“Eu sou a mesma pessoa. Sou a Baby, de Jesus e do Brasil. Quem é que tem a cara de pau que eu tenho pra fazer um treco desses? Tô feliz”. Com 40 anos de estrada, extraordinariamente dividida entre o emblemático grupo Novos Baianos, as parcerias com o guitarrista e ex-marido Pepeu Gomes, uma notável carreira solo e as experimentações no mundo gospel, é assim que Bernadete Dinorah de Carvalho Cidade, também conhecida como Baby Consuelo e autointitulada ‘Popstora’, explica as mudanças em seu nome e a conversão religiosa.

Evangélica convicta (“mas, nunca careta!”), Baby começou sua trajetória aos 14 anos, participando de um festival de música em Niterói, sua cidade natal. Proveniente de uma família de classe média alta, a “quase baiana” fugiu de casa aos 17 anos, rumo a Salvador, para perseguir o sonho de viver de música. Na Bahia, ela conheceu os músicos Paulinho Boca de Cantor, Moraes Moreira, o baixista Dadi, o guitarrista Pepeu Gomes e o poeta Luiz Galvão. Formava-se então uma das bandas mais reverenciadas da história da música brasileira: Novos Baianos. Após o lançamento do primeiro álbum, É Ferro na Boneca (1970), a trupe mudou-se para um sítio alugado no subúrbio do Rio, onde foi concebido o clássico Acabou Chorare (1972) e concretizado o romance entre Baby e Pepeu.

O casal trouxe ao mundo seis filhos: Sarah Sheeva, Zabelê, Nãna Shara, Pedro Baby, Krishna Baby e Kriptus Rá. No auge do regime militar, a família e sua banda vivam de forma quase anárquica, alimentando polêmicas e os sonhos dos adolescentes reprimidos pelo sistema. Em 1985, Baby e Pepeu participaram da primeira edição do festival Rock in Rio. Na época, a cantora subiu grávida ao palco exibindo sua barriga. A cena chocou a ala conservadora da sociedade, que achou um absurdo imenso as cenas de Baby cantando de barriga de fora em rede nacional.

No fim da década de 90, a cantora converteu-se ao evangelismo. Da mesma forma em que mergulhou no ‘incrível mundo dos Novos Baianos’ e o aproveitou de forma invejável, Baby hoje vive o evangelho. Mas, engana-se quem pense que a carioca tenha se tornado intransigente por conta da religião: “Eu entendo as pessoas com aquela coisa autoritária, impositiva e careta. Muitas ficam sérias por fatores culturais e pessoais. Porém, eu aprendi que o melhor é não julgar ninguém. Nós, que temos uma cabeça diferente, não podemos deixar de encontrar Deus por isso. Ele nada mais é que amor”, explica a cantora em entrevista ao Virgula Música.

Na época voltada para o louvor, Baby começou a sentir que tinha de se preparar para algo secular que iria acontecer em sua vida. Após uma temporada dedicada à música gospel, ela está de volta aos palcos por intermédio de um convite irrecusável de seu filho, o guitarrista Pedro Baby. “Quando ele [Pedro] me fez o convite, precisei conversar com Deus. Fui aos Estados Unidos e esperei uma resposta”, conta.

Com o show Baby Sucessos, mãe e filho percorreram o país mostrando sucessos como Menino do Rio, Tudo Azul, Cósmica e Todo Dia Era Dia de Índio. Em entrevista ao Virgula Música, Baby fala sobre música, a volta aos palcos, religião e sobre como mantêm a forma e a voz para enfrentar os shows. Veja a entrevista na íntegra no vídeo acima. 


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"Quem tem a cara de pau que eu tenho pra fazer um treco desses?", diz Baby do Brasil sobre volta à música secular