Siba e a Fuloresta

Sai este mês pelo Selo Sesc o álbum digital Sessões Selo Sesc #2: Siba e a Fuloresta. Gravado ao vivo no Sesc Pompeia, em janeiro de 2018, ocasião em que o vinil Siba E A Fuloresta – Toda Vez Que Eu Dou Um Passo O Mundo Sai Do Lugar foi lançado.

Conhecido desde os tempo da banda Mestre Ambrósio, uma das mais importantes dos anos 90, Siba funde gêneros como ciranda, coco de roda, maracatu de baque solto, samba e frevo.

No show registrado, participaram José Carlos Santos (trombone), Roberto Manoel (trompete), João Minuto (sax tenor), Leandro Gervásio (tuba), Mestre Nico (voz e percussão), Rafael Santos (bateria), Cosmo Antônio (tarol, surdo e voz), Manoel Soares (mineiro e voz) e Wesley Jônata (guitarra).

O show também rendeu uma homenagem póstuma a Biu Roque, músico pernambucano falecido em 2010 que fez parte da primeira formação de A Fuloresta, que reúne destacados artistas da Zona da Mata.

Por que quis gravar um disco ao vivo?
Siba – A gravação foi feita a partir de um pedido do Sesc, que gostaria muito de inaugurar a nova iniciativa do Selo com esse registro. Normalmente um show de reencontro depois de 6 anos de inatividade não seria a melhor ocasião de gravar, mas somando o respeito que temos pelo Sesc e a energia amorosa envolvida naquela noite, resolvemos encarar o risco e deu super certo.

Em que aspectos considera a música da Zona da Mata mais contemporânea?
Siba – Não a considero “mais contemporânea”. Infelizmente tenho que lutar contra o senso comum que joga tudo que tenha a ver com “cultura popular” num passado idealizado, na ideia de “raiz”, de coisa arcaica, memória sem agência no presente. Daí a insistência numa “contemporaneidade” que é óbvia, afinal estamos todos aqui, fazendo.

Você teve fases em que se debruçou mais sobre a cultura popular e outras sobre a guitarra isso foi importante para encontrar a própria voz na música?
Siba – A guitarra foi meu primeiro instrumento e num certo momento de minha trajetória necessitei retomá-la. Acho que o contraste entre as diferentes informações musicais que compõem meu trabalho é um fator realmente definidor de meu estilo. O problema mais uma vez aparece quando vem as leituras que opõem a guitarra como elemento “moderno” e a “raiz” das tradições populares que faço parte.

Considera que os modismos envolvendo expressões populares sejam benéficos para as culturas tradicionais?
Siba – Não cabe a ninguém avaliar isso. Acredito na liberdade e principalmente na inteligência das pessoas que tem sua própria cultura – geralmente marginalizada – para fazer as escolhas que cada encruzilhada do tempo exige.

Na sua opinião, o que está rolando de mais interessante na música brasileira hoje?
Siba – O que informa e fertiliza a música brasileira desde sempre vem da periferia, da borda, de espaços carentes de inclusão e cidadania. É no abandono da marginalidade social que a vida encontra uma brecha e se expressa de um modo novo na arte. Foi assim com o samba, com o meu Maracatu de Baque Solto e é assim hoje com todos esses ritmos populares que as pessoas torcem o nariz por não se adequarem à estética bem-comportada do que já se tem como normal.


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'O que informa e fertiliza a música brasileira vem da periferia', diz Siba