A grande homenageada da 20ª edição do Festival de Vitória, Betty Faria, subiu ao palco da Estação Porto na noite de quinta-feira (31) para receber o Troféu Marlin do evento.

Com 28 longas no currículo, incluindo obras de peso para a história do cinema nacional, como Bye, bye BrasilLili, a estrela do crimeRomance da empregada, além de sólidas carreiras no teatro e na TV, Betty é uma das mulheres mais fortes da história do audiovisual brasileiro.

Depois de chegar ontem e acompanhar curtas e o longa Avanti Popolo, a carioca de 72 anos deu entrevistas e uma coletiva de imprensa.

Em entrevista exclusiva à Agência Efe, a eterna Salomé falou sobre a importância dos festivais para o cinema nacional: “A importância desses festivais é enorme, porque chama a atenção do público. Na mostra de cinema de São Paulo, agora, fui ver um filme às quatro da tarde e o cinema estava lotado!”.

E completou “o cinema brasileiro nesse momento está com uma diversidade total, tem tudo: drama, comédia, tragédia, animação… ontem eu vi um curta, O Desejo do Morto que era seriíssimo, mas ficou tão trash que ficou engraçadíssimo, muito interessante”.

Personagem da biografia autorizada Betty Faria: Rebelde por Natureza, de Tania Carvalho, em 2006, a atriz comentou a recente polêmica sobre direito à privacidade versus liberdade de expressão protagonizada por Caetano Veloso, Roberto Carlos, Chico Buarque, Gilberto Gil, Erasmo Carlos, entre outros.

Os ícones da MPB lançaram o movimento Procure Saber, em que discutem uma nova legislação para evitar que biografias caluniem artistas – o que exigiria sua autorização e, para muitos, portanto, seria uma nova forma de censura.

“Quero dizer em primeiro lugar que esses homens, esses artistas são meus ídolos e amigos da minha geração. Eles não são moleques, não são loucos, eles têm alguma razão. Houve um fuzilamento em massa. Foram mal interpretados, porque disseram ‘agora tem que proibir’: não é isso”, defendeu.

“Tenho um grande ídolo no cinema que é Marlon Brando. Há uns 20 anos, comprei a biografia Brando for Breakfast toda feliz e comecei a ler. O livro foi escrito por uma ex-mulher dele, Anna Kashfi, ressentida… você não tem ideia das intimidades sexuais que essa mulher botou na biografia. O cara morreu e o livro está na minha estante. Isso é o que é a barra pesada da biografia”.

Na coletiva de imprensa, ao ser lembrada de que os artistas do movimento chegaram mesmo a falar em proibição das publicações sem autorização, Betty ponderou: “É complicado, porque vai dessa queixa de censura ao Brando for Breakfast…”.

À Efe, a atriz levantou uma questão: “Você não acha que tem um lado de inveja? De dizer ‘ah, são famosos, ganham dinheiro, vão ter que aguentar”?

“É claro que não defendo proibir, não sou ignorante, mas se o artista tem suas intimidades sexuais reveladas, ou sofre calúnias, acho que não pode, não está certo. Por isso apoio esses artistas, que não são moleques, são grandes artistas, estou do lado deles”, concluiu.

Na entrevista coletiva, a musa sem papas na língua ainda falou sobre a colega Norma Bengell, recentemente morta após lutar contra um câncer e passar por problemas financeiros.

“Falei outro dia com o Stepan (Nercessian) que todo ator deveria pagar uma taxa para o sindicato, porque a partir do fortalecimento sindical, assim como existe o Bolsa Família, poderia existir o Bolsa Palhaço Velho (brinca), coisas assim, para evitar situações tristes como o final da Norma”.

Às 22h, a dama da TV, do cinema e do teatro assistiu na Estação Porto a um filme com os melhores momentos de sua carreira, que a emocionou e, sob muitos aplausos do público, subiu ao palco para receber o Troféu Marlin Azul e uma joia da joalheira capixaba Carla Buaiz.

Em seguida, o público assistiu ao longa da noite, o carioca O Rio nos Pertence, de Ricardo Pretti e com Leandra Leal como protagonista de uma agonizante trama num obscuro Rio de Janeiro.


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Betty Faria recebe homenagem no Festival de Vitória e fala sobre biografias