Robert Plant ao vivo em São Paulo, 22/10/2012


Créditos: Stephan Solon / XYZ Live

Se quisesse, Robert Plant seria o frontman mais rico do planeta hoje. Bastava aceitar qualquer uma das várias propostas multimilionárias para reformar o Led Zeppelin, e pronto; nem os tataranetos de um dos vocalistas mais reconhecidos do rock n’ roll precisariam se preocupar com a conta bancária.

Mas apesar dos apelos diários de fãs, jornalistas e empresários, Plant optou pela rota menos óbvia: preservou a lenda do Led Zeppelin, e conduziu uma carreira-solo musicalmente mais livre que a banda que o fez quem é.

A “nova” fase do vocalista chegou ao Brasil na última semana, agora acompanhado da banda The Sensational Space Shifters, para uma longa turnê: sete datas, ao todo. Após shows em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro, Plant desembarcou em São Paulo na segunda-feira (22), para show com lotação esgotada no Espaço das Américas, zona oeste da capital paulista.

O show começou às 22h em ponto, e com uma das faixas mais pesadas do set – Tin Pan Valley, de Mighty Rearranger (2005). Apesar de aberto às explorações e experimentações de Plant – que flertam com a world music em mistura eclética com elementos de blues, folk, música indiana e ritmos africanos – o público queria mesmo rock n’ roll (sem trocadilhos), e mostrou isso ao vibrar com as guitarras distorcidas do refrão.

A euforia continuou durante clássicos absolutos do Led Zeppelin como Black Dog Ramble On, mesmo reconstruídos e rearranjados completamente. Outras canções do quarteto, como FriendsGallows Pole e Bron-Y-Aur Stomp, se ambientaram com mais naturalidade ao clima construído por Plant.

Mesclado às oito faixas do Led Zeppelin apresentadas no Espaço das Américas, o repertório solo de Plant surpreende, auxiliado por covers de Howlin’ Wolf (Spoonful) e Tim Buckley (Song to The Siren). Os Space Shifters levam grande parte do crédito, com performances excepcionais como a do multi-instrumentista africano Juldeh Camara, aplaudido efusivamente pelos presentes.

Após uma ousada versão de Whole Lotta Love, Plant voltou para uma interpretação encantadorada da balada acústica Going To California, seguida por uma versão mais dançante e menos potente de Rock N’ Roll que, mesmo eficiente, evidenciou o tendão de Aquiles da carreira-solo do cantor.

É inquestionável que Plant funciona muito bem sozinho. Mas é impossível não notar a falta do peso do groove de John Bonham, das guitarras espetaculares de Jimmy Page e dos baixos bem desenhados de John Paul Jones. Plant nunca assumiu exclusivamente a genialidade do Zeppelin, mas ainda assim, o que presenciamos atualmente é apenas um quarto do fenômeno que tomou o planeta no fim da década de sessenta.

Plant reconhece e respeita isso, fadado eternamente a uma comparação injusta. Ele sabe que a história não pode ser escrita duas vezes. Mas pelo menos fãs e admiradores da banda que revolucionou o rock não ficam presos a reuniões sem propósito artístico, motivadas apenas por dinheiro, como tantas por aí. Plant oferece uma nova jornada, um pouco mais sinuosa, mas nós embarcamos plenamente satisfeitos.

Robert Plant se apresenta novamente em São Paulo nesta terça-feira (23), e depois segue para Brasília (25), Curitiba (27) e Porto Alegre (29).

Setlist:

Tin Pan Valley
Another Tribe
Friends
Spoonful
Somebody Knocking
Black Dog
Song to the Siren
Bron-Y-Aur Stomp
The Enchanter
Gallows Pole
Ramble On
Funny in My Mind (I Believe I’m Fixin’ to Die)
Whole Lotta Love
 
Bis:
Going to California
Rock n’ Roll 


int(1)

Sem se apoiar na nostalgia, Robert Plant respeita legado do Led Zeppelin em São Paulo