Cinema nacional alternativo deve ser para todos: é assim que pensa um grupo de jovens da Baixada Fluminense apaixonados pela sétima arte. Na região metropolitana do Rio de Janeiro, mais precisamente em Duque de Caxias, uma turma de amigos promove, há 12 anos, sessões gratuitas de produções independentes, numa iniciativa batizada de Cineclube Mate com Angu. Apenas por paixão, e por vontade de popularizar o cinema, Heraldo HB e seus colegas começaram passando filmes nacionais pelas ondas de uma rádio universitária da Baixada, em 2002, mas rapidamente a ideia passou para a tela, em sessões gratuitas. Hoje o Mate com Angu tem endereço fixo na Sociedade Musical e Artística Lira de Ouro, Caxias, e sessões regulares com debates e encontros temáticos. Além disso, já investe em produções próprias.

Heraldo HB, apaixonado por cinema e arte desde criança, é atualmente um dos organizadores do Cineclube, que não possui diretoria: 25 outros apaixonados por cinema, entre cineastas, fotógrafos e designers, têm o papel de movimentar e fazer acontecer o Mate com Angu. O foco das produções próprias está nos curtas-metragens e, nas sessões, o objetivo do grupo é estimular a discussão sobre cultura audiovisual e as suas implicações estéticas e sociais. Para isso, em toda exibição há um convidado, que tem o papel de comentarista. A sala da Sociedade Lira de Ouro tem capacidade para 500 pessoas, e já lotou algumas vezes. O sucesso do cineclube é tanto que a divulgação é quase desnecessária – o público é fiel, o que faz do Mate com Angu um modelo para outros cineclubes com o mesmo formato. Confira a entevista com Heraldo HB:

De onde vem a sua paixão pelo cinema?
Bom, desde criança trabalho com arte e cultura. Trabalhei em escolas, atuando em diversos projetos culturais, e assistia a muitos filmes. Sou muito apaixonado por cinema desde sempre… Acabei fazendo vários cursos livres em escolas de cinema também.

Como e quando começou o Mate com Angu?
Começou de uma vontade minha e de uns amigos ligados ao cinema ou apenas amantes para fazer audiovisual na Baixada. Eu e um amigo, que tinha acabado de fazer um filme muito legal, em 2001, fomos os primeiros a pensar a ideia. Depois desse filme, surgiu a oportunidade de fazermos uma mostra de cinema aqui na Baixada, que nem chegou a acontecer. Mas, a partir da iniciativa da mostra, acabamos juntando uma galera, e assim nasce o cineclube. Em 2002, começamos a passar alguns filmes na rádio do pólo da UERJ de Duque de Caxias. Só em 2003 encontramos um lugar para exibições quinzenais, no Instituto Histórico, em Caxias, numa sessão à tarde, mais voltada para os estudantes. Em 2004, começamos as exibições à noite e também passamos a produzir nossos próprios filmes e a exibi-los na Sociedade Musical e Artística Lira de Ouro, onde estamos até hoje.

Como funciona o Cineclube?
Temos uma sessão regular uma vez por mês, às vezes sessões extras e fazemos oficinas para ajudar a montar outros cineclubes com formato semelhante. Neste momento, temos três filmes em andamento. Um deles vai ser lançado em breve, “Donana”, com direção do Cacau Amaral, diretor super premiado. Não cobramos nada para assistir os filmes. Qualquer um pode chegar.

Todos os 25 do grupo são da Baixada Fluminense?
Sim, quase todos somos da Baixada, apesar de haver alguns que são daqui e hoje em dia moram no Rio. Cada um tem o seu emprego, normalmente ligado ao audiovisual, e fazemos o Cineclube por paixão pelo cinema. Não ganhamos um centavo, mas amamos o que fazemos.

E o público é fiel?
Muito. Como já temos 12 anos, já temos um público que aparece sempre. Mas, para divulgar as sessões, usamos muito a internet, o Facebook e, às vezes, também fazemos panfletagem, quando são exibições mais importantes. Em média, recebemos cerca de 150 pessoas. O salão do Lira de Ouro, onde exibimos os filmes, é bem grande e podem caber cerca de 500 pessoas. Muitas vezes lotamos a sala.

Além dos filmes que vocês produzem, que tipo de filme vocês exibem?
A gente passa de tudo, mas o que tem mesmo é curta-metragem nacional. Para montar uma sessão, escolhemos um tema para o mês e procuramos curtas que abordem esse tema. A maioria é nacional. Os longas nós passamos em sessões especiais, normalmente nacionais também, dessa geração nova que está fazendo filme aí. Muitas produções independentes.

E que perspectivas de continuidade vocês têm para o cineclube?
A gente vai manter a coisa como está, por enquanto. O projeto atual são as sessões regulares e queremos começar, em breve, um projeto itinerante de projeção de filme. Por agora, queremos organizar melhor o cineclube e torná-lo mais abrangente, mas mantê-lo do jeito que está.

Qual o seu papel no cineclube?
Nós não temos diretoria. Todo o mundo faz tudo. Essa coisa de procurar filme por tema, entrar em contato com diretores para exibir etc. a gente divide e não existe uma função específica para cada um. E é muito bom, porque vamos contatando diretores do Brasil inteiro. Fazer um filme é tão difícil, que os diretores autorizam logo a exibição e a divulgação dos seus trabalhos.


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Mate com Angu promove cinema alternativo há 12 anos na Baixada; leia entrevista com cofundador