O badalado grupo do underground paulistano Cansei de Ser Sexy embarca no mês de julho para fazer uma turnê de divulgação do CD. O grupo será lançado nos EUA pelo lendário selo SubPop. A baixista Ira Trevisan e a guitarrista Luiza Sá falaram com o Virgula Música sobre a turnê, planos, shows, internet e muito mais. Confira!

Virgula Música – Como surgiu a oportunidade de fazer a turnê nos EUA?

Luiza Sá – A Trama e o nosso produtor sempre achou que tínhamos potencial
internacional então ele (Eduardo Ramos) mostrou o material para selos e países de fora. Aconteceu um interesse de um selo europeu e um americano, assim como alguns agentes. No final ficamos com a Subpop como selo e o Tom Windish como agente. Ele marcou nossa turnê.

Ira Trevisan – A Turnê é uma conseqüência natural do lançamento do disco. Quando começamos a conversar com a Subpop recebemos várias propostas de turnês de algumas agencias. Gostamos muito da idéia de fazer turnê com o Diplo e com o Bonde do Role (que também terá o disco lançado nos EUA pelo selo do Diplo)

VM – O CD vai ser lançado pela SubPop, lendária gravadora que lançou o Nirvana
e Mudhoney, como que foi a aproximação com o grupo?

LS – O Edu mandou o disco, eles adoraram e em meio as conversas acabaram por nos contratar até sem nem mesmo ter visto um show. Eles parecem estar muito felizes e empolgados com o contrato.

IT – O Eduardo Ramos que é nosso agente lá fora contou que um amigo dele foi na sede da Subpop um dia e eles estavam ouvindo o CD do cansei (que o próprio Eduardo tinha mandado) e eles estavam amando. Ouvindo no Repeat. Aí esse amigo disse que conhecia o agente e eles entraram em
contato, dizendo que queriam lançar. Foi assim.

VM – Como vai ser essa exposição no exterior? Vocês pretendem dar mais atenção pra fora ou pro Brasil?

LS – Nem um nem outro. Os Estados Unidos representam um mercado duro e mais difícil de entrar, por isso tenho certeza de que a melhor maneira de trabalhar é fazer uma grande tour pelo país inteiro. A Europa e outros lugares também estão nos planos e o Brasil também. Não queremos nos voltar totalmente pra fora nem ficar somente aqui, o plano ideal seria conseguir algum tipo de sucesso dentro e fora do Brasil.

IT – Isso vai depender de como a turnê e o disco vão ser recebidos. Mas na época do lançamento lá obviamente vamos dar bastante
atenção aos gringos. Acho que divulgar um disco lá, se tratando de uma banda brasileira requer mais trabalho.

VM – Ainda rola preconceito por ser uma banda predominantemente de garotas ou vocês estão mudando isso?

LS – Na verdade não rola muito. Às vezes já sentimos isso porque além de sermos na maioria meninas nos divertimos muito. O que não significa que não sejamos sérias quanto ao trabalho que estamos fazendo, essa confusão já rolou muito, como se você tivesse que estar sério e introspectivo no palco para estar fazendo algo realmente bom ou trabalhando de verdade. Com certeza algumas besteirinhas já aconteceram, do tipo um técnico
mal-humorado tratar a gente como se não soubesse nem ligar o amplificador, mas num plano maior só temos recebidos boas palavras de vários artistas que
respeitamos muito, nem lembramos muito dessa questão. Não queremos levantar bandeira nenhuma, acho que simplesmente vivendo e fazendo o que queremos já estamos de alguma forma sendo tudo isso, mudando algo (já que a visão é de
que as coisas ainda estão mudando), mas nunca tivemos nenhum problema com isso, é como qualquer outra coisa, do tipo ter várias pessoas de cabelo black power na mesma banda. Nunca planejamos essa formação, se iria ser com
mulher ou sem nunca foi uma discussão, eram os amigos que estavam ali por perto na hora.

IT – Se rola é pouca coisa, isolada e sem importância. Nunca demos abertura para críticas machistas.

VM – No início da banda, vocês imaginavam lançar CD lá fora e fazer turnês desse tipo?

LS – Absolutamente não. No início da banda o máximo que imaginamos foi primeiro ter uma banda, depois conseguir tocar uma música com essa
banda num estúdio. Depois o Adriano marcou um show meio de surpresa e como nada importava muita a gente foi lá e fez. Tudo aconteceu naturalmente e de forma maluca e incrível. Tenho certeza que no início da banda nenhum integrante pudesse imaginar nada do que aconteceria depois.

