Funk da Ostentação


Créditos: Fabiano Alcântara

Joãozinho Trinta já dizia: “Quem gosta de miséria é intelectual, pobre gosta de luxo”. Com o funk ostentação, a máxima se tornou inegável. Basta colocar os ouvidos na janela que as ruas irão confirmá-la.

Para MC Guimê, dos hits Tá Patrão e Plaquê de 100, e KondZilla, diretor dos principais clipes e espécie de Midas, o acesso à tecnologia foi fundamental para que esta música pudesse ser produzida e consumida.

Determinante também foi a chegada de um novo público para o exército do consumo. Algo que aproxima ricos e pobres e fazem com que a música quebre barreiras. Afinal, apenas para ficar nas citações relacionadas ao universo carnavalesco, “sonhar não custa nada”. 

Hoje, Guimê e Kondzilla vivem perto deste sonho ao contar seus plaquês (notas) de R$ 100. “A gente não chega a viver tudo que a gente fala na música. A gente fala de dez carros, mano, mas não vai ter dez carros de luxo na garagem. Mas a gente, graças a Deus, tem pelo menos um hoje em dia”. 

Eles fazem parte de um movimento no qual também estão MC Rodolfinho, MC Danado, MC Lon. Cada clipe deles chega a alcançar 20 milhões de visualizações no YouTube. Em sintonia com os novos tempos, eles não falam mais em vendas de discos, singles ou faixas, mas em quantos acessos eles alcançam.   

Leia a entrevista com os dois nomes do funk ostentação, que estiveram na Jovem Pan nesta quinta-feira (28) e, antes, concederam a seguinte entrevista exclusiva ao Virgula Música.

Queria que vocês falassem sobre o funk ostentação, como ele cresceu tanto?

KondZilla – O funk ostentação começou aqui na capital de São Paulo. Ele veio do Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro falava de ostentação também só que tinha uma pegada um pouco de violência junto. E o funk aqui de São Paulo veio numa pegada mais clean assim, sabe. Falando só da ostentação mesmo, sem vincular nada de violência e tudo o mais.
Começou com a galera da Cidade Tiradentes, Zona Leste, Bonde da Juju fez o primeiro funk que arrebentou em São Paulo. Em seguida veio Megane do Boy do Charmes, que fez um milhão em um mês, e logo na sequência MC Guimê, um milhão em duas semanas, aí já era. Começou a engrenagem a se encaixar.

A que você atribui o sucesso desta faixa?

MC Guimê – Hoje vamos dizer assim que a música toca, tipo, em todos os lugares, tá ligado? A gente chega a cantar na Eazy, que é uma casa top, um público bem selecionado, e a gente canta também numa periferia, num fundão da Zona Leste, Zona Sul. Hoje, graças a Deus, está bem geral, o som tá indo pra tudo que é lado.
E esse sucesso que a música faz no YouTube, ela começa a ser muito tocada. A galera começa a tirar muito o som do YouTube, baixa pelo 4Shared, pega aquele áudio ali da internet aí coloca em pendrive e sai no carro. Ela começa a ser muito isso, muito a rua mesmo.
Então, tipo assim, se você vai numa balada está tocando aquela música que é uma música de festa, aí você vai na praia, tipo num Carnaval, numa temporada, são todos os carros tocando a música alta, porque quer ouvir aquela batida, quer falar aquela ideia ali.

De onde vem a força do movimento?

MC Guimê - O sucesso do funk ostentação tem a ver com o geral da galera que está curtindo, da galera que está indo para festa, desde a classe C, D até a classe A, em todos os lugares hoje a gente está cantando.

Quebrou barreiras?

KondZilla – Exatamente. Acho que foi uma soma de coisas. O lance da tecnologia que hoje, sem sombra de dúvidas, está muito mais acessível para todo mundo, tanto para galera que tem uma condição financeira melhor, quanto para galera da comunidade. Tem o celular, que toca uma música, que funciona como uma mídia, a parada da internet. Todo mundo hoje tem computador em casa.
Então, quer dizer, a tecnologia veio barateando este mercado, meio que democratizou este mercado, todo mundo começou a ter acesso. A galera começou a gravar as músicas em casa, fazer home estúdio, comprar uma câmera que filma em HD, por um preço muito mais acessível.
Então, foi um conjunto de coisas. Junto com essa molecada nova, esta garotada aí que consome muito a internet. Então, a internet foi o principal combustível.

MC Guimê – É a principal ligação, porque anos atrás, como eu posso dizer pra você, era mais difícil um moleque da periferia, de uma classe C, querer um celular de luxo, querer alguma coisa de luxo.
Hoje não, hoje você tá na internet. Talvez ele não tenha, mas a foto do amiguinho dele tá com aquele celular. Hoje você vai numa escola, qual criança não quer um iPhone? Então, tipo assim, a música está junto com a atualidade. Igual ao KondZilla mesmo falou, a parada a galera vai querendo e vai querendo ouvir aquilo que ela tá querendo.

KondZilla - É o sonho, né? Na verdade, a gente mostra o sonho da galera. Os MCs cantam o sonho que há um tempo eles só sonhavam e hoje estão vivendo.

Vocês já vivem este sonho?

MC Guimê - A gente não chega a viver tudo que a gente fala na música. A gente fala de dez carros, mano, mas não vai ter dez carros de luxo na garagem. Mas a gente, graças a Deus, tem pelo menos um hoje em dia.

KondZilla - A gente está vivendo melhor que antes. É um personagem.

E como que você teve a ideia de fazer suas músicas que viraram sucesso?

MC Guimê – A primeira Tá Patrão, que foi o clipe com o KondZilla também, que foi a primeira que bombou. Eu tive a ideia dela assim, o funk ostentação estava vindo, como ele mesmo disse, Back Di e Bio G3, do Bonde da Juju, e outras músicas também de luxo. E a gente começou a falar disso. Eu fiz a Tá Patrão o clipe com ele, fez essa correria.
E depois disso a gente começou a fazer bastante show. E quando a gente começou a meio que viver essa ideia que a gente estava falando. Eu voltando de um show com o DJ com a equipe toda, a gente com um bolo de dinheiro dos shows, eu fiz uma brincadeira, “contando os Plaquê de Cem” (canta). Aí eu peguei a ideia da música e fiz. Hoje, graças a Deus, é o carro-chefe, virou hit no Brasil.


int(1)

Reis do funk ostentação, MC Guimê e KondZilla creditam sucesso à internet