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(Crédito: Letícia Pacheco)

Primeiro o punk criou o do It yourself. Depois, a galera de Washington inseriu protestos políticos e sociais nas músicas com a chegada do hardcore. Aqui no Brasil esses movimentos já davam as caras na década de oitenta e noventa. Mas, foi nos anos 2000 que rolou uma parada influenciada por tudo isso; dos bueiros do underground paulista brotou uma cena bem particular, que, com apoio zero da mídia, movimentou e motivou uma legião de fãs enlouquecidos. Tudo com a força da música e a veracidade apaixonada de seus integrantes. Entre os representantes estavam La Carne, Fud, Hierofante Púrpura, Vincebuz, Ästerdon, Seamus e o mais explosivo de todos, o Ludovic.

Com um mix de Nirvana e Cólera, a banda de Jair Naves, Eduardo Praça e Zeek Underwood  (também passaram por ela Hugo FalcãoJulio SantosFábio Brazil e Fabrício), teve uma vida intensa. Foram dois álbuns; Servil e Idioma Morto em quinze anos de banda, e milhares de quilômetros rodados pelo Brasil. Seja em casa de shows da capital paulista, ou em festivais de qualquer canto do país, o lance deles era tocar em todos os lugares. Quanto mais melhor.

Seus shows eram os mais insanos ever (no bom sentido). Era como alguma briga do filme Clube da Luta entre banda e público, mas sem violência. Instrumentos acabavam danificados, pessoas subiam ao palco, caiam no chão, abraçavam os integrantes e gritavam a plenos pulmões umas das letras mais sinceras do rock nacional: “Meu amor, você ainda me tem a seus pés. Apesar de tudo, você ainda me tem a seus pés. Grande bosta! Você sempre terá alguém a seus pés“, da música Você Sempre Terá Alguém a Seus Pés. Depois dessas palavras cantadas por Jair, o jogo estava ganho, e a plateia rendida.

Em 2008 eles deram ‘um tempo’ e cada integrante seguiu seu rumo. Jair se lançou em carreira solo, Edu deu vida ao Quarto Negro e Zeek ingressou em bandas importantes e atuais do indie nacional (Single Parents, Shed, Reffer, e outras). Para comemorar essa data de debutante, o grupo resolveu se reunir para alguns shows comemorativos que acontecem dia 24 de outubro no Festival Banana Progressyva, em São Paulo, e dia 31 no Festival Coquetel Molotov, em Recife.

Para saber o que realmente esperar dessa ‘volta’, o Virgula foi trocar uma ideia com a banda, que além de adiantar como serão esses shows especiais, deixou no ar um tiquinho de esperança aos fãs, dizendo que – quem sabe – um dia registrem novas ideias musicais. Quer saber mais? Leia abaixo a nossa conversa:

Virgula: por que vocês resolveram fazer shows novamente? O que os motivou?

Jair Naves: Tivemos muitas motivações para decidirmos fazer esses shows de reunião: o fato de termos mantido contato após todos esses anos e ainda sermos amigos, a sensação de ser algo inacabado, já que o fim da banda foi algo abrupto e um tanto repentino, a saudade de tocarmos uns com os outros, a cobrança por parte do público… Enfim, foram muitos os fatores. E calhou de conseguirmos conciliar as agendas justamente no mês em que completaram-se quinze anos da fundação da banda, no show de junho em Belo Horizonte. Foi um bom timing.

Edu Praça: Sempre existiu um sentimento de que ainda exista mais por fazer com o Ludovic. Confesso que ensaiamos essa volta por alguns bons anos até ter a maturidade ideal para voltar. Tanto eu, como o Jair e o Zeek, continuamos muito envolvidos com música, cada um com os seus projetos, acho que seria inevitável reviver o Ludovic em certo ponto.

E como podemos chamar esses shows? Uma volta definitiva? Comemorativa? Momentânea? 

Jair Naves: Difícil dizer. Por ora, estamos concentrados nesses poucos shows comemorativos. Os projetos de cada um continuam sendo a prioridade, mas está sendo bom e saudável tocarmos juntos novamente. Vamos ver o que o futuro nos reserva.

