O diretor israelense Amos Gitai lançou nesta terça-feira no Festival de Veneza uma “bomba pacífica” com “Ana Arabia”, filme que defende a convivência de hebreus e árabes com uma história rodada em um só plano e em tempo real, cheia de boas intenções, mas com um resultado visual mais fraco do que a sinopse prometia.

“Ana Arabia”, que concorre na seleção oficial da 70ª edição do gestival, conta a história de sete pessoas que vivem em um enclave entre Jaffa e Tel Aviv e demonstra “como as pessoas podem coexistir, viver juntas, como uma frágil utopia pode sobreviver”, explicou o diretor em entrevista coletiva.

“Vivemos em uma época em que o Oriente Médio oferece imagens violentas” e a ideia deste filme é “lançar uma bomba pacífica, tendo como alvo o ódio, o fanatismo e o excesso religioso”.

O filme, inspirado em alguns fatos reais, tenta provar que as pessoas podem se relacionar umas com as outras apesar de “não ser tudo paradisíaco, porque não somos anjos, somos pessoas com fragmentos de memória”.

No longa, uma jovem jornalista, Yael, vai a um pequeno vilarejo em que árabes e israelenses convivem para contar a história de uma mulher judia que se casou com um árabe e se converteu ao islã.

A jornalista passeia entre as casas que compõem essa comunidade deixando que cada pessoa conte suas histórias mais íntimas, um ponto de partida mais interessante no roteiro do que na tela.

Um só plano de 81 minutos conta a história, em uma tentativa simbólica de não cortar a relação estabelecida entre árabes e israelenses. “Quisemos usar um só plano sequência para que a forma do filme fosse coerente com o conteúdo”, explicou o diretor.

Em uma região de conflitos tão brutais, o diretor de “Free Zone” (2005) queria transmitir uma mensagem de paz e de continuidade na forma e no conteúdo do filme.

Paz continuamente posta à prova, e que Gitai queria, no cinema, “simular a outra opção porque devemos manter a ideia que essa convivência é possível”.

“É preciso manter a utopia na vida inclusive nos piores momentos”, afirmou, embora reconheça que há “muitos preconceitos e muitos fanatismos religiosos que levam a uma visão demais limitada do que a sociedade pode fazer”.

E ele, como cineasta, considera que é sua obrigação usar a tela grande para “instaurar o tempo, a compreensão, a sensibilidade e as contradições” que nos permitem entender o mundo.

“Ana Arabia” mostra um desses poucos lugares em que a convivência entre israelenses e palestinos se dá sem problemas há anos, desde que grande parte da população palestina decidiu permanecer em seus lares após a guerra de 1948.

Em Jaiffa, “a relação entre israelenses e árabes é cotidiana”, o que mostra “a possibilidade de amor, de amizade entre gente de grupos diferentes”.

“No Oriente Médio está o berço da civilização e das três grandes religiões monoteístas. É preciso parar com os massacres”, apelou Gitai. 


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Em Veneza, cineasta israelense Amos Gitai pede paz entre entre Israel e Palestina