A Plebe Rude, banda que, ao lado de grupos como Legião Urbana e Capital Inicial, moldou a identidade do rock de Brasília nos anos 80, completa 30 anos de existência neste ano. Marcando o aniversário, o grupo prepara um documentário sobre sua história e, ainda, um novo disco com previsão de lançamento em 2013.

O álbum, ainda sem título, será o primeiro de inéditas da Plebe desde R ao Contrário (2006). “Para quem conhece a banda, é a boa e velha Plebe, com letras contundentes e gás renovado, por causa do Marcelo Capucci [que integrou a banda em 2011] e do Clemente [vocalista da banda Inocentes, que entrou em 2003]”, disse Philippe Seabra, compositor, guitarrista e vocalista da banda, em entrevista ao Virgula Música.

O documentário, por sua vez, levará o nome de Plebe Ignara e contará a história da banda ao longo de seus 30 anos, desde a formação em Brasília até a realização do novo disco. Com o objetivo de manter-se independente de amarras comerciais, o filme entrou no site de financiamento coletivo Catarse, em que os próprios fãs podem contribuir com dinheiro para a realização do projeto.

Confira, a seguir, o bate-papo com Seabra, que falou sobre os novos trabalhos da Plebe e sobre sua visão sobre a música no Brasil de hoje.


Em que pé anda a produção do novo disco da Plebe?

O André [Mueller, baixista e co-fundador da banda] foi fazer mestrado nos Estados Unidos e, antes disso, deixamos todas as partes dele prontas. Começamos a gravar, mas eu tive de puxar o freio de mão porque estou fazendo a trilha sonora de Faroeste Caboclo, e tive de me dedicar isso. Confesso que a janela deste ano está fechando muito rápido e dificilmente conseguiremos preparar o disco, masterizá-lo e prensá-lo. Mas, com certeza, de março do ano que vem não passa.


O que as pessoas podem esperar desse álbum? Será na linha de R ao Contrário, que já tinha o Clemente como novo integrante?

Isso eu deixo para os críticos julgarem. Mas é a boa e velha Plebe, com letras bem contundentes. Para quem conhece, é a Plebe com gás renovado por causa do Capucci e do Clemente.


E a temática dessas canções novas?

A Plebe ficou com esse estigma de música política, mas na verdade não é. No nosso repertório, a gente tem duas músicas, Proteção e Até Quando Esperar, que são um pouco mais didáticas. O resto é aquela coisa do social-pessoal. São músicas que podem ser interpretadas de várias maneoiras, mas sempre com algum tema forte por trás. Isso é coisa da nossa geração, que cresceu em Brasília e viu as coisas de um prisma diferente.

Nos últimos seis anos, desde o lançamento do último disco de inéditas, vocês compuseram bastante material novo?

A gente está com bastante coisa. Mas acho que é o tempo natural. A diferença é que agora não temos ninguém respirando no nosso cangote, pressionando, então fazemos com o tempo certo. Tudo tem sua hora.


O que será o documentário Plebe Ignara?

É um enfoque diferente dos 30 anos da banda. A gente tem muita coisa para contar. Mesmo com o sucesso, a gente nunca perdeu a linha e a coerência. A gente nunca fez uma música de amor e nunca abaixou a cabeça para o mercado, o que é algo raro para uma banda com tanto tempo de estrada. O documentário é para mostrar para a nova geração que vale a pena ter princípios. A gente está em um país com a mentalidade totalmente torta. As pessoas não leem mais, não discutem mais; estão mais preocupadas com o Big Brother do que com o que acontece na política, algo que afeta diretamente a vida delas.


A internet mudou muita coisa na forma de se consumir música. Para você, ela mudou para pior ou para melhor?

Para melhor, porque as pessoas têm mais acesso. Mas tem o lado ruim que é o fato de haver muito ruído. Você tem de garimpar muito para achar algo bom. Hoje, qualquer palhaço com uma placa de som se julga produtor e pode gravar os amigos. Você não tem discos, você tem demos. Eu não tenho nenhum problema com o lo-fi, mas você tem de saber o que está fazendo.


