Raul Seixas

Raul Seixas

Quando Marcelo Nova, último grande parceiro de Raul Seixas, começou a trabalhar com ele, o ícone do rock estava há cinco anos afastado dos palcos. Hoje, o baiano que completaria 70 anos no domingo (28) tornou-se um mito, toda vez que alguém grita “toca Raul”, ele é, de alguma forma, homenageado .

Nós conversamos com Nova sobre Raulzito, a idolatria em torno do ícone e que som ele acha que o gênio estaria fazendo agora.

Marcelo Nova e Raul Seixas

Marcelo Nova e Raul Seixas

Qual foi a maior lição que ele deixou pra você como artista?
Marcelo Nova – Na verdade, ele foi o primeiro letrista a me chamar a atenção para textos em português. Numa época, início dos anos 70, eu ouvia muito rock inglês e americano. Não sentia nenhuma atração pela música brasileira, que era sempre cantada no diminutivo, o barquinho, o solzinho, o azulzinho. E eu não sentia nenhum tipo de atração por isso. E daquele primeiro álbum Krig-ha, Bandolo! eu passei a me identificar, não só apreciação estética, mas me identificar com o que Raulzito falava.

Nós tínhamos gostos musicais  muito semelhantes, então a grande influência que ele exerceu sobre mim foi do ponto de vista que ele me apontou um caminho, ele veio antes de mim. Nós morávamos em Salvador, no mesmo bairro, inclusive (Glória), nós não nos conhecíamos, evidentemente que eu sabia quem ele era. Ele era Raulzito e tinha uma banda, que era minha banda favorita, chamada Os Panteras. Mas eu era só um fã que ia pro show.

Ele me apontou um caminho, se ele era baiano como eu, magro como eu, morava no mesmo bairro, e ele conseguiu fazer um trabalho relevante em um cenário que não era nada favorável, eu pensei, pô, quem sabe eu também consiga. Essa talvez tenha sido a influência decisiva que Raulzito exerceu sobre mim. Jogou uma luz na escuridão no meu destino, na época que eu não sabia ainda exatamente que caminho percorrer. Essa é uma influência que não pode ser subestimada. Foi, acho, que a maior de todas.

Que aspectos considera mais importantes da obra do Raul?
Nova –  O texto. É muito pessoal, é muito incisivo, é muito questionador, é muito sarcástico, ele tem qualidade muito pessoas. Ninguém escreve como Raul, ele é inimitável. Evidentemente, que isso transmite uma personalidade intransponível.

A que você atribui a idolatria em torno do Raul?
Nova – Provavelmente, à atemporalidade da obra que ele deixou. E, acredito que se ainda tiver gente andando pelo planeta daqui a 300 anos, as canções que ele fez vão continuar pertinentes, porque abordam questões que sempre vão estar na cabeça do homem.

Do que mais sente falta dele como pessoa?
Nova – (longo silêncio) Bom, não se pode disassociar uma coisa da outra. Ele era uma pessoa, não é uma questão de sentir mais falta disso ou daquilo. Eu sinto falta do meu amigo. Do meu parceiro. Quem já perdeu um amigo próximo e alguém com quem você desenvolvia uma relação de amizade e respeito mútuo, você entende do que eu estou falando.

Que música você fez com ele que mais gosta?
Nova – Não tenho uma canção favorita. Acho que o que nós fizemos juntos no álbum A Panela do Diabo, talvez seja o nosso legado. Nós fizemos e, me perdoe a imodéstia, um grande disco juntos.

Você ouve sons atuais? Ou acha que não aparece mais nada novo que te interessa?
Nova – Essa coisa de novo é cíclica. Ela aparece. E quando eu digo novo eu me refiro à qualidade porque novidade por novidade está cheia de porcaria aí. Agora se o cara hoje é novo e bom, daqui a 20 anos, ele vai continuar sendo velho e bom, muito provavelmente, porque tem gente que não tem muito a dizer também.

Mas essa coisa da novidade, por si só, pra mim nunca teve nenhuma importância. O que é novo hoje é velho amanhã, o que interessa é saber se é bom. Se for, ótimo.

Que som acha que ele estaria fazendo se estivesse vivo?
Nova – Provavelmente, estaria fazendo a mesma coisa que ele sempre fez, rock, um pouco de música country. As coisas que ele fazia com conhecimento, com habilidade. Ele era fanático por rock. E gostava de Luiz Gonzaga, então tinha uma certa similaridade na levada, na condução rítmica, entre o rock e o baião. Existe uma coisa similar. Ele trabalhou nisso em algumas oportunidade.

Eu não acredito nessa história que ele estaria fazendo nada radicalmente diferente. Ele não copiou nada, ele foi um cara que criou seu próprio estilo. Então ele estaria fazendo o que sempre fez. Dando sequência às raulseixices dele.

Raul Seixas


Créditos: Reprodução/Facebook

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"Sinto falta do meu amigo", diz Marcelo Nova sobre Raul Seixas, que faria 70 anos neste domingo