Edu Praça: Ainda estamos tratando a situação com muita calma e carinho. Agora, estamos apenas pensando em fazer shows que sejam dignos de toda a reputação e credibilidade que a banda construiu ao longo dos anos.

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(Crédito: Patrícia Caggegi)

Como rolou o primeiro contato de retorno entre vocês? Quem tomou a iniciativa? teve uma ligação formal?

Jair Naves:  Acho que foi no ano passado, quando foi aniversário de dez anos de Servil, nosso primeiro disco, que decidimos levar a sério a ideia de fazermos um show juntos. E como o Eduardo e o Zeek participaram das gravações do meu último disco justamente em 2014, essa aproximação ficou facilitada.

Edu Praça: Não lembro se teve essa ligação, embora seria uma história legal pra contar. Sempre nos encontramos nos lugares, e continuamos todos amigos, logo havia sempre alguma especulação quando nos víamos.

E o primeiro ensaio, como rolou? Foi preciso muito esforço para relembrar as músicas?

Jair Naves: Um pouco. Falando por mim, algumas das letras foram especialmente difíceis de resgatar (risos). Mas foi uma sensação boa, a mesma de retomar algo que você escreveu há muitos anos e achar aquilo bom, digno de orgulho.

Edu Praça: Foi bem nostálgico e intenso. Precisamos separar muito bem as coisas para não deixar que os anos que ficamos separados influenciasse essa nova fase. Todos nós tivemos um direcionamento musical um pouco distinto do Ludovic depois do fim da banda, então era natural que tivesse alguma estranheza, mas nada que não resolvemos rápido e com mais ensaios.

Babalu está tocando bateria nos shows, correto? Vocês chegaram a cogitar o Hugo ou o Júlio?

Jair: Sim, fizemos o de Belo Horizonte com o Thiago Babalu, um dos melhores bateristas brasileiros da atualidade, com quem eu tive a sorte de contar nos meus últimos discos solo, e ele continuará conosco pelo menos nesses próximos shows. Nesse primeiro momento, de pensar em um ou outro show comemorativo, não chegamos a cogitar nenhuma outra pessoa.

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(Crédito: Layr Barci)

Durante o show de Belo Horizonte, qual foi a sensação de estarem ali, tocando aquelas músicas e olhando um para o outro no palco?

Jair Naves: Para dizer a verdade, foi um choque tão grande, a reação das pessoas foi tão emotiva e surpreendente, que guardo poucas memórias do show em si. Lembro de ter ficado impressionado com a forma que aquelas músicas, muitas escritas ainda na minha adolescência, ainda fazem sentido e ressoam dentro de mim. Foi um momento dos mais bonitos em todos esses anos de estrada.

Edu Praça: Eu achei que seria diferente, mas após umas duas músicas, consegui sentir exatamente a mesma sensação de anos atrás, tirando a parte que somos todos melhores músicos atualmente.

Ao reviverem as músicas, rolou algum sentimento de retrocesso?

Jair Naves: Na verdade, o critério para a escolha do repertório foi justamente essa; pegar aquelas músicas que ainda soassem bem e fizessem algum sentido para a gente depois de todos esses anos. Felizmente, para a minha própria surpresa, a maior parte das canções que foram gravadas nos nossos dois discos continuam atuais para mim.

Edu Praça: Ainda as sinto atuais, não houve retrocesso. Pelo contrário, foi bem desafiador voltar a tocar essas músicas, a dinâmica e o clima é bem diferente do que vinha fazendo, então foi como começar outra vez, o que é sempre um sentimento animador.

Na época em que o Ludovic estava na ativa, vocês tinham noção da importância da banda para o underground nacional? Ou a ficha só caiu depois?

Edu Praça: Eu sempre tive consciência disso. Lembro dos e-mails que recebíamos na época, de como a nossa música significava muito para as pessoas. O Ludovic sempre foi uma banda intensa e verdadeira com aquilo que se propunha a fazer, e não tenho dúvidas de que isso é a coisa mais contagiante que pode existir quando se trata de arte.