Como você compõe? Sua forma de escrever músicas mudou ao longo desses 30 anos?

Continua a mesma coisa. As pessoas acham que eu fico o dia inteiro testando sons, mas na verdade eu só ligo o equipamento na hora de gravar. Eu componho muito no violão. Nada mudou para mim. As toneladas de equipamentos que eu tenho aqui, para mim, só atrapalham na hora da composição. Pelo fato de eu trabalhar com isso há muito tempo, eu consigo montar os arranjos na minha cabeça e saber como vai ficar antes de gravar.


Você é saudosista da época da Turma da Colina, em Brasília, que resultou na formação de bandas como a Plebe e a Legião Urbana?

Foi uma maneira bacana de passar a adolescência. A gente não tinha nenhuma responsabilidade. Não tinha a Aids. Foi uma época diferente, em que ouvir discos com os amigos era um acontecimento.


Você vê, hoje, algum tipo de movimento parecido com o que aconteceu em Brasília, nos anos 80?

A coisa que está mais próxima mesmo é a música eletrônica. No punk, você não precisava saber tocar muito bem para fazer parte. O punk te desafiava a fazer parte. Na música eletrônica, você também não precisa tocar nada. Mas a época é diferente também. Você não pode cobrar dessas bandas novas que estão na mídia o mesmo embasamento que a gente tinha. Nossos pais eram acadêmicos e nos ensinaram a importância da leitura. Havia mostras de cinema em Brasília, em que víamos muita coisa de primeira mão. Não é à toa que tínhamos letras fortes. Não dá para cobrar isso de uma meninada que passou a vida inteira só vendo televisão.


Mas, para você, há bandas novas que fazem sons interessantes no Brasil?

Eu, como produtor, sei que tem muita coisa legal acontecendo. Mas, se não aparece na televisão, parece que não existe. Isso é algo que me frustra muito. Meu conselho para qualquer artista é: seja coerente, faça o seu som, pois você vai encontrar seu público. Não adianta pesquisar o que está acontecendo para moldar o seu estilo. É melhor seguir seu coração. Nos anos 80, na cena de rock brasileira, só havia coração; não tinha mercado para o rock. Nós fazíamos para nós mesmos e não tínhamos perspectivas de viver de música. É por isso que essa época parece tão mágica hoje.


Há muitas bandas dos anos 80 que ainda estão na ativa, lançando material inédito, como os Titãs, os Paralamas do Sucesso e o Kid Abelha. Quais artistas daquela época você acha que continuam fazendo sentido hoje?

Eu vejo meus colegas fazendo seu som, e isso é bacana. Eu sinto que alguns estão cansados, batendo ponto. Tem uns que estão fazendo bem. Outros se venderam totalmente. Mas é difícil comparar a Plebe com outras bandas, porque tivemos uma trajetória muito diferente.


O que achou da homenagem da MTV à Legião Urbana, com o Marcelo Bonfá, o Dado Villa-Lobos e o Wagner Moura?

Eu fiquei feliz com o projeto. O legado da Legião é uma carga muito pesada para carregar, e o Bonfá e o Dado já sofreram muito com isso. O Wagner Moura cantou mal pra caralho, sendo que o Renato é um dos maiores vocalistas da história do rock brasileiro. Nesse aspecto, foi fraco. Mas eu adorei ver o Bonfá e o Dado, que são meus amigos, se divertindo. Os dois estavam sorrindo, e faz tempo que não os vejo assim.

Veja o teaser do documentário Plebe Ignara:

Plebe Ignara ( Um Documentário Musical com Plebe Rude) – Catarse from Pietà Filmes on Vimeo.


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Plebe Rude prepara documentário e novo disco; leia a entrevista com Philippe Seabra