Criolo

Caroline Bittencourt/Divulgação Criolo

Criolo está na pista. O rapper de SubirusdoistiozinConvoque Seu Buda faz uma ponta de ator no filme Tudo que Aprendemos Juntos, que estreia nesta quinta (3) e vem se empenhando em organizar o show beneficente #SouMinasGerais, que ocorre na próxima terça na Esplanada do Mineirão, com renda revertida para as vítimas do desastre de Mariana.

O festival reúne, além do rapper, Caetano Veloso Jota Quest, com participações de Milton Nascimento, Tulipa Ruiz e Emicida. “Ver aquilo tudo é desesperador. A gente sabe que é um pouquinho, mas tá contribuindo. É muito triste”, resume o paulistano de 40 anos.

Ele diz que muita gente vem se mobilizando por Mariana, mesmo à distância. “Vários coletivos estão se reunindo para comprar água e mandar. Tem gente que não pode ir ao show, mas está comprando ingresso e dando de presente para outras pessoas. Tem gente envolvida com outras organizações que estão preocupados com roupa e comida. Então, todo mundo está se movimentando de uma forma pra ajudar”, afirma.

Já em relação ao filme em que ele faz uma ponta no papel de um traficante, o ícone da nova música brasileira vê um paralelo incrível entre ficção e realidade. “Rolou um lance muito louco porque o filme se passa 70% dentro de uma escola. E o filme fala da importância da escola pública, da importância desse respeito ao professor, o quanto é importante se dar valor, dar carinho, dar dignidade a esse professor e dar uma estrutura melhor a tudo que está em volta dessa escola pública”, defende.

Criolo – Subirusdoistiozin

Para o músico, que irá se apresentar em escolas ocupadas de São Paulo, o levante dos jovens brasileiros é motivo de celebração. “Nossas crianças estão dando uma lição de cidadania aos nossos governantes. Eles simplesmente falaram: ‘Nós estamos dentro da nossa escola, estamos deixando ela limpa, deixando ela muito bem cuidada, estamos fazendo uma série de oficinas culturais e a única coisa que gente quer é que não tome o pouco que a gente tem. Não tome nossa escola da gente’. Então, cara, isso aí é um sopro de esperança pra humanidade”, exalta.

O evento Virada Ocupação será entre o próximo domingo e a segunda. Outros nomes confirmados são Edgard ScandurraPaulo Miklos, Maria Gadú e Tiê.

O rapper afirma também que se engajar em causas relacionadas à defesa dos direitos humanos é algo que aprendeu em casa. “Isso aí a gente faz desde que nasceu. Minha mãe, uma pessoa ligada à cultura, ligada às artes, à educação, a gente desde pequenininho está ligado com isso. Ela levou a gente para todos os lugares, pra todas as coisas. Então é o que está dentro da gente, é uma questão diária. E a gente que cresce em favela, meu filho, a gente passa por cada coisa na pele. E aí juntou na minha adolescência encontrar com o rap, que é uma expressão de arte extremamente forte, que ajuda a gente a se expressar. Então a vida toda da gente já é isso”, exemplifica.

Criolo, inclusive, teve a chance de dividir os bancos escolares com a própria mãe, que voltou a estudar aos 40 anos, pra acompanhar o filho. “Acho que foi extremamente importante porque pude, eu, ainda adolescente, ver minha mãe, a Dona Vilani, minha mamãe, ver a Maria Vilani, uma pessoa que vive mil outras personagens, não é apenas mãe. Mas uma mulher, que tem amigos, que desenvolve coisas”, afirma.

Como a mãe, ele está sempre envolvido em saraus e eventos culturais da periferia, que raramente chegam à mídia. “Sempre teve muitas ações positivas na periferia, aulas de cidadania, pessoas desenvolvendo uma arte linda, maravilhosa. Mas, meu filho, a gente não tinha o que comer, como que ia documentar? Como que você vai comprar um filme de 12 poses se não tem dinheiro pra ir na feira? Mas sempre teve, todas as periferias sempre deram exemplo de cidadania”, exalta.

Em relação ao fato de ter se tornado uma figura popular, ajudando a quebrar o isolamento do rap em relação à mídia, ele se mostra fiel às raízes. “Olha, rapaz, se aumentou o púbico eu não sei, as pessoas têm sentimento, as pessoas têm discernimento, elas se identificam com aquilo que as toca, que as comove. E a música em geral, sem preconceito, é algo emocionante. Então, eu que venho do rap, aprendi que a gente é uma energia. Você é uma energia, eu sou uma energia, e quando a isso se encontra como uma expressão de arte, isso fica mais forte ainda. A gente não vê dicotomia entre as expressões de arte, a gente vê que as artes se complementam. E o rap é extremamente importante na minha vida, na minha adolescência, em tudo”, resume.

Sobre os próximos passos após o álbum Convoque seu Buda, de 2014, com o qual ele vem viajando pelo mundo, Criolo não conta muito. “Agora o nosso pensamento é o de sempre. Cantar coisas que nos emocionam, que o coração da gente pede pra colocar pra fora. Isso aí independe se você vai fazer um disco, um DVD, uma turnê, é uma construção cotidiana”, esquiva-se.

Mas os pensamentos que quase o levaram a desistir da carreira, antes do sucesso de Nó na Orelha, de 2011, já parecem ter se dissipado como fumaça. “Quando eu pensei mesmo que eu e o DanDan iríamos parar, aconteceu uma reviravolta danada na vida da gente. Essa expressão musical que nos abraça, ela vem de muitas formas. Às vezes, você não está no palco, mas você tá vivendo ela, você nunca para de viver essa construção de amor. Ela pode se manifestar de outras formas”, divaga.

Como ensina Etnia, de Chico Science: “Não há mistérios em descobrir/ O que você tem e o que gosta/ Não há mistérios em descobrir/ O que você é e o que você faz”. A batalha de Criolo não terminou, mas ele parece não ter mais dúvidas sobre o motivo da sua busca. “Como diz minha mãe, nós somos operários. Então, cantar é uma grande honra. Pra gente que nunca teve nada, poder cantar é maravilhoso.”

SERVIÇO

#SouMinasGerais
Com Criolo, Caetano Veloso e Jota Quest, participações de Milton Nascimento, Tulipa Ruiz e Emicida.
Evento beneficente em prol das vítimas atingidas pela barragem da Samarco, em Mariana.
Terça-feira, 08 de dezembro, das 14h às 22h.
Local: Esplanada do Mineirão
Atrações Principais: Criolo, Caetano Veloso, Jota Quest.
Convidados: Milton Nascimento, Tulipa Ruiz e Emicida.
Vendas/doações: www.sympla.com.br/souminasgerais
Valor único: R$ 50 + 8,5% taxa online

 


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"Nossas crianças estão dando uma lição de cidadania aos governantes", diz Criolo