Jam da Silva

Tati Azevedo/Divulgação Jam da Silva

O percussionista, cantor e compositor Jam da Silva leva a turnê do seu álbum mais recente, Nord, de 2014, para o Sesc Pompeia na próxima quinta (28). No trabalho ele aproxima o Nordeste de países nórdicos como a Islândia.

Nós trocamos uma ideia com o pernambucano que fez parcerias com Marisa Monte, Yuka, DJ Dolores e, em carreira solo, se consolidou como um dos principais talentos da nova música brasileira.

No show em São Paulo, Jam recebe Luísa Maita para uma participação especial.

Na sua opinião, o que tá rolando de mais novo na música brasileira hoje?
Jam da Silva – Sou admirador de vários artistas dessa geração, por estarem fazendo sozinhos, sem gravadoras, discos com um excelente acabamento, tanto na produção musical quanto na arte e músicas. Já ouvi o disco novo da Luísa Maita, que ainda não saiu, tá muito  bom. Gosto do Curumim e do disco novo da Alessandra Leão.

E na música mundial?
Jam  – Amo música africana e em especial alguns artistas como: Nneka, Keziah Jones, da Nigéria, o Toumani Diabaté, do Mali, e com quem já toquei. Também da MØ e da Camille, com quem também já toquei. Damon Albarn sempre faz coisas bacanas. E também da excelente e criativa Björk, que mistura natureza, tecnologia e música. Adoraria trabalhar com ela.

Você tem várias parcerias de peso, quais considera as que mais te ajudaram na sua carreira solo e o que mais admira nestes artistas?
Jam – Eu tive uma vivência grande com o Marcelo Yuka. Tivemos uma banda juntos, F.U.R.T.O., em que chegamos a lançar um disco pela Sony Music. Foi uma chegada muito bacana no Rio. Fui pra ficar um mês e fiquei dez anos! O Yuka me mostrou um Rio muito interessante e também abriu muitas possibilidades e conexões diversas. Fizemos uma parceria com a Marisa Monte na música Desrterro, tenho um carinho enorme por eles todos. Admiro o Yuka pela visão artística do todo, não apenas na música, ele faz músicas de amor, de amor à sociedade.

Na mix desse disco, chamado Sangueaudiência, conheci o produtor mineiro Chico Neves, que também foi um cara muito especial pra mim e através desse encontro de produzirmos juntos o meu primeiro disco, chamado Dia Santo. Admiro o Chico pela sabedoria de vida e lado artesanal dele, diante dessa aceleração toda da vida, a paciência dele e tudo que o Chico faz na vida, é música. André Midani também foi muito generoso com o meu trabalho.

Em entrevista ao blog Amplificador, do O Globo, você disse que “Nord é nordeste, quente, ensolarado, agreste, seco, áspero, e é também nórdico, frio, sombrio, caudaloso, gelado”, por que quis aproximar os dois universos?
Jam – Queria unir essa duas regiões, essas duas imagens e isso ser um lugar imaginário. A Islândia sempre mexeu com o meu imaginário e eu há tempos que queria ir lá pra conhecer a natureza superlativa deles e também tentar entender como é que os artistas de lá faziam aquele tipo de som. Quando soube que ia fazer uma apresentação em Portugal, aproveitei e fui bater lá, já com intuito de gravar músicos e sons por lá. O disco tem essa narrativa, com começo meio e fim, mas sem ser hermético.

Conhecia já o sertão de Pernambucano, que hoje tem adolescentes trabalhando com turismo, tem lan house, o sertão, os interiores, esperam ser descobertos. Há quem diga que essas áreas serão reurbanizadas no futuro, pode ser uma utopia, mas nunca se sabe. No final, é tudo um sertão só, esses lugares a esmo, onde a vastidão predomina e é um ambiente comum aos dois lugares, me encantaram, neles se encontram um silêncio acústico e sonoro.

São Paulo tem muitos migrantes, entre eles um número gigante de nordestinos, e também imigrantes.; Ao mesmo tempo, é uma cidade dura, com muito concreto, trânsito, gente. Sente essa dicotomia entre quente e frio em suas impressões sobre a cidade?
Jam – Tanto no clima, quanto esse trânsito de todas as maneiras, traduz sim um pouco o Nord. Tenho parentes que moram há muitos anos em São Paulo e me sinto confortável aí. No clipe da música Gaiola da Saudade eu queria expandir esse conceito do disco pras imagens, onde existe um diálogo entre três desertos: um quente, um frio e o deserto dos corações.

Quando estou em São Paulo, procuro um ritmo lento, busco lares, parceiros pra criar música, saio nos intervalos do rush e a noite me encanta.
Percebo que em São Paulo tem calor, um calor em receber as pessoas de forma sincera e essa generosidade nas pessoas, me cativa.

Já começou a trabalhar em um novo disco?
Jam – Começarei a produzir após o Carnaval, um disco em duo com uma artista americana chamada Lisa Papineau, gravaremos ente EUA e Brasil. Ela participa na música Burn the Night, cantou em vários discos do Air, também na trilha do filme do Wim Wenders, sobre a bailarina alemã Pina Bausch.

Ainda não é tempo de fazer um novo álbum, o Nord é recente e tenho muitas viagens pra 2016. Faço discos sem muita pressa, preciso esvaziar o HD da cabeça, se não vem algo muito parecido. A minha busca é exatamente essa, de tentar fazer discos completamente diferentes e complementares. Trabalhar com outros músicos, outras conexões e só o tempo pode ajudar nesses encontros naturais.

Fizemos uma tour pela Argentina e Uruguai muito linda e com uma receptividade calorosa com previsão de volta pra esse ano. Também irei aos Estados Unidos e Europa este ano.

O que pretende pesquisar e realizar neste que será seu terceiro álbum solo?
Jam – Penso em algo mais africano ainda, penso em cinema, penso em dança, penso em soul com batidas secas. São tantos caminhos que ainda não decidi, talvez por não ser a hora. Mas estou atento a tudo isso.

Pernambuco foi muito importante para que a geração dos anos 90 e 00 tomasse contato com a cultura popular brasileira. Crê que isso tenha se transformado ou se diluído?
Jam – Acho que se multiplicou, continua forte e diversificada. Tem uma vasta produção fonográfica anual e que o público não tem acesso, ainda não existem meios pra escoar essa produção toda, mas se pesquisar vão achar. São momentos e ciclos nessa movimentação. Em Recife, em determinado momento houve uma convergência de vários fatores e o surgimento de novas linguagens no cenário do Brasil.

SERVIÇO

Jam da Silva apresenta Nord no no Teatro do Sesc Pompeia
Quando: Quinta (28), às 21h
Quanto: R$ 9 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$ 15 (pessoas com +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$30 (inteira).
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 12 anos.

Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93.
Não tem estacionamento. Para informações sobre outras programações, acesse o portal sescsp.org.br/pompeia
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Parceiro de Marisa Monte e Yuka, Jam da Silva aproxima Nordeste e Islândia