Jair: A bem da verdade é que o Ludovic nunca foi exatamente um fenômeno de popularidade e sempre teve um problema em se encaixar nos subgêneros do underground. Apesar de tocarmos eventualmente em diferentes circuitos (indie, hardcore, pós-punk, metal e etc), nunca nos encaixamos em nenhuma dessas categorias. E, enquanto a banda esteve mais ativa foi o auge da onda emo, então em muitos aspectos o público interessado em música independente naquela época nos olhava com certa estranheza. Dessa forma, quando decidimos encerrar as atividades da banda, eu sinceramente não achava que em 2015 muita gente se lembraria de nós. Chega a ser comovente notar que aconteceu o oposto, que de certa forma o nosso público cresceu consideravelmente nos anos em que não estávamos mais juntos.

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(Crédito: Layr Barci)

Na década passada, as pessoas se jogavam ‘literalmente’ nos shows de vocês, cantavam todas as letras, subiam no palco, viviam intensamente a apresentação. Vocês esperam a mesma reação dos fãs nos shows atuais?

Jair: Estamos todos mais velhos e mais contidos agora, nós e nossos amigos daquela época, então prefiro não alimentar expectativas nesse sentido. Mas, que seria bom reviver aquelas cenas, isso seria (risos).

Edu Praça: Não tínhamos muita ideia de como seria em Belo Horizonte, mas foi bem parecido com o que foi na época, tanto da parte do público como a nossa. Mas acredito que não seja necessário uma regra ou postura para aproveitar o show, todos são bem vindos à sua própria maneira.

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(Crédito: Patrícia Caggegi)

Vocês não tem receio de que um ‘certo boom’ nessa retomada ofusque suas carreiras e trabalhos solos?

Jair : No começo a nossa preocupação maior era que essa breve reunião não atrapalhassem nossos novos trabalhos – eu tinha acabado de lançar meu disco novo, e o Edu estava lançando o do Quarto Negro. Tentamos conduzir as duas frentes da melhor maneira possível, justamente para que um trabalho não se choque com o outro. Até aqui, tem dado certo, felizmente.

Edu: Não creio que exista esse paralelo. Estamos numa fase cultural e política no país que qualquer iniciativa dessas vem mais para agregar do que para competir entre si. Todos nós estamos em turnê com outros projetos simultaneamente, e não vejo a possibilidade de uma coisa anular a outra no momento.

Pergunta inevitável: já passou pela cabeça de vocês em gravar algo inédito? 

Jair: Quando a banda terminou, estávamos trabalhando em ideias para o que teria sido o nosso terceiro disco. É possível que em algum dia a gente registre ideias novas, mas sinceramente não é a intenção nesse momento.

Edu: Estou sempre produzindo música, então sempre há a possibilidade, mas até o momento, nenhum cronograma ou plano estipulado.

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(Crédito: Layr Barci)

Para finalizar, o que as pessoas que irão aos shows podem esperar?

Edu: Um show novo, respeitando toda a história e postura da banda, com alguns novos elementos e toda a intensidade dos anos. Esperamos rever todos lá e conhecer muitos outros pela primeira vez.

Jair: A mesma entrega de sempre. E uma alegria genuína da minha parte em poder reviver por alguns minutos um dos capítulos mais importantes da minha vida.

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SERVIÇO:

São Paulo

Banana Progressyva 2015 apresenta Ludovic
Data: Sábado, 24 de outubro
Local: Superloft
End: Rua Cardeal Arcoverde, 2926 (próximo ao Metrô Faria Lima)
Hora: das 18h às 23h
Classificação indicativa: 14 anos

Valores:
R$ 20,00: antecipado – 1º lote meia
R$ 40,00: antecipado – 1º lote inteira
R$ 50,00: antecipado – lote promo Heineken (inclui 01 ingresso + 02 cervejas heineken)

Ingresso online: www.eventick.com.br

Ponto de Venda: Galeria do Rock – Loja 255: Rua 24 de Maio, 62 – (11) 3361-6951

 

Recife:

No Ar Coquetel Molotov 2015
Data: 31 de outubro de 2015 – A partir das 14h
Local: Coudelaria Souza Leão – Várzea – Recife – PE

Mais infos: http://coquetelmolotov.com.br

Alguns dos muitos shows que o Ludovic fez


Créditos: Reprodução/Facebook

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Ludovic retorna com shows comemorativos em SP e Recife: “Tínhamos a sensação de algo inacabado”.