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Foto: Divulgação

Sucesso no cinema como a Marcelina do filme ‘Minha Mãe É Uma Peça 2’, maior bilheteria da história do cinema nacional, com 8,8 milhões de espectadores, Mariana Xavier ficou conhecida por sua luta contra o preconceito que as gordinhas sofrem. A atriz de 36 anos, que, ao lado das atrizes Cacau Protásio, Simone Gutierrez e Fabiana Karla lançou o movimento das Gordelícias, prepara-se agora para estrear na próxima novela de Gloria Perez, ‘A Força Do Querer’. Na trama, ela vai interpretar uma secretária que se transforma em modelo plus size. Alegre e desencanada para falar sobre sua forma física, Mariana conta que esse nem sempre foi um assunto tão tranquilo para ela. Ela lembra que, por anos, lutou contra a balança e que, ainda hoje, sofre com algumas inseguranças: “Tenho bunda grande, coxa grande, braço grande, nada disso me incomoda. Mas a barriga me incomoda muito”, diz . Confira a entrevista:

Você vai viver uma modelo plus size na nova novela de Gloria Perez, pode falar sobre ela?
Minha personagem se chama Abigail. Ela é uma secretária executiva na empresa dos personagens do Humberto Martins e do Dan Stulbach, sabe tudo de todo mundo. A personagem da Bruna Linzmeyer vai pegar no pé dela pedindo para ela fazer dietas. Ela não se intimida, responde sempre à altura, dizendo que se sente bem, que está ótima. É uma gordinha bem resolvida, segura de si, cheia de desejos.

Você sempre foi gordinha?
Não. Engordei a partir dos 26 anos, que foi quando eu resolvi deixar de lutar contra a balança e parar de envenenar meu corpo com remédios para emagrecer. Dos 18 anos aos 26, travei uma guerra com a balança. Fazia dietas malucas, tomava todo tipo de medicamento que você possa imaginar: cibutramina, anfepramona, tudo barra pesada… Estava acabando com a minha saúde física e mental. As pessoas acham que estou fazendo apologia à obesidade, ou que eu sempre fui super bem resolvida, que  fui gorda a vida inteira ou que acho legal ser gorda. Tentei não ser, fui massacrada pela ditadura da estética.

Quando te deu o clique para parar?
Não sei exatamente. Aos 26 anos engordei muito, 20 quilos em um ano. Antes eu brigava por causa de cinco quilos: tomava remédios, emagrecia dois quilos e engordava seis depois. Sou o exemplo do que não fazer nesse sentido.

Teve algum motivo para engordar tão rapidamente?
Foi uma conjunção de fatores. Estava numa fase profissional complicada, trabalhava com marketing e tentava conciliar com a carreira de atriz, eu meio que equilibrava pratos. Nessa época também eu comecei a namorar meu ex-marido, estava apaixonada e achei que podia comer massa e tomar vinho às 2h da manhã sem consequência nenhuma ao corpo… Quando a gente está apaixonada acha que está imune a tudo… Tenho também tireoidite de Hashimoto, doença autoimune que ataca a glândula da tireoide. Nessa época comecei a desenvolver hipotireoidismo.

Foi difícil se aceitar?
É estranho. De repente, você tem outro corpo. Você não acha mais roupa com a mesma facilidade. Você fica insegura, não sabe se o marido vai te desejar como antes. Não é uma coisa simples. Graças a Deus não sou uma pessoa com tendência depressiva. Algumas pessoas criticam essa minha aceitação, dizem que, se eu pudesse, seria magra. Olha, se eu pudesse, se me dessem a opção de, num passe de mágica, sem abrir mão de nenhuma característica da minha personalidade, nem do meu amadurecimento, sem colocar minha saúde em risco, voltar a vestir manequim 40, eu diria: “Quero”. Não porque me sinto infeliz vestindo 46, mas porque a vida é mais fácil dentro dos padrões. Mas não acredito mais em mágica. E não troco a Mariana de hoje, com a cabeça que eu tenho, pela de 20 anos atrás. Hoje entendo que meu corpo é só uma pequena parte de mim, a mais descartável, a mais mutável. Os valores que eu tenho como ser humano são tão maiores que eu não trocaria isso por 30 quilos a menos.