IT – Nossa. Não.

VM – Quais são os planos após retornar dos EUA?

LS – Fazer shows no Brasil e, se possível, em outros países. Os planos também vão depender muito do que acontecer nesse ano nos EUA, aqui
ou em qualquer lugar então acho que até a parte dos eua a gente pode falar com certeza dos planos, depois… vai depender.

IT – Em agosto/setembro temos alguns shows agendados no Brasil. Temos planos de viajar em outubro para outros shows.

VM – Qual é o papel da internet para grupos do underground?

LS – A internet mostra que existem formas paralelas de troca, conhecimento e cultura que não exatamente implicam com as gravadoras ou um
mercado formado em si. Acho que a internet é uma das coisas mais legais da atualidade. Existem muitos problemas com o sistema atual, do tipo muita gente no Brasil não ter 20 ou 30 reais pra comprar um cd. Ou pra comprar o tanto de cds que queria ou mesmo pagar 15 reais pra ir ao cinema. São questões delicadas mas essa realidade as coloca em questão. Fora que você tem uma comunicação e uma mídia alternativa das tradicionais. As pessoas mandam nas comunidades e nos assuntos discutidos, sem censura ou coisa do tipo. É muito legal saber que somos uma banda que surgiu da internet também, quase devemos algo pra molecada que fez o cansei crescer através dela, por isso lançamos a edição especial com cd-r. Fizemos o caminho contrário, primeiro internet, depois gravadora. Ao mesmo tempo, se sua
banda não mostrar nada de novo, não vai ter internet que salve… porque a rede está cheia de coisas e nem tudo é notado. Mas a internet chegou pra ficar e bom que estamos na Trama, que é uma gravadora que tem uma visão diferente da maioria em relação a isso, que não tem medo disso e tenta
trabalhar com essa realidade, vide o Tramavirtual.

IT – A internet aproxima as pessoas e as bandas. Ela é um território neutro. Não importa se você é da Suécia ou do Congo. a sua música está lá e se for boa ela vai para qualquer lugar.

VM – Para algumas bandas, a internet é uma aliada no começo, mas depois da fama se torna uma vilã (distribuição de música, pirataria, etc). Vocês acham que isso vai rolar com o CSS?

LS – Não vemos a internet como vilã. Aliás, não existem vilões nem mocinhos, essa visão é muito extrema e não consegue realmente descrever a
verdade. Como eu já disse antes, não queremos levantar nenhuma bandeira, mas não temos medo de um adolescente baixar nosso disco na internet e isso
ser uma coisa horrível. Quando lançamos o disco existia a dúvida, porque o fã da internet iria comprar se poderia baixar? O resultado é que a maioria dos fãs que estão sempre em contato conosco comprou o disco por internet antes mesmo de ele ser lançando, no pré-lançamento (aliás, foi o recorde de venda em
pré-lançamento por internet). Então o público exato (de internet) que poderia simplesmente baixar foi o que mais nos comprou. Quem gostar de verdade vai comprar o disco. E se não puder comprar o disco por algum motivo, ao menos é alguém que vai conhecer, passar isso pra frente, ir aos shows… muito melhor que alguém que nunca tenha tido acesso ao Cansei.

IT – Ahah! Não estamos famosos! (muito menos ricos) Ainda acreditamos na troca da MP3. Seria hipocrisia ser contra agora. E nem teria
por que. Ela ainda nos ajuda e vamos continuar a ter musicas inéditas ou versões disponíveis para download.

VM – Tem alguma banda que é influência geral para vocês? E alguma que está começando e vocês apostam para este ano?

LS – Não. Nada é geral para o Cansei. O Cansei é exatamente uma mistura de várias coisas, pessoas e influências, musicais ou não. Eu não aposto em banda. Não acho que nada vai explodir. Ao mesmo tempo tem lugar pra todo mundo. Apostamos no novo filme da Sofia Coppola com certeza.

IT – Tem a Gloria Stefan, que tem estado nos nossos corações ultimamente. De banda nova gostamos bastante do Bonde do Role.

VM – Mandem um recado para os internautas do Virgula!

LS – Oi internautas do Virgula! Vão ao nosso show se puderem! Beijo!

IT – Comam beterraba, faz bem.


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