Desde que estourou em 1994 com Baby, Me Leva, Latino vem ocupando a mídia e os ouvidos dos brasileiros de todas as idades e classes sociais de maneira insistente. Você pode gostar ou não, mas ele incorpora como poucos a figura do popstar nacional.

Nascido Roberto de Souza Rocha, há 40 anos, ele ainda lembra como fez seu primeiro hit, quando ainda vendia sanduíche natural na praia e construía melodias para chamar clientes. De certa maneira, algo que utilizou mais tarde para se consolidar como o “showman” carismático em quem se transformou.

Latino canta Baby, Me Leva na Xuxa Park em 94

Um dos primeiros funkeiros a romper a barreira midiática, ele não vê Naldo Benny e Anitta como suas “crias” e defende que os artistas do funk deveriam ser mais unidos. “Eu vejo pelo mercado sertanejo, que é um mercado muito unido, só se tornou um movimento fortalecido quando um decidiu participar do CD do outro. E está sempre ajudando um ao outro”, aponta em entrevista ao Virgula Música, nos estúdios da Jovem Pan.

Em seguida, ele completa: “Eu brigo por isso, explico para galera, pô, a gente tem que ser mais unido, os Djs têm que ser mais unidos, tem que parar com essa picuinha de um não tocar o trabalho do outro porque eu acho que ninguém é o rei da verdade. A gente tem que ter humildade para reconhecer quando um produtor faz um negócio bacana. E tem que tocar, não tem essa palhaçada. DJ vaidoso não cabe dentro do mercado”. Leia a entrevista em que ele fala de seu novo álbum 12, que seu negócio é vender a festa como sua marca registrada, shows em casamentos e o cenário da música popular atual.

Após ter soltado vários singles, como Despedida de Solteiro, versão de Psy, e Carrel você vai lançar um álbum. Acha que o álbum é um conceito ultrapassado?

O álbum, sim, mas quando você tem uma boa ideia, não. Todas as barreiras são quebradas quando você traz algo inovador. Meu intuito nesse trabalho, que vai sair dia 12 de outubro, é fazer um disco onde uma música acaba e começa outra baseada na última.

Veja Latino no clipe da nova Carrel

É um disco conceitual?

Sim, onde acaba uma música começa outra, baseada na anterior.

Você é um cara que agrada a todas as classes sociais, desde as comunidades até a elite AAA…

(Abre um sorriso) Graças a Deus…

Por que você diria que isso acontece?

Acho que muito em função da irreverência, da ousadia, do show em si também. A gente tem um show bacana, as pessoas curtem. Acho que o artista morre quando a música acaba. Ele sobrevive e renasce quando ele tem um bom show.

Mas você também está sempre tentando se reinventar, emplacar algo novo…

Não só eu, todos os artistas do planeta. Se você não se reinventar, fica na mesmice. Eu acho que o mais difícil não é fazer sucesso, é você se reinventar, procurar novos produtores, novas ideias, novas sacadas. Paralelo a isso ter um bom show, que agrada. Não adianta ter uma música sensacional e chegar no palco e as pessoas não aderirem, não curtirem, acontece muito isso…

E da onde surgem as ideais para fazer a música, para fazer os estilos, tipo, “ah, Agora eu vou fazer um som assim”?

Parte do cotidiano, do feeling. Eu sou movido à emoção. Eu acho que a gente vê as coisas acontecendo, bate uma inspiração, aí chega em casa, pega o violão e fica desenhando aquela inspiração com as cordas do violão. Daqui a pouco vira uma melodia, que vira uma letra engraçada e vai embora.

Não tem regras, não é? Acho que se se tivesse regras eu nem estaria aqui. Eu fujo, tento fugir sempre das regras.

Sua origem é o funk melody?

Cara, minha origem é o funk. Eu fui aprimorando o funk, fui o primeiro a criar aquela vertente do sertanejo com funk, que foi o pancadão sertanejo, fui o primeiro artista a colocar loop de sertanejo na batida do funk, que isso foi bem legal, que era uma inovação. E depois eu vi vários artistas fazendo isso. Então, quer dizer, a gente estava no caminho certo.

E como você vê Naldo e Anitta, que são do funk também, arrebentando, você acha que são suas crias?

Não, eu não acho que é cria minha não. Acho que isso aí é o funk que está fazendo história. É óbvio que são inspirados por um movimento que a gente absorveu lá atrás, há 20 e tantos anos. Eu acho que o movimento precisa de grandes ídolos, ele precisa de novos ídolos, ele só tem consistência quando tem grandes ídolos.

Eu vejo pelo mercado sertanejo, que é um mercado muito unido, só se tornou um movimento fortalecido quando um decidiu participar do CD do outro. E está sempre ajudando um ao outro.

Você acha que falta isso no funk?

