que eu esteja sendo preconceituoso, mas o pessoal não se importa muito do que você é, quer ver bunda, peitoral depilado e piadas simples pra rir.

Estava vendo que seu filho estava cantando a sua música, as crianças se identificam com Ratos?

É o mundo deles, eles manjam mais de som que muito marmanjo por aí. O Pietro (filho do João) manja de uma monte de coisa, toca bateria. É o mundo deles, é o mundo do rock. Eles ouviram pra caralho esse disco também, dentro do carro, fico escutando direto, então eles sabem cantar todas as músicas.

O que pra você é punk hoje?

Punk não morre, véio, punk é uma expressão da juventude que sempre vai ter porque o adolescente sempre vai ter raiva de alguma coisa. Raiva dos pais, raiva da escola. E o punk é isso, raiva adolescente que um adulto geralmente não tem. E quem tem é por que era punk e ficou e foi indo (risos).

Que momento da sua música você soube que ia ser músico?

Acho que eu sempre soube, não podia ser outra coisa.


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