Theresa Jessouroun repercutiu bastante no cenário nacional do cinema ao lançar o documentário À Queima Roupa em 2014. Dois anos depois, o filme, que fala sobre a violência policial nos últimos 20 anos no Rio de Janeiro, com histórico de execuções de inocentes e chacinas, é um dos concorrentes ao Prêmio Netflix Brasil 2016.

A premiação apresentará dois ganhadores, que terão a chance de fazer parte do catálogo de filmes e séries do serviço de streaming nos mais de 190 países onde ele está em atividade.

Rogerio Resende/R2Foto/Divulgação Theresa Jessouroun é diretora de ‘À Queima Roupa’

Em entrevista exclusiva ao Virgula, Theresa falou sobre o documentário, a guerra ao tráfico, legalização das drogas, desmilitarização da polícia e até sobre as polêmicas envolvendo o filme Aquarius. Se liga!

Virgula – O documentário trata de dados específicos da violência policial ou dela como um todo?
Theresa Jessouroun
– O documentário fala sobre corrupção dentro da polícia do Rio de Janeiro nos últimos 20 anos, então ele mostra as principais chacinas que aconteceram e quais foram as consequências. Se receberam as indenizações, se os culpados foram presos, o que aconteceu? Eu entrevistei pessoas ligadas às chacinas que começam em Vigário Geral, e o filme começa com pessoas gritando por justiça [há 20 anos] e termina com pessoas gritando a mesma coisa no ano em que gravei [2014].

Virgula – Além das chacinas, o documentário fala também de execuções pontuais?
Theresa – Como Amarildo… fala sim. O filme começa falando do caso de execução da Patrícia Acioli [juíza morta com 21 tiros em 2011] e depois todas as mortes provocadas pela Polícia Militar.

Virgula – A moral da história pede a desmilitarização da polícia?
Theresa – Eu fiz questão de não colocar no filme pessoas especialistas para dizerem qual é a solução. O filme só mostra o que acontece, qual é o quadro, o que acontece com as pessoas que morrem nas mãos da polícia na periferia, porque são as negras e pobres que morrem. Não morre ninguém na zona sul [ do Rio de Janeiro]… não morre, morre no morro onde o tráfico está em guerra. E a guerra ao tráfico é uma guerra inútil, não leva a nada porque o mundo sempre terá drogas. É uma guerra inútil porque morre policial, morrem inocentes e morrem os possíveis traficantes que, muitas vezes, nem são, e morrem na guerra que não leva a nada.

Divulgação ‘À Queima Roupa’ concorre ao Prêmio Netflix

Virgula – Na sua opinião, a desmilitarização [da polícia] e a legalização das drogas são as soluções menos dolorosas pra acabar com essa guerra?
Theresa – Acho que são três coisas importantes: a desmilitarização da polícia, a descriminalização das drogas e uma polícia mais bem treinada, que tenha formação em direitos humanos, que saiba que não dá pra subir [no morro] matando como eles fazem, não é ‘bandido bom é bandido morto’, isso não existe.

Virgula – Maioridade penal em 16 anos?
Theresa – Sou totalmente contra, lógico, vai encher o presídio com um monte de criança de 16 anos? Como assim? Sou contra.

Virgula – O que aconteceu com Aquarius? Qual sua visão sobre tudo que rolou com o filme desde Cannes? Houve boicote?
Theresa – Cara, é muito difícil fazer a afirmação de que houve boicote. Acho que o filme teve uma repercussão muito grande por ter tido a coragem de ir lá em Cannes denunciar o que está acontecendo no país, então, a partir daí, lógico que há pessoas que pensam dessa maneira e contra que se posicionaram. Agora dizer que houve [boicote] é muito difícil fazer uma afirmação dessa.

Virgula – Você acha que era um filme para censura de 18 anos?
Theresa – Não, eu vi o filme. 16 [anos] estava bom. Eles fizeram bem em recorrer.

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Créditos: Reprodução / Divulgação

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Cineasta concorrente ao Prêmio Netflix 2016 defende desmilitarização da polícia

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