Rubens Ewald Filho

Há mais de três décadas, ele é a cara da maior premiação do cinema na televisão brasileira. Rubens Ewald Filho, crítico de cinema mais famoso do país, bateu um papo com a gente sobre a premiação deste ano.

Rubens, depois de tantos anos, você continua sendo a cara do Oscar no Brasil. Em um mundo onde as séries, serviços on demand, Netflix estão dominando, você acha que a produção de filmes propriamente ditos vai mudar? Se sim, em que sentido?

Acho que até já mudou. As pessoas vão menos ao cinema, escolhem mais os filmes e a Netflix cresce assustadoramente, mas talvez seja uma coisa boa. Acho que a existência dela e semelhantes provocou a decadência dos estúdios. Não foi à toa que ano passado, você pode checar, era um filme que ia bem e cinco ou sete outros que eram retumbantes fracassos. Sinal de que os estúdios perderam a mão no gosto do público, por uma razão simples: hoje quem escreve para a Netflix ou HBO ou alguns outros, são os criadores, os escritores, produtores, diretores. Ou seja, estão livres da influência dos executivos, aqueles advogados, agentes, aqueles que só veem o dinheiro na frente deles. Essa é a razão do sucesso do novo sistema de fazer e distribuir filmes, que é mais barato e desde já mais bem sucedido. Quanto ao Oscar, acho que estão meio perdidos. Até que deu certo a ideia de abrir os convites para gente do exterior e minorias, assim como conseguir que atores negros, em geral excelentes, tivessem sua chance. Mas ao fazer isso se esqueceram do público. Insisto em achar que deveria estar entre os finalistas, Rogue One, o melhor Star Wars até agora, e Deadpool, com o Ryan Reynolds, outro melhor do gênero. Acho que esse público, em geral jovem, deveria ter sido mais respeitado.

Qual categoria terá a disputa mais acirrada, tirando a de melhor filme?

Alguns grandes diretores premiados ficaram de fora da competição porque erraram, fizeram filmes ruins. Scorsese complicou e se deu mal com o exclusivamente de arte, Silêncio. O, duas vezes vencedor do Oscar, Ang Lee, fez um filme inovador que foi rejeitado em massa, A Longa Caminhada de Billy Lynn, que nem ruim chega a ser, é medíocre infelizmente. E o lendário e superpremiado Warren Beatty nem conseguiu estrear direito o fraco retorno depois de 15 anos, Rules Don´t Apply, que pode nem passar aqui. E a mulher dele fez outro filme super estimado, que é desengonçado e “aburrido”, Mulheres do Século 20. Enfim, mostro isso para perceber que o padrão deste ano, ao contrário, foi bem baixo. Tem outros filmes superestimados que os críticos ficaram pondo no céu sem maior razão. E as disputas mais acirradas, como dizia antes, foram justamente as dos filmes de ação e animação que são os que mantém viva a indústria. E são injustamente tratados.

Quais foram as ausências mais sentidas entre os indicados (entre todas as categorias)? Amy Adams merecia a indicação por A Chegada?

Amy é uma fofa encantadora e já está no que? Sua quinta indicação? E devia estar na sexta porque o filme é bom e seu trabalho é difícil, numa narrativa que nem todos entendem. Deveria ter substituído, sim, o equívoco que foi a moça de Loving (Ruth Negga, indicada na categoria de Melhor Atriz), um filme errado para uma grande história.

Amy Adams em A Chegada

Reprodução Amy Adams em A Chegada

Devem ter várias outras e outros que mereciam destaque. Vi esta semana a Jessica Chastain, de quem não gosto muito, mas que está excelente e dá show no Armas na Mesa, que tem um tema também muito importante. As moças do Estrelas Além do Tempo são todas ótimas e não apenas uma (Octavia Spencer, como atriz coadjuvante) deveria ter sido indicada ao Oscar, outro erro. Não custava indicar o Tom Hanks, no Sully: O Herói do Rio Hudson, e devo estar esquecendo mais gente. Gostaria porém de ressaltar o filme do Brad Pitt (produção executiva), Moonlight, que é provavelmente o melhor da seleção. E tem até canção (ao menos um trecho) com Caetano Veloso. O elenco é incrível, por sinal, tanto os garotos, quanto a excepcional (e que só estamos dando valor agora) Naomi Harris, que faz a série James Bond, e não tinha imaginado que era tão incrível. Para ver como se erra e fazemos injustiças (risos).

Às vezes as traduções dos nomes dos filmes deixam a desejar, como Estrelas Além do Tempo, que você não gostou. Que nome você daria para este filme e você trocaria outras traduções entre os indicados? Quais?

