Em entrevista coletiva do diretor de cinema David Lynch nesta terça-feira, em Madri, os jornalistas ficaram sem resposta para a pergunta mais repetida no evento: o cinema perdeu de vez o inquietante e transgressor diretor de “Estrada Perdida”?

“Escrevi alguma coisa, e estou contente com o resultado”, disse o mestre de Montana aos jornalistas, “mas sempre há a necessidade de fazer melhor. Não sei qual será o próximo (projeto) que vou fazer, mas as ideias fluem”, acrescentou.

Seu último longa-metragem, “Império dos Sonhos” estreou em 2006 e representou sua ruptura definitiva com a indústria, enquanto recebeu as críticas mais extremas que o tachavam ou de obra-prima, ou de “enorme estupidez”.

Nos últimos anos a criatividade do autor da série de TV “Twin Peaks” foi mais visível no cenário musical – em maio de 2012 publicou seu segundo álbum de pop eletrônico – embora de vez em quando também publique curtas em seu site.

Sua visita a Madri tinha como objetivo o encerramento do Festival de Cinema, Arte e Música Rizoma com uma palestra sobre meditação transcendental, que vai dar hoje no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia e da qual também falará amanhã em um encontro com estudantes da Universidade Carlos III.

Se os ingressos para a palestra se esgotaram em uma hora, na Universidade havia filas intermináveis para comprá-los.

A meditação transcendental (MT) é uma técnica com marca registrada introduzida no Ocidente por Maharishi Mahesh Yogi – o mesmo que iniciou os Beatles – é a porta, segundo Lynch, ao desfrute “sem limites” da “paz, do amor, da energia”.

Ao praticá-la, “a negatividade desaparece, a ansiedade, a tristeza, o ódio, a raiva, o medo, o desespero, diminuem cada vez mais”, disse.

Lynch começou a praticar em 1973 após escutar uma frase que venceu seu ceticismo inicial: “A verdadeira felicidade não está no exterior, mas no interior de cada um”.

Em duas semanas, contou, “a raiva e a depressão começaram a sumir” e as ideias, a fluir com maior liberdade.

Lynch quer atrair sobretudo os jovens, explica a organização do festival, mas não deixou de arregimentar jornalistas: “Vai meditar amanhã?”, perguntou a um antes que ele pudesse fazer sua pergunta.

De terno preto, camisa branca abotoada até o último botão e seu topete característico, o diretor alçado à fama em 1977 gesticulava bastante enquanto tentava explicar por que a MT, e não outras formas de meditação.

“Só a meditação transcendental consegue fazer a pressão sanguínea diminuir”, ressaltou, “todas as outras, zero”. “Quando você consegue transcender, todo o cérebro.. bum!”, repetiu várias vezes, imitando uma explosão.

Embora Lynch pratique a meditação há 40 anos, foi em 2005, quando criou uma fundação para arrecadar dinheiro destinado a promover o acesso a essa prática, não religiosa, convencido de que com isso contribuiria para estender a paz no mundo.

Isso ocorreu depois de visitar na Holanda o próprio iogue Marishi, com quem fez um curso de iluminação de um mês, prévio pagamento de US$ 1 milhão, segundo o “New York Times”.

Se até então Lynch era reticente ao falar em público, após essa visita e a criação da fundação começou a viajar, dar conferências pelo mundo e tentar fazer o possível para que a MT fosse mais do que um luxo ao alcance de poucos.


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David Lynch, o cineasta que virou guru da meditação