Então, hoje, você gosta de ser gordinha?
Não estou dizendo que ser gordo é maravilhoso, não estou chamando ninguém: “Ei, venha ser gordo você também!”. A bandeira que eu levanto é que a gente tem que ser feliz como a gente pode e como consegue. Isso não significa dizer que acho tudo maravilhoso nem que vou sair por aí com a barriga de fora. Não gosto da minha barriga, fiz criolipólise há dois meses.

Por que fez criolipólise?
Tenho bunda grande, coxa grande, braço grande, nada disso me incomoda. Mas a barriga me incomoda muito. Porque ficou essa marca de cesária de um filho que não pari (risos).

Como está o projeto de lançar uma linha de biquínis?
É um mercado que sinto que ainda é muito carente. Toda vez que eu posto foto de biquíni ou de maiô, chovem comentários. As mulheres não acham biquínis em tamanhos maiores ou, se acham, é tudo muito caro. O mercado plus size melhorou muito. Mas existe um clamor do público grande para que aumente, para que melhore. Postei uma foto de biquíni e a imagem teve mais de 60 mil curtidas. Por isso resolvi investir nisso. Estou pesquisando, já sentei com uma amiga que estudou moda e estamos desenvolvendo, buscando referências. A ideia é lançar no final do ano, no próximo verão.

Houve um avanço no mercado plus size?
Sim, um avanço muito grande. De uns dez anos para cá, evoluiu muito em quantidade e qualidade. Ainda assim, está aquém do potencial. Ainda vejo muita gente reclamando que não acha coisas. Tenho visto um crescimento enorme não só do mercado plus size, mas de marcas grandes que só fabricavam tamanhos menores e que, agora, estão aderindo a tamanhos maiores. É um público com potencial grande que não consome por falta de opção ou porque se sente acuado. Eu me sinto constrangida com o termo ‘plus size’,porque ele significa que você está acima do padrão. Existe um tamanho padrão e você é mais, maior que ele? Sonho com o dia em que uma modelo plus size será apenas uma modelo.

Faz dieta?
Não considero que o que faço seja dieta. Procuro ter uma alimentação equilibrada para poder pisar na jaca quando me dá vontade. Malho para continuar comendo. Agora, por causa da novela, nem posso perder peso. Também não quero, porque minha saúde está ótima, tudo sob controle. Tenho feito exercícios uma vez por semana, faço aula de dança.

Você acabou de lançar um canal no Youtube. O que você posta por lá?
O canal se chama ‘Mundo Gordelíci’a, mas não é voltado para gordos. Posto sobre vários assuntos: carreira, falo de questões de saúde, falo como é estar no Tinder…

Por falar em Tinder, ser gordinha dificulta para arranjar namorados?
Sim. Porque ainda existe um preconceito e uma preocupação com o olhar do outro. Ainda fico insegura, em dúvida se um cara não vai ter vergonha de namorar uma gordinha, por exemplo.

Em um dos vídeos, você fala sobre sua mãe, diagnosticada com câncer de colo de útero em novembro do ano passado. Como tem encarado essa fase?

Não é fácil. O espiritismo ajudou muito a gente. A gente acredita que as provas são colocadas no caminho porque temos algo a aprender e porque temos condições de vencer as adversidades. Estou orgulhosa de ver como ela está encarando. Ainda assim, está sendo mais tranquilo do que imaginávamos. A gente tem uma imagem muito ruim do câncer e da quimioterapia. É ruim, sim, claro, mas é possível de ser enfrentado. O tratamento acaba semana que vem e precisamos esperar mais um mês e meio dois para ver se está tudo bem.

Modelos plus size que esbanjam sensualidade

A modelo e capa da 'Playboy' Brasil Fluvia Lacerda (@fluvialacerda)
A modelo e capa da 'Playboy' Brasil Fluvia Lacerda (@fluvialacerda)
Créditos: Reprodução/Instagram

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"Fui massacrada pela ditadura da estética", lembra Mariana Xavier