Infelizmente falta, viu, cara? Eu brigo por isso, explico para galera, pô, a gente tem que ser mais unido, os Djs têm que ser mais unidos, tem que parar com essa picuinha de um não tocar o trabalho do outro porque eu acho que ninguém é o rei da verdade. A gente tem que ter humildade para reconhecer quando um produtor faz um negócio bacana. E tem que tocar, não tem essa palhaçada. DJ vaidoso não cabe dentro do mercado.

É curioso que eu estava aqui mesmo com Michel Teló faz uns 15 dias e ele estava falando como ele é seu fã, que ele te acha um artista completo. Para você o que o sertanejo tem para somar na música brasileira?

Cara, tudo. Primeiro que eu sou um adepto da música sertanejo, que eu gosto para caramba também. Gosto do black para caramba. Meu show é isso, uma mistura do funk, do black, do pop, do sertanejo. Eu tento passear por essas vertentes, mas sem danificar aquilo que eu construí lá atrás, que é a coisa da ousadia, da irreverência.

Eu busco brincar com as coisas que acontecem no sertanejo, eu busco brincar com o que acontece com o funk. E no meio do show, essa bagunça musical que eu faço acho que é isso que dá certo.

Os artistas não podem ter regras e nem pode ter show certinho. Cada show, cada público, se você chega em uma festa de 60 anos, por exemplo, que eu fiz outro dia, você olha o público e fala, pô, a galera está acima de 60 anos… Então, cara, eu vou para o Sidney Magal, vou para Xuxa…

Você cantou no casamento da Beatriz Barata (neta do “rei do transporte” do Rio de Janeiro, em evento marcado por protestos), que deu toda aquela polêmica. Você faz casamentos de alto nível?

Eu faço em média uns 70 casamentos por ano.

Mas tem artista que não faz?

Eu não sei se tem artista que não faz, eu sei que eu faço muito.

Você curte?

Eu gosto porque me deixa livre para brincar, me deixa livre para descontrair, para fazer a irreverência, as danças de brincadeira. Enfim, eu saio de uma música, faço o primeiro refrão, já pulo para outra.

A gente brinca muito com aquela coisa da festa. Da mesma forma que a Coca-Cola vende refrigerante e a Fiat, por exemplo, vende carro, eu vendo a festa. Então, eu não estou muito preocupado com a música do momento que é o Carrel, o Carrel é uma música que a gente está apostando, é uma música de verão, que fala de namorar dentro do carro? Que é a primeira que abre o álbum, que vai dar sequência às outras que vão vir, que são capítulos.

Então, assim, eu estou focado, mas meu foco maior é a festa. Vendo a festa de forma irreverente para que as pessoas possam curtir sem se preocupar. Tanto é que a gente começa e não tem hora para acabar.

Festa no Apê

E como foi que você construiu seu maior hit, é Festa no Apê, naõ é? Ou tem outras?

O primeiro sempre marca, não é? Foi Baby, Me Leva…

E Festa no Apê?

Aí, antes do Festa do Apê teve outro hit, o Vitrine, aquele do “tchu ru ru ru ru ru” (cantarola). Marcou também. São épocas difentes. Kuduro foi uma época diferente, a Renata Ingrata foi uma época diferente, Cátia Catchaça…

Todas foram movidos pela emoção, pelo momento, o cotidiano. É isso.

E o negócio da dança?

A dança vem porque eu antes de cantar era dançarino. Aí eu era animador de festa. Quando a gente vira um animador de festa a gente faz um laboratório de palco muito grande, cria uma experiência muito grande. E isso hoje, por acaso, me ajuda muito nessa coisa da festa que eu faço no show.

Eu acho que Deus fez tudo certinho, me fez pegar experiência de cada coisa para eu poder aprender. Hoje eu não dependo de ninguém para compor música para mim, eu mesmo componho. Quando eu não componho descubro uma coisa interessante lá fora para regravar no Brasil ou para fazer uma versão com a nossa cara, brasuca, do jeitinho da gente se divertir aqui. E vou levando, vou costurando a minha carreira da forma que Deus permitir.

Como você vê a música brasileira diante da internacional, especialmente no segmento pop que é o seu. Você acha que tem tem ainda uma discrepância muito grande ou o Brasil está chegando lá?

Cara, a evolução está aí. Acho que o fato de a gente estar exportando o negócio do funk, isso é muito legal. O funk é uma característica muito brasileira, principalmente carioca. Que agora a gente está vendo os funks de São Paulo se destacando, os funks de ostentação, acho bacana para caramba. Porque antigamente só se via funkeiro carioca, hoje a gente vê vários funkeiros pauliustanos. E isso me dá uma certeza de que o funk tem muito o que mostrar ainda. Me sinto feliz por ter sido um dos responsáveis por isso lá atrás e poder acompanhar isso de perto é muito bacana.

Tem grande produtores aí fazendo a diferença, como Mãozinha, Betinho, o próprio Batutinha, o DJ Dennis, são os quatro produtores que estão fazendo a diferença e misturando essa coisa do black com o funk, bem produzida arranjada. Os caras estão sabendo fazer o bagulho direitinho.


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Latino diz que falta união no funk e não vê Naldo e Anitta como suas 'crias'