Um dos filhos mais ilustres de Nova York e um dos símbolos dos mágicos e selvagens anos 60 e 70 na cidade, Lou Reed se foi em silêncio total, talvez para deixar que sua música falasse por si só.

Reed morreu no domingo em decorrência complicações hepáticas – ele tinha passado por um transplante de fígado em maio, e além do breve anúncio de seu agente não houve nenhuma outra comunicação oficial.

Uma foto do músico em frente a uma porta, sob a epígrafe “The Door”, na qual aparecia usando seus famosos óculos de sol e sua camiseta preta de manga curta, foi a única publicação ontem em sua conta no Twitter.

Sua esposa, a também cantora e compositora Laurie Anderson, com quem se casou em 2008, manteve também silêncio total, inclusive através das redes sociais.

Na página oficial do músico foram publicadas hoje várias breves mensagens de admiradores, como “todos sentiremos saudades, e até agora não sabíamos quanto”; “obrigado por tudo” e “o mundo é agora um pouco mais frio. A noite um pouco mais escura”.

As rádios da cidade tocam desde ontem suas músicas mais simbólicas, e inclusive a emissora de televisão especializada em finanças “CNBC”, à qual certamente Reed jamais prestou atenção, transmitiu hoje alguns acordes da famosa “Walk in the Wild Side”.

Precursor do punk e pioneiro de várias tendências experimentais, Reed foi, graças a seu talento puro, sua sexualidade ambígua e ao uso das drogas (tudo isso contado em suas músicas), um dos símbolos da experimentação e do vanguardismo musical.

Ele será lembrado por seu papel na criação do mítico grupo The Velvet Underground – que tinha Andy Warhol como incentivador – e suas colaborações com outros ilustres artistas como Brian Eno.

Em sua carreira, ficou famoso por debulhar com seu marcadíssimo sotaque nova-iorquino versos de poesia contemporânea (era formado em língua inglesa e literatura na Universidade de Syracuse) sobre bases de clara inspiração experimental.

A cidade que viu Reed nascer no Brooklyn, em 1942, foi também protagonista de dois de seus álbuns solo (“New York”, de 1989, e “Hudson River Wind Meditations”, 2007, este último um disco de música ambiente).

Seu álbum de estreia, “The Velvet Underground & Nico” (1967), faz parte dos arquivos da biblioteca do Congresso americano.

A morte de Reed, mesmo que chorada, não surpreendeu muitos, já que nos últimos tempos sua saúde estava muito frágil, inclusive depois do transplante de fígado, que ele mesmo proclamou como “um triunfo da medicina, da física e da química modernas”.

De fato, foram problemas hepáticos que causaram sua morte em sua casa em Southampton (em Long Island), neste domingo, aos 71 anos. Até mesmo sua esposa disse pouco depois do transplante que não achava que Reed chegaria a se recuperar “completamente”.

Enquanto críticos musicais consideravam que Reed perdeu com o tempo algo de sua selvageria musical, seu cotidiano era muito discreto, mas ainda podia ser visto de vez em quando junto de Laura passeando ou sentado no terraço de um café das áreas “trendy” de Greenwich Village ou Tribeca.

Nos últimos anos, um Reed de aspecto frágil (inclusive carregando uma bengala) apareceu junto de Laurie em eventos beneficentes e em defesa do meio ambiente.

Sua última aparição pública foi em agosto, durante um evento em Bridgehampton.


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Lou Reed: em silêncio se vai um ilustre e rebelde filho de Nova York