Olha, você tem toda razão, e a resposta é simples. Todas as traduções são no mínimo ridículas ou desnecessárias, que seria o caso do Moonlight: Sob a Luz da Lua (risos). Estou escrevendo sobre isso e chocado com a incompetência de pessoas que ganham para isso, criar títulos que sejam atraentes e funcionais. Vocês procurem ver os títulos de antigamente. As distribuidoras faziam títulos incríveis, que ficaram até hoje, como An Affair to Remember (Tarde Demais Para Esquecer), Love is a Many Splendores Thing, que virou Suplício de Uma Saudade, ou mesmo A Noviça Rebelde, melhor do que O Som da Música (nota: o título do filme em inglês é The Sound of Music). Enfim, bota essa gente fazendo pesquisa e cursinho para aprender o básico!! (risos)

Qual filme você não achava que ia chegar lá, mas te surpreendeu com a indicação?

Mencionei vários em outros lugares. Para mim falta Elle, filme francês que marca o retorno do diretor Paul Verhoeven. Deixe-me, mesmo fora de lugar, falar do La La Land… Acho que vai ganhar porque Los Angeles não tem um filme que a homenageia, é meio órfã (risos). E vocês viram como deram o Oscar de Melhor Filme para um filme médio mostrando bem a cidade, Crash: No Limite. Lembrava que tinha isso? 2004! Pois é, agora conseguiram fazer um filme romântico e bonito, com imperfeições também, mas me emocionou. Entenda que eu passei minha vida inteira, não apenas profissional, elogiando musical, o gênero que sempre foi perseguido. Também sempre adorei os franceses de Jacques Demy, ou seja, tenho que ser coerente e defender La La Land. Embora prefira Moonlight! (risos).

Aquarius e Sonia Braga mereciam a indicação? E se estivessem lá, seriam grandes favoritos?

Não acho que seriam favoritos, mas teriam mais chances do que o filme básico e infantil que foi indicado oficialmente (risos). Nem vou mencionar o nome (risos). Ok, pequeno segredo (risos). Aquarius foi o melhor filme do ano, como todo mundo percebeu e votou. O governo errou em querer castigar o diretor ao não nomeá-lo. Devia ter feito exatamente o oposto. Como demonstra que estão perdidos e durante anos terão que pagar por essa bobagem que, claro, vai virar um clássico da nossa cultura. Ah, adoro Sônia, é amiga querida, e este é seu melhor trabalho nos últimos anos. Tomara que a ajude a encontrar papéis desse quilate!

Sônia Braga em Aquarius

Reprodução Sônia Braga em Aquarius

Se pudesse escolher um filme brasileiro de qualquer época para concorrer, qual seria?

É muito difícil encontrar filmes brasileiros que não são produzidos com essa proposta. Veja este ano, até Almodovar, que é uma figura genial, fez um filme inferior. Aliás, não vejo nenhuma grande obra entre os cinco finalistas. E o alemão então… Acho uma besteira e outro equívoco (risos). Toni Erdmann (filme alemão indicado ao Oscar de Melhor Estrangeiro). Enfim, foi um ano fraco para o cinema mundial. Eu admiro poucos novos, mas uma das exceções é É Apenas O Fim do Mundo, do ótimo Xavier Dolan.

Às vezes temos mudanças de regras, como o número de indicados a melhor filme, que antes eram apenas cinco. Você mudaria alguma das regras atuais da premiação?

Essa é uma das coisas que me incomodam. Eles acham que o público é bobo? Se variam o número de indicados a cada ano, a lógica do raciocínio humano é que se este ano tivemos nove e não dez, é sinal de que foi um ano mais fraco. Evidente. E o pior é que é verdade (risos). Ou equivocado, que dá na mesma. Todos os anos erros se cometem e tentam corrigir com prêmios especiais, mas às vezes é tarde demais e no passado, há casos mais sérios, como o de Stanley Kubrick (nota: o diretor nunca ganhou um Oscar de melhor diretor). Errar é humano, persistir… Não é isso o que dizem? (risos) Toda premiação, toda ação humana é sujeita a erros, perversões, equívocos e, afinal, não é isso que a gente vê todo dia nos governos do mundo? Veja Trump, para não falar dos nossos…

Você disse que sempre anotou os filmes que você viu durante a sua vida inteira em um caderninho. Você continua fazendo isso? Ou já se rendeu às novas tecnologias?

O que significa novas tecnologias? Se uso computador? (risos) Claro, há décadas (risos) Se faço streaming? Evidente que não dá para se viver sem… Temos que ser pessoas do nosso tempo. Estou entrando nos 38 mil. E sem colocar séries de TV, que acabei achando difícil demais de classificar (risos), mas estou assistindo a elas mais do que nunca, aliás, como todo mundo. Acho que superam muitos filmes, aliás. Nas outras premiações, cheguei a ver pelo menos três episódios de todas séries indicadas. E as melhores vi inteiras. O pior é que você sabe elas viciam (risos). E lá vou eu dormir tarde (risos) para acordar cedo (risos), mas em geral vale a pena…

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O filme foi apresentado no Festival de Cannes de 1976 e o público presente ficou bastante chocado. Todas as cenas de sexo do filme são reais e explícitas. A história é baseada na vida da cortesã Sada Abe, conhecida por asfixiar seu amante e cortar os genitais dele. O filme ainda está censurado no Japão
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“Toda premiação é sujeita a erros”: um bate-papo com Rubens Ewald Filho sobre